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Opinião
29 de Janeiro de 2008 às 13:59

Um adágio

Não faço ideia de a quem exactamente se dirige nem do quanto tem ou deixa de ter base a denúncia do bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho Pinto, de que há corruptos a ocupar cargos relevantes no Estado português. Sei, isso sim, que não é a de

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Não quero com isto dizer que Marinho Pinto tem ou que deixe de ter razão. Digo apenas que ele encarnou o senso comum – o mais leviano de todos os sensos.

Diz o adágio que “a voz do povo é a voz de Deus”. Claro. O que esperar de um adágio – expressão condensada do senso comum – se não o elogio do senso comum? Mas, ainda mais do que elogiar o senso comum, o adágio “a voz do povo é a voz de Deus” – expressão condensada do que o senso comum pensa de si mesmo – afirma uma verdade intrínseca no que quer que confirme ou repita o senso comum. É típico do senso comum: que não se lhe exija argumentos, demonstrações ou provas – é como se a sua verdade fosse atávica, natural ou simplesmente divina.

Ao dar voz ao senso comum, o bastonário da Ordem dos Advogados pareceu acreditar nessa verdade divina de que fala o adágio – dispensada de argumentos, demonstrações ou provas. Não digo que as não tenha, digo, isso sim, que não se obrigou a apresentá-las. Abrem-se aqui duas hipóteses: ou tem ou não tem provas ou indícios (e nisso não se inclui o “ouvi-dizer”) do que denunciou. Se tem, referem-se, com certeza, a casos específicos e, nesse caso, foi leviano por ter, baseado em provas específicas de casos específicos de corrupção na alta hierarquia do Estado português, lançado uma suspeita generalizada. Se não tem, ... se não tem devia ficar calado. Ele e todos os repetidores das asneiras do senso comum.

Uma coisa (chata, desagradável, enfadonha...) é aturar a ladaínha quotidiana do “são todos uns corruptos, uma cambada, uma quadrilha...”. Outra (grave, gravíssima), é ouvir o bastonário da Ordem dos advogados dar voz a essa ladaínha – grave se for mera repetição do senso comum; gravíssima se for verdade.

PS: Tenho a convicção profunda de que essa gente que toma o passeio público como estacionamento privado é basicamente a mesma que repete a ladaínha do “são todos uns corruptos, uma cambada, uma quadrilha...”.

PPS: Ontem contei: eram 18 (dezoito) os carros estacionados no ex-largo da Igreja de Oeiras (”ex” porque agora cortado por uma estrada desenhada – e só desenhada, sem nenhum desnível em relação ao que foi o largo, de maneira que um peão cego nunca saberá se está dentro ou fora da estrada; “ex” porque, como qualquer passeio público deste conselho, o largo da Igreja foi tornado estacionamento municipal gratuito).

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