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Transformação Digital de Talentos Analógicos

Para onde quer que vá, oiço um grito crescente: Transformação Digital! Como se essa fosse simultaneamente a maior oportunidade e ameaça de qualquer organização no nosso planeta. Mas será que é mesmo assim?

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Sem dúvida que as tecnologias digitais estão a mudar o mundo, que os dados e o seu tratamento inteligente são uma nova de vantagem competitiva, mas será que estamos verdadeiramente preparados para liderar num mercado cada vez mais digital?

Quando procuramos exemplos a seguir olhamos para a Europa e para os EUA, mas será que algo nos está a escapar?

Acredito plenamente que as organizações, grandes e pequenas e mesmo os profissionais que não se adaptarem ao novo ambiente digital terão o mesmo destino dos dinossauros.

E se queremos seguir um exemplo de transformação digital transversal a toda uma sociedade, temos que olhar para a China, que devido a intensa e imensa criação de dados caminha a passos largos para ser uma superpotência no campo da inteligência artificial, relegando tanto os EUA como a Europa para segundo plano, entretidos a criar legislação muito protetora dos consumidores, no curto prazo.

Numa qualquer rua na China, o músico e o vendedor de comida aceitam mais Ali Pay ou WeChat Pay, do que dinheiro, criando um oceano de dados. O que fazemos em Portugal? Criamos um meio de pagamento similar, MB Way, que a banca está pronta a matar, para ganhar migalhas nas transações, porque não têm a visão do oceano a explorar.

Mas isto não é apenas um problema de visão das grandes empresas, é transversal a todas as organizações independentemente da sua dimensão ou missão.

Se queremos ser sérios sobre a transformação digital temos que atuar urgentemente em duas vertentes essenciais: Ensino e organização do trabalho.

No ensino, não basta passar cheques para novas instalações e equipamentos ultramodernos, temos que integrar as tecnologias digitais nas metodologias de ensino, abandonando velhos modelos, criando ambientes que incentivem a criatividade, o pensamento crítico, a autodisciplina, a capacidade de comunicação multimeios e autonomia. Com a nuvem de informação que paira sobre todos nós à distância de um clique é ainda mais absurda a associação de memorização a conhecimento.

Na organização do trabalho, há que enfrentar algumas verdades inconvenientes. A figura do escritório, mais antiquado ou mais moderno, já não gera acréscimos de produtividade. Um exemplo interessante é o caso do formato open space que é vendido como uma forma de promover organizações horizontais em que a comunicação entre colaboradores é fluida.

Quantos escritórios supermodernos conhecemos em que as pessoas colocam à entrada auscultadores como forma de se isolarem umas das outras, pois essa é a única maneira de serem minimamente produtivas nesses ambientes.

Temos que ter mais trabalho colaborativo, opções de trabalho remoto, co-working, de maneira criar ambientes em que o talento floresça e seja recompensado. E tudo isto não depende da tecnologia, depende de uma mudança de mentalidade de gestores e colaboradores, focada em redesenhar processos e mesmo negócios, aproveitando as oportunidades criadas pelas tecnologias digitais, que existem para tanto organizações como para indivíduos, pois vivemos num tempo que qualquer um de nós pode inventar o futuro.

Coordenador da Pós-Graduação em Marketing Digital do IPAM



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