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09 de Novembro de 2010 às 10:19

Será o crescimento económico bom para os retornos dos mercados accionistas?

Será o crescimento económico bom para os mercados accionistas?

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O crescimento económico não é seguramente mau para as acções, mas os investidores deverão mostrar-se prudentes e evitar procurar às cegas o maior crescimento económico para obterem os maiores retornos do investimento.

Um estudo efectuado por Elroy Dimson, Paul Marsh and Mike Staunton da London Business School publicado no início deste ano sugere que aqueles que acham que o bom desempenho dos mercados accionistas está associado a um PIB elevado estão profundamente enganados. Ao analisarem mais de um século de dados de 83 países, verificaram que não existe correlação entre a taxa de crescimento económico e os retornos dos mercados accionistas.

Através de uma simples ilustração, os autores do relatório mostram que entre 1985 e o final do ano passado, a economia da China cresceu a uma taxa de 9,9% ao ano, enquanto o mercado accionista gerou um retorno de apenas 2,6%. Em contraste, no Reino Unido, a produção registou um crescimento de 2,4%, enquanto o mercado accionista gerou um retorno mais atractivo de 6,7%.

Quais são as razões para a divergência entre a economia de um país e o seu mercado accionista, e o que é que significa para os investidores?

No longo prazo, o maior "driver" do desempenho de um título é o lucro que ele gera; à excepção das regras fiscais locais, não há muita influência que o país no qual a empresa está sedeada possa exercer sobre os lucros. Por outras palavras; um mercado accionista é um mercado de acções e não um indicador económico.

Em termos de investimento, alguém ignoraria uma empresa como a Nestlé por ter dúvidas acerca da economia suíça? Seria pouco sensato fazê-lo, uma vez que a maioria dos seus lucros são gerados no estrangeiro e, cada vez mais, nos países emergentes em rápido crescimento que são grandes apreciadores de chocolate. As cotações por conveniência também levaram a que as bolsas tomassem um rumo diferente dos países onde se situam; o facto de a Bolsa de Londres ser dominada por diversos pesos pesados do sector dos recursos não tem nada a ver com a economia britânica mas tem muito a ver com o prestígio e a conveniência de estar cotado em Londres.

Daí que parte da força dos mercados desenvolvidos, pelos menos nos últimos anos, seja mais atribuível ao crescimento estrangeiro do que à força da economia doméstica.

Porque será então que os mercados em desenvolvimento são aparentemente tão fracos em comparação com as suas economias? Existem diversos factores. Em primeiro lugar, nem todos os contributos para a economia de um país estão cotados em bolsa. Os países do Médio Oriente, ricos em petróleo, desfrutaram de uma expansão económica alimentada pelo 'ouro negro', mas os mercados accionistas da região pouco viram do lucro, que permanece sob o controlo das famílias que detêm o poder na região.

Na China, é possível que um governo das sociedades (corporate governance) pouco ortodoxo seja também responsável por esta situação. Muitos bancos do país, apesar de serem cotados, permanecem sob o controlo do estado. Assim, muitas decisões relativas à concessão de crédito baseiam-se na necessidade de suportar o crescimento económico e não nos motivos puramente comerciais que ditam o comportamento dos bancos noutros países. Embora o crescimento sustentado e a resiliência da China ao longo da crise financeira sejam uma prova do êxito desta política, os accionistas dos bancos podem ser de outra opinião.

E, voltando ao exemplo antes referido da Nestlé, é importante recordar que a globalização é uma via com dois sentidos. Mais de 95% dos lucros do gigante indiano de software Infosys são gerados no estrangeiro. O fabricante de computadores chinês Lenovo, que em 2005 adquiriu a divisão de computadores pessoais da IBM, também é fortemente dependente do comércio com o ocidente. Ambas estas empresas foram afectadas quando as empresas ocidentais decidiram manter o mesmo equipamento e adiar a actualização das tecnologias de informação durante o período de recessão. Estas empresas são verdadeiros pesos pesados nos seus mercados locais, mas (pelo menos por agora) têm um volume de negócios relativamente pequeno no seu mercado local.

Para os investidores, este ponto tem profundas implicações. De facto, o crescimento económico deve entusiasmar-nos, mas este entusiasmo deve ser cuidadosamente canalizado. Os investimentos são efectuados em acções, não em economias e, como o gráfico mostra, metade do retorno de uma acção tem sido sistematicamente atribuível a factores específicos das empresas e não do sector ou de um país. O essencial é aquilo em que se investe e não onde se investe. Isto não significa que a alocação de activos não tem sentido, mas apenas que existe uma dimensão para além das simples decisões top-down.

Os activos inundaram os mercados emergentes desde que as economias desenvolvidas bateram no fundo em 2008. Para os investidores apanhados neste entusiasmo, ou que estão a pensar investir, o perigo está em que, se não forem selectivos nos seus investimentos, poderão não aproveitar inteiramente a onda.

Elroy Dimson e os seus colegas concluem que saber o que vai acontecer numa economia é melhor do que ir atrás do que se está efectivamente a passar. Mas eles têm a vantagem de poder olhar para trás. Para os investidores em tempo real, é talvez melhor lembrarem-se da importância que tem o preço que se paga por um activo; e de que o crescimento económico é sempre bom para as acções, mas não necessariamente onde se espera.


Comentador de investimentos, Fidelety Investment Managers



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