Reflecti durante um minuto (de silêncio) por uma questão de princípio - acho um exagero haver um dia dedicado à reflexão quando estamos em crise. Se as eleições fossem para as legislativas do Tibete, a reflexão fazia sentido porque é disso que eles vivem (e é o que os turistas gostam de ver). A reflexão permite fazer uma ponte mental e o País não está em posição de se dar a esses luxos. É sabido - em sítios que contêm pessoas que sabem - que a produtividade de um operário baixa consideravelmente se estiver a reflectir enquanto desempenha a sua função - e normalmente acaba em greve. E acho que é pedir demasiado ao eleitor. Já não basta o eleitor ter de ir votar ao domingo, ainda tem que reflectir ao sábado! Por menos, houve católicos que desistiram da Páscoa. E é um abuso - o eleitor ou reflecte ou vai votar. As duas coisas juntas é que não pode ser. É excessivo e não combinam.

O que os eleitores precisam não é de um dia de reflexão. O que os eleitores precisam é de um dia de motivação. Exemplo - um Piquenicão Legislativas 2010 sem partidos e com o Tony Carreira. Eu preciso disso. Só consegui ir buscar forças para votar nas últimas europeias porque era a oportunidade de votar para mandar pessoas para fora do País. Nas legislativas de 2009 até estava relativamente motivado porque ia experimentar o meu novo cartão de cidadão com "chip" de eleitor… Nestas eleições, estou como Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva: só consigo tirar algum gozo delas porque sou vingativo. Mas pouco. Tem a ver com o momento.

Gostava de poder votar útil sem me sentir inútil. Gostava de poder votar numa maioria, como a maioria, mas a maioria aponta para a impossibilidade dessa maioria. E todas as alternativas parecem ser demasiado alternativas - PSD/PP; PS/PP/PSD; PSD/PS; PS/PSD; ACP/PSD; PCP/BE/CHAPITÔ. Por tudo isto, sinto-me incomodado que a troika já saiba em quem vai votar e eu ainda não me tenha decido. Realmente, aquilo é gente que resolve e conclui depressa.

Reflecti bastante antes de começar a escrever esta crónica sobre reflexão e ainda continuo a reflectir enquanto a termino; mas já é tarde de mais. Pode ter ficado a soar a incentivo à abstenção, e eu não posso incentivar porque isso altera a minha categoria de IRS.

Portanto, se no domingo houver muita abstenção é parvoíce vossa. Não votar é perder a emoção de uma noite de eleições. É não poder festejar. É não viver a emoção da noite eleitoral - ainda que essa emoção tenha a ver com o Voto Nulo ter chegado aos sete deputados ou a eleição de Garcia Pereira estar a pagar 2.083.400 para 1 na Betwin.



Últimas antes da reflexão
1. Sócrates no último comício disse : "Pov…cof…os sab…arg" - agora que Sócrates está a ficar sem voz é que isto vai acabar, não é justo.
2. O Tribunal sérvio decidiu enviar o criminoso de guerra, o general Ratko Mladic, para Haia, onde será julgado. O advogado do general sérvio alega que o acusado tem uma saúde muito débil e não aguenta um julgamento. Sou sensível ao argumento da defesa. O melhor é fazer como o Mladic fazia e saltar logo para o fuzilamento.
3. Balsemão disse que Sócrates está queimado - com ele e com o resto da malta do Museu do Cairo.
4. Marcelo Rebelo de Sousa enumerou sete pontos em que espera que o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, faça a diferença. Hum... não sei se compensam as centenas de reticências que tinha arrolado até agora.
5. No jornal "Expresso", Sousa Tavares, recomenda aos acampados no Rossio: sabão azul e branco e água no corpo todo. Sabão azul e branco, no século XXI?! Está visto que, para o Sousa Tavares, o gel de banho e o sabonete perfumado são o Facebook e o twitter dos produtos higiénicos. Para o Miguel, o mundo caminha para a perdição desde que inventaram o shampoo 3 em 1.