Opinião
Reconversões sectoriais
Exige-se assim que sejam identificados, à semelhança do que já acontece noutros países parceiros da UE, um conjunto de sectores estratégicos que, pela sua especificidade, resistam à concorrência internacional e que permitam criar capacidades de produção n
Numa altura em que para Portugal o investimento e a exportação devem ser verdadeiramente encorajados o governo, desde que tomou posse, adoptou um conjunto medidas que, se aplicadas numa lógica de acção integrada, podem gerar resultados positivos. Entre outras, e a par da aprovação do regresso aos incentivos fiscais em I&D, da promoção do Programa Inov Contacto e da recente aprovação do Plano Tecnológico, apresentou, em Junho passado, o Programa de Investimentos em Infra-estruturas Prioritárias (PIIP).
Ora é a propósito do PIIP, programa plurianual que distribui o investimento por três grandes áreas – a área do ambiente, da energia, dos transportes, cultura e apoio social; a área do conhecimento, sistemas de informação e formação; e, por fim, a valorização do território, política de cidades, património natural e turismo – que gostaria de chamar a atenção para a necessidade de reconversão sectorial em Portugal.
Preconizando que a aposta central no que se refere ao investimento deve dirigir-se a sectores de futuro, prioritariamente relacionados com a sociedade do conhecimento e da informação, julgo que é fundamental promover a reconversão sectorial, em particular em três sectores de actividade.
Em primeiro, o sector agrícola. Embora globalmente subaproveitado é um sector que não deve ser esquecido em Portugal. O país tem enormes potencialidades naturais (climáticas e de solo) para produzir produtos agrícolas de excelente qualidade. Para além disso, pode reconverter, pelo menos parcialmente, o sector para novas apostas. Por exemplo, em 2004, o país tinha 200 mil hectares de culturas que seguiam o sistema integrado. Esta produção integrada – para além de permitir o cultivo de uma área mais ampla que a agricultura biológica – visa obter produtos de qualidade utilizando recursos naturais e permite a redução de custos de produção por hectare. Paralelamente parece-me importante continuar a apostar na viticultura de qualidade, subsector que associa, de forma única, as condições climáticas às características do solo (não será por acaso que a primeira região demarcada do mundo o foi em Portugal, há uns séculos atrás pela mão do Marquês de Pombal).
Depois, o sector do turismo. Se, como foi referido aquando da sua apresentação pública, o PIIP tem uma grande margem de flexibilidade para acomodar projectos, seria importante reforçar a «fatia» destinada ao turismo. O seu potencial em Portugal está por explorar. Por exemplo, o turismo de lazer está manifestamente subaproveitado. Acresce que, num momento em que assistimos ao envelhecimento progressivo da população europeia, também a temática do turismo sénior aumenta de pertinência. E locais especialmente concebidos e desenvolvidos para os mais idosos – como termas ou até mesmo parques temáticos que suscitem o interesse destes e ofereçam uma ampla variedade de serviços – estão ainda por criar em Portugal.
Por fim cabe uma palavra a um sector que tem larga tradição nacional de produção: o têxtil. As exportações neste sector representam cerca de 16% das exportações nacionais mas este é um sector que tem vindo a sofrer nas últimas duas décadas enormes perdas de competitividade e mercado. Se, em particular no que respeita aos têxteis-lar, Portugal é o terceiro maior exportador mundial e o primeiro europeu, tendo as exportações na última década crescido mais de 50%, por outro lado trata-se de um sector que inevitavelmente estará sujeito a uma acérrima concorrência internacional. Ora, perante o espectro do desemprego massivo, a questão que se coloca quando se receia o perigo da não reabsorção de milhares de trabalhadores desempregados é a de reflectir sobre quais as medidas concretas a adoptar. Inovar no sector ou, de forma diferente, diversificar e reconverter a actividade económica, reconduzindo os trabalhadores para outros sectores com um potencial mais competitivo no futuro é o dilema actual a que os empresários precisam responder. Considerando o perfil pessoal e de competências destes trabalhadores, a aposta em sectores económicos alternativos ao têxtil, como por exemplo o turismo, permitiria reabsorver a mão-de-obra disponível, através de adequadas acções de formação profissional ministradas numa óptica de reconversão profissional.
Sabe-se que, perante a actual competitividade internacional, nem mesmo um sector como o turismo – tradicionalmente associado às condições naturais e/ou paisagísticas de cada país – se subtrai à concorrência internacional. Na Europa este sector emprega actualmente cerca de 7 milhões de pessoas, mas os países asiáticos estão a tornar-se, também no turismo, fortes concorrentes da UE: segundo um estudo recentemente publicitado pela Comissão Europeia prevê-se que, até 2020, o número de turistas nestes países duplique. Não obstante, para Portugal o reforço nas actividades ligadas ao turismo será, a médio prazo, uma excelente aposta. Mas para que isso aconteça será preciso que, também no sector do turismo, se inove e se planeie a forma futura de actuar no mercado e que, através de políticas regionais adequadas aos diferentes mercados/clientes, se implementem parcerias empresariais que permitam assegurar a sustentabilidade social.
Na actual conjuntura internacional as empresas competitivas serão aquelas que melhor controlarem as tendências do mercado. Exige-se assim que sejam identificados, à semelhança do que já acontece noutros países parceiros da UE, um conjunto de sectores estratégicos que, pela sua especificidade, resistam à concorrência internacional e que permitam criar capacidades de produção novas – através da valorização da diferença na oferta de bens ou serviços – garantindo emprego e gerando riqueza para o país.