John Mauldin tem a seu favor desde logo um facto importante: "time to market". Escreveu o livro no final de 2010, quando a Grécia estava a ferro e fogo. Publicou-o em Fevereiro, com Portugal a juntar-se a gregos e irlandeses como nações resgatadas. Distribuiu-o durante 2011, onde países como a Bélgica, Itália, Estados Unidos e Espanha tremeram. E a procissão ainda parece ir no adro.

O livro "Endgame" tem como elemento fundamental do seu conteúdo uma descrição explicativa e contextualizador a da crise da dívida: como surgiu, como evoluiu e até onde chegamos, projectando numa segunda fase os potenciais impactos sobre o futuro próximo, aos mais variados níveis.

Os autores postulam que as últimas seis décadas foram construídas sob um modelo de permanente alavancagem financeira com um crescimento insustentável da dívida, ampliado pelas reduções das taxas de juro em consequência de crises, como em 2008. O superciclo da dívida, como aqui é designado, acabou por criar a falência de parte do sistema financeiro, que por sua vez criou um novo movimento: o da tentativa de salvação da banca por parte de Governos e Estados. Ou, dito de uma outra forma, a passagem de divida privada para pública. Mauldin & Tepper explicam como a divida soberana surgiu quando as instituições públicas deram garantias de algo que não podiam garantir, ainda a pensar na lógica anterior.

Embora os autores saiam do registo anterior para comentar o que mudou e o que podemos esperar desta nova realidade, a verdade é que a primeira parte acaba por ser a principal deste livro. "Endgame" acaba por ser muito mais um livro que nos ajuda a compreender onde chegamos do que uma obra que arrisca dizer-nos para onde vamos nestas novas águas onde flutuamos. Ainda assim, torna-se um elemento muito interessante e cheio de valor, desde que consumido nos próximos tempos.















*Docente do IPAM
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