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Quotas femininas? Antes tarde do que nunca

Como se não bastassem os muitos males que por estes dias afectam a nossa auto-estima colectiva, esta semana fomos recordados de que, nas cotadas portuguesas, por cada 100 administradores homens há apenas seis que são mulheres.

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Como se não bastassem os muitos males que por estes dias afectam a nossa auto-estima colectiva, esta semana fomos recordados de que, nas cotadas portuguesas, por cada 100 administradores homens há apenas seis que são mulheres. Bem sei que as questões de civilização não costumam despertar as mesmas preocupações alarmadas que os problemas financeiros mas, convenhamos, 6 para 100 é um rácio vexatório, independentemente da forma como se leiam os números.

Se considerarmos, em linha com o impoluto discurso meritocrático, que os números reflectem as escolhas livres, informadas e racionais dos accionistas, não deixaria de ser embaraçoso assumir que em Portugal por cada 100 homens inteligentes e dotados para a gestão só há seis mulheres que se lhes equiparam – seria embaraçoso e, já agora, um apaixonante caso de estudo para antropólogos, sociólogos e neurocientistas. Já se considerarmos que este rácio é reflexo de distorções no acesso a cargos de poder na esfera política e financeira, impróprias de um Estado que aspira a padrões de modernidade, é vexatório porque significa que simplesmente andamos a assobiar para o ar.

Chegados a esta fase, temos a obrigação de responder à pergunta: se as quotas ou outro sistema de discriminação positiva não são a solução para resolver o problema da crónica sub-representação das mulheres, qual é a alternativa? Pelo estado da arte, torna-se evidente que esperar que as relações de poder se equilibrem por si, com o passar do tempo e a lenta mudança de mentalidades, é uma profissão de fé tão pueril e aleatória quanto a esperança da ministra da Agricultura nuns providenciais pingos de chuva. A auto-regulação, deixando a cada empresa a decisão de introduzir mecanismos de correcção, é coisa que funciona bem em sociedades disciplinadas como as nórdicas, mas que por cá não parece colher adeptos.

Por isso, escolhamos. Devemos aceitar que Portugal continue a ser um país onde o poder tem um rótulo marcadamente masculino, onde amiúde as mulheres que chegam a lugares-chave da vida económico-financeira são arrumadas na categoria de herdeiras, na gaveta das que usam calças, ou na secção das dotadas de poderes de persuasão extracurriculares, ou devemos admitir que são necessárias políticas públicas que forcem uma mudança de práticas?

Viviane Reding, a comissária europeia para a Justiça, colocou esta semana a questão nos seus devidos termos: "Não sou uma fanática das quotas femininas, mas gosto do resultado que elas proporcionam." É uma perspectiva honesta, que, não deixando de reconhecer as limitações da solução proposta, prefere a acção ao imobilismo.

Perante um eloquente 6 - 100, os discursos dos que fazem exaltações puristas da liberdade de escolha e da concorrência só servem para perpetuar a discriminação e a desigualdade. Não é a admissão de quotas que é terceiro-mundista; a sub-representação crónica das mulheres é que é um sinal envergonhante do nosso atraso.


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