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Quem matou Bambi?

Portugal é, neste momento, um inocente Bambi perdido num território de caça grossa. Está desarmado contra atiradores furtivos. E os seus dirigentes, entre iludirem o óbvio e pedirem clemência aos céus, continuam a gerir o País como se nada pudesse ser...

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Portugal é, neste momento, um inocente Bambi perdido num território de caça grossa. Está desarmado contra atiradores furtivos. E os seus dirigentes, entre iludirem o óbvio e pedirem clemência aos céus, continuam a gerir o País como se nada pudesse ser feito. Os olhos enternecedores de Bambi não o salvarão num mundo que busca alvos para adormecer os seus pecados. Na sua autofagia, o sistema nascido da revolução financeira dos anos 80 que liquidou a indústria tradicional europeia, procura um novo paradigma para o futuro. E ele está a despontar noutros territórios.

Esta desorientação exige vítimas, chamem-se Goldman Sachs ou Portugal, mas a atenção está virada para outro lado. A versão americana do capitalismo está em forte convulsão e um novo modelo, onde o Estado é determinante, desenvolve-se na China, na Índia ou mesmo no Brasil. Será esse o paradigma que se busca? Os políticos portugueses, claro, são incapazes de discutir um modelo de futuro para o País, quando mais pensarem sobre isso. Mas deveriam. Num dos livros determinantes do século XX, "Berlim Alexanderplatz" de Alfred Doblin, Franz Biberkopf sai da prisão e sofre um choque: a Alemanha, ainda a pagar as dívidas da I Guerra Mundial, tenta sobreviver no meio da corrupção política e da recessão económica e começa a colocar-se nos braços de quem promete segurança, Hitler. Biberkopf sente que ficará mais seguro se regressar à prisão.

O Rossio ainda não é a Alexanderplatz, mas o resto do cenário está montado. Então perguntar-se-á: quem matou Bambi?





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