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Que se aprenda com os erros

Um dia, um dos meus melhores amigos disse-me algo que ainda hoje guardo como uma das máximas da minha vida: "é de inteligente aprender com os nossos erros, e é de sábio aprender com os erros dos outros". À luz dessa verdade, observo o que se passa no mundo da gestão empresarial e na mudança de paradigma a que actualmente assistimos nas organizações que se procuram adaptar aos novos tempos do "pós-crise".

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Um dia, um dos meus melhores amigos disse-me algo que ainda hoje guardo como uma das máximas da minha vida: "é de inteligente aprender com os nossos erros, e é de sábio aprender com os erros dos outros". À luz dessa verdade, observo o que se passa no mundo da gestão empresarial e na mudança de paradigma a que actualmente assistimos nas organizações que se procuram adaptar aos novos tempos do "pós-crise".

Não sabendo exactamente quanto tempo mais durará esta recessão, as mais recentes euforias da recuperação do PIB, quando analisado em cadeia trimestral, deixam-me preocupado, uma vez que é consensual o facto de haver um enorme conjunto de aspectos que, na nossa economia, mantém evidente a ausência de importantes adaptações estruturais.

No cerne das alterações de base nas nossas empresas está o tema da ética empresarial e da responsabilidade social. É que, muitos dos nossos empresários ainda confundem estes tópicos, até de forma redutora, pensando que se trata de algo complementar à actividade da empresa, visando apenas o apoio a um conjunto de acções que deixam bem a organização na fotografia.

Trata-se de um raciocínio curto. Quantos empresários interiorizam que a primeira responsabilidade social da sua empresa é atingir resultados líquidos positivos? E quantos assumem que, para a sua organização ser sustentável no longo prazo, a primeira preocupação da sua gestão é gerir eficaz e eficientemente os seus recursos escassos, incluindo o capital próprio e o capital alheio, em benefício da própria empresa e, logo, dos seus "stakeholders"?

São questões aparentemente simples de gerar consenso mas, casos houve que, na última década, evidenciaram uma profunda e angustiante falta de resposta. Sobretudo, quando às fraquezas no cumprimento de regras de ética empresarial, se juntaram problemas de "agenciamento" da gestão. Não é preciso dar muitos exemplos para nos recordarmos dos mais recentes problemas reportados de ausência de transparência no governo das sociedades e das suas consequências. O afastamento entre os gestores executivos e os detentores do capital, muitas vezes pela confiança depositada, vieram demonstrar que a ausência de sistemas de controlo interno e, de uma eficaz supervisão, podem contribuir decisivamente para que uma organização não cumpra os mais elementares postulados de responsabilidade social para com os seus trabalhadores, e para com os seus accionistas, respectivamente detentores dos factores de produção.

Após a reunião do G20, ocorrida a propósito da necessidade de concertar medidas de âmbito global, conducentes a um eficaz combate à crise, um conjunto de iniciativas têm vindo a ser tomadas no âmbito da Comissão Europeia. As que produzirão maior impacto na adequação estrutural da gestão das empresas centram-se em três aspectos: modelo de governação das sociedades, políticas de remuneração, e sustentabilidade. Os três temas estão intimamente interligados e, dos mesmos, dependerá a saúde das empresas no futuro.

O primeiro - modelo de governação das sociedades - segue o princípio da necessidades de haver mecanismos internos às organizações que permitam uma adequada participação dos "stakeholders" na definição dos objectivos e da estratégia, de forma activa e exigente, procurando aproximar os gestores ("agenciados" e, portanto, a quem se confiam os desígnios das empresas) aos interesses dos seus mais directos interessados. A este propósito, as entidades de supervisão têm vindo a trabalhar no sentido de produzir recomendações e legislação que adeqúem o governo das sociedades às exigências do mercado.

O segundo - políticas de remuneração - passa por orientações de bom senso: a remuneração dos gestores deverá adequar-se, não apenas aos resultados do exercício mas, acima de tudo à capacidade da organização gerar resultados a prazo.

O terceiro - sustentabilidade - abrange um conjunto de preocupações ao nível das práticas de gestão, nomeadamente no escrutínio de decisões e de medidas tomadas com impacto no longo prazo.Aparentemente, os mecanismos enunciados deixam-nos na expectativa de que não mais se repetirão alguns dos erros mais graves do passado recente.

Assim as entidades públicas e a consciência política não se deixem tentar pela recuperação da economia e que a aproveitem para fazer o que está por fazer. Assim a inteligência colectiva aprenda com os erros do passado recente. Director de Planeamento do Montepio e docente do curso de PG em Marketing & Banking Social Media do ISGB - Instituto Superior de Gestão Bancária. Coluna à segunda-feira

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