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21 de Fevereiro de 2012 às 23:30

Pronúncia de morte

O 25 de Abril de 1974 foi a nossa verdade colectiva. O caminho percorrido desde então a nossa miserável mentira. Agora que se esfumou o tempo da ilusão, a Nação olha-se ao espelho e não gosta do que vê.

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O 25 de Abril de 1974 foi a nossa verdade colectiva. O caminho percorrido desde então a nossa miserável mentira. Agora que se esfumou o tempo da ilusão, a Nação olha-se ao espelho e não gosta do que vê. Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga. Que fazer? Aperta-se o cinto, emagrece-se as estruturas e centraliza-se a decisão. Em nome da austeridade do momento, da produtividade acrescida e de um futuro que há-de ser risonho. Nada mais errado, tudo menos racional.

Lisboa continua a pensar e a agir como se o resto do País fosse paisagem. E se há algo que anda a moer a alma de quem mora fora da capital é a gradual perda desse activo intangível, mas tão fundamental como o ar que respiramos, que é a liberdade de expressão e a necessidade de se fazer ouvir. Como amplificar a voz do Porto, por exemplo, por forma a fazer eco a 300 km? Houve um tempo em que o Norte tinha no Porto uma base forte na propriedade da opinião publicada. Era aqui que estavam sediados os jornais diários "O Comércio do Porto", "O Primeiro de Janeiro" e o "Jornal de Notícias".

O primeiro, que era o mais antigo diário do País, desapareceu; o segundo não existe; e o "JN", perdida a liderança nacional, transformou-se num meio de combate contra o centralismo de Lisboa. Há ainda o diário desportivo "O Jogo".

Continua-se entretanto a assistir ao esvaziamento das redacções do Porto da comunicação social sediada na capital. No audiovisual, a centralista RTP devolveu a Lisboa todo o poder de decisão sobre o que vai para o ar. Nesta frente, resta o Porto Canal, que partiu agora para um novo ciclo de vida associado ao FC Porto. Já na Rádio, quase todas as estações locais cederam as posições a projectos de âmbito nacional.

Se o problema é a produtividade, atente-se a isto: os trabalhadores da RTP/Porto garantem que o Centro de Produção do Norte, com 15,5% do pessoal da empresa, consegue garantir, na vertente de TV, 60% dos programas em directo, 23% da informação em antena aberta e 50% da emitida no canal do cabo. Já Júlio Magalhães, que dirigia a informação da TVI, garantiu que a produtividade dos jornalistas da Invicta é muito superior à de Lisboa: "10 jornalistas do Porto faziam 20/23 peças enquanto 100 jornalistas em Lisboa não produziam mais de 25."

"O Norte é a nossa verdade", disse um dia Miguel Esteves Cardoso. Se assim é, desistir do Porto, que é a capital natural desta região, é desistir de Portugal.



*Coordenador do Negócios Porto
Visto por dentro é um espaço de opinião de jornalistas do Negócios

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