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Preparar o crescimento futuro

As crises constituem sempre oportunidades para as empresas com uma visão de futuro. Empresas com endividamentos controlados, tecnologias actuais, presença em diferentes mercados, focagem nos negócios onde detêm vantagens competitivas internacionais e uma gestão profissionalizada encontrarão na actual crise económica e financeira grandes oportunidades de crescimento e de obtenção de resultados positivos extraordinários.

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Mas a prioridade para estas empresas não pode ser exclusivamente o aproveitamento das oportunidades que o mercado forçosamente apresentará. Tem de ser também um tempo de inovação radical e de preparação do crescimento futuro com tecnologias disruptivas, (no conceito de Christensen).

Robert Burgelman e Andrew Grove (Chairman da Intel), ambos professores da Universidade de Stanford, publicaram recentemente um artigo muito interessante sobre estratégias de inovação disruptiva fora das áreas de negócio tradicionais das empresas – "The Cross – Boundary Disruptors" que deve constituir um elemento de reflexão importante no actual enquadramento empresarial nacional e internacional.

Neste modelo, de Dinâmica Estratégica Não-Linear, existe um agente de mudança empresarial poderoso cujas acções estratégicas afectam material e significativamente o equilíbrio existente em indústrias adjacentes ou de vizinhança.

Os estudos de caso em que o artigo se suporta são o "i-pod" da Apple – que sai da área tradicional dos equipamentos de informática e as "novas clínicas de saúde" em desenvolvimento no interior dos supermercados Wallmart, com uma referência à possibilidade futura de a GE vir a liderar o negócio das carros eléctricos.

O que esta aproximação tem de novo reside no facto de as empresas conseguirem identificar novas oportunidades de crescimento em áreas adjacentes à sua actividade principal mas em relação às quais as suas competências distintivas actuais, provenientes dessa actividade, sejam cruciais para o sucesso nas novas aventuras empresariais.

No primeiro caso foi crucial para o sucesso do "i-pod" o profundo conhecimento em tecnologias de informação e de media da Apple, e no segundo a competência da Wallmart nas áreas de marketing, distribuição, logística e relação com os clientes.

Algumas empresas portuguesas estão, com tranquilidade, a concentrarem-se nos seus negócios e a desenvolverem processos inovadores para os mesmos, mas estão pouco atentas ao que se passa em áreas de fronteira onde as suas competências distintivas podem ser utilizadas com grande valia, não só para a criação de valor actual, mas, sobretudo, para preparar o crescimento futuro, num fenómeno que Burgelman e Grove classificam como o "XBD Paradox".

Os tempos de crise devem ser tempos de paragem e de reflexão. Os líderes empresariais têm de ser capazes de respirar e transmitir tranquilidade em relação ao momento presente e, simultaneamente, exercerem uma grande pressão sobre a necessidade de se preservar e ampliar a visão futura das organizações.

Aliás, a intranquilidade, conjugada com uma obsessão injustificada pelo controlo dos custos, promove a evolução da organização para a zona de decréscimo de performance em função da ansiedade, referida por O’Shaughnessy, para além de impedir processos de inovação e de redesenho dos negócios.

Neste contexto, os movimentos de aproximação entre as Universidades, Institutos de investigação e Empresas tecnologicamente sadias e competitivas, e o seu agrupamento em "clusters tecnológicos", com uma aproximação regional mas com uma vocação internacional, são uma boa notícia.

Se mantivermos a serenidade e ampliarmos as nossas vantagens competitivas através da inovação, sairemos desta crise com o nosso tecido empresarial fortalecido e rejuvenescido.

Este é, certamente, o nosso grande desejo. Pode vir a ser, também, o nosso desígnio nacional.

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