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03 de Março de 2014 às 00:01

Portugal no Cabo da Boa Esperança?

O "motor" económico é agora mais diversificado, sendo suportado em grande parte pela procura externa (as exportações constituem já cerca de 41% do PIB) em detrimento da procura doméstica ou dos tradicionais excêntricos gastos a que o Estado português nos habituou (e viciou) nas últimas décadas

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Está ainda bem presente nas nossas memórias o momento em que as agências de rating internacionais classificaram Portugal como "lixo". Hoje, em processo de "reciclagem", somos já um investimento apetecível e matéria de notícias positivas. É exemplo disso um artigo de uma das mais conceituadas publicações internacionais, o "Financial Times", que considerava Portugal o herói da Zona Euro.

De facto não é para menos: o programa de ajustamento tem sido severo e o sacrifício dos portugueses incansável, contudo a economia nacional começa a dar os seus primeiros sinais de vida. O foco principal desta ainda modesta retoma é o crescimento de 1,6% do produto no último trimestre de 2013 em relação ao período homólogo, ultrapassando não só as estimativas, mas também a evolução da economia dos nossos parceiros da "periferia" e até mesmo da Alemanha.

Mas este parece ser apenas um mero esgar daquilo que de facto está a acontecer em Portugal. Pela primeira vez desde 1969 a balança corrente apresenta um "superavit", o que além de ser um catalisador económico é também um claro sinal de mudança. A política de exportações foi, neste contexto, determinante e o esforço continua: Portugal está a diversificar a sua clientela para países fora da UE, tais como Angola, Argélia, Rússia ou Brasil e o reforço da posição em países como Reino Unido e Espanha tem sido conjuntamente decisivo. Também os sectores de actividade que mais exportam estão em crescente diversificação, os tradicionais sectores têxtil, calçado e alimentar são agora acompanhados pelas tecnologias, transportes e turismo, sendo que este último totaliza já cerca de 14% das exportações nacionais.

O "motor" económico é agora mais diversificado, sendo suportado em grande parte pela procura externa (as exportações constituem já cerca de 41% do PIB) em detrimento da procura doméstica ou dos tradicionais excêntricos gastos a que o Estado português nos habituou (e viciou) nas últimas décadas.

Neste contexto, não só de boas notícias e adjectivos elogiosos é feito o reconhecimento do que está a ser feito em Portugal. Os investidores olham com agrado para estes indicadores e progressivamente estão a mudar a sua atitude em relação ao nosso País. Prova disso mesmo é a procura por dívida soberana portuguesa e a percepção da dívida nacional como um investimento e não como um mero instrumento especulativo. Neste sentido, as "yields" a 10 anos (o "barómetro" desta nossa crise) encontram-se já em valores inferiores a 5% reduzindo o "spread" para países como Irlanda, Espanha ou Itália, indicando uma menor percepção de risco.

No entanto, não nos podemos iludir. Todos estes indicadores têm como base não só uma reforma estrutural que tem vindo a ser implementada mas, acima de tudo, o tremendo esforço social de todos nós. Há ainda um longo caminho a percorrer, os sacrifícios irão continuar, e o povo português está bem ciente disso.

Até que estes indicadores se reflictam na qualidade de vida dos portugueses e que reassumamos a "soberania financeira", será ainda uma longa jornada para a qual teremos de continuar a ser "Heróis".

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