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10 de Novembro de 2006 às 14:59

Piratas e inovadores

Um jovem inovador sem capital fez a maior fortuna desta década. O Skype é invenção de um engenheiro, despedido de uma gigaempresa. Só 15 anos se tinham passado desde a guerra contra seu CEO, ao negar lançar no mercado centrais telefónicas digitais, ainda

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O conselho de administração e a banca na assembleia geral exigiam sua demissão, mas o maior accionista, engenheiro, convenceu-os a darem-lhe mais um ano. Bastou! Nunca antes um produto deu então tanto lucro. E abriu portas para o Bluetooth, 3G de telemóvel. O CEO reformou-se e tudo mudou.

A maioria das fortunas feitas numa geração veio de inovadores produtivos, os que focam na função e qualidade do produto para o cliente. São engenheiros ou minigénios, em geral trabalham 15-18 horas por dia com parcos recursos e reinvestem o lucro no seu negócio ou algo a montante ou jusante. Pois é difícil ser bom em tudo. Não fazem fusões, aumentam o seu domínio do mercado com clientes satisfeitos e depois usam a sua tecnologia em outros mercados. P. ex.: a Ford e  a Ericsson há 80 anos, IBM e Suzuki há 50, Apple e IKEA há 20. Marcas de confiança. Muitos levam o apelido do dono.

Alemanha e Japão tiveram as suas indústrias totalmente destruídas na guerra. Tinham mão-de-obra, precisavam de emprego. Criaram condições para produtivos inovadores e técnicos oferecerem bens e serviços e reinvestir. Por isto, as suas melhores empresas cresceram e conquistaram na economia o que perderam na guerra: o mundo.

Há 20 anos, quando ajudei o Brasil e depois países de África a melhorarem práticas de apoio a pequenas e médias empresas, o foco era o mesmo. As perguntas para apoiar IDE eram: quanto emprego vai criar, por milhão investido; quanto usará de materiais feitos na região e no país; como poder ali fazer os importados, em 1-2 anos? Pois não se pode controlar se valores entrados na filial local ali ficarão, podem sair a qualquer momento. É normal uma giga levar uma fábrica inteira, investir só num armazém simples e após 6 a 10 anos, quando já não tem benefícios fiscais, retirar as máquinas produtivas, largar as velhas e despedir milhares, na cidade que não se preparou para este fim. Como Manaus há 8 anos, com metade de 400 indústrias fechadas. E Azambuja hoje?

Em Vara, na Suécia, uma fábrica faz linhas de montagem em longos, descapotáveis contentores. Especialmente para os sectores electrónico, termoplástico e automotor. Após uns anos de imorais vantagens numa cidade ou país do 2º mundo, onde mata o concorrente local, os leva à noite em longos camiões para um porto e outro sítio que lhes dê ainda mais vantagens. Não lembra piratas a roubarem os parcos recursos dos parvos locais?

Poucos aprendem a diferença entre riqueza real e monetária. Em minha tese na Suécia, afirmei que gastos em hospitais deveriam ser contabilizados com menos no PIB. Pois doença é um mal, não um bem, não riqueza do povo. Aprendi em engenharia: prevenir o mau desempenho da máquina, fábrica, empresa. Remediar é para incompetentes. Deixar estragar é para parvos ou muito astutos, ajudar a destruir, para piratas. Governo é para prevenir derrocadas.

Em recente Feira da PME, no Porto, fui cercado por inovadores ávidos por uma oportunidade. Somos um país de criativos e corajosos descobridores. A 2ª geração plantou, desenvolveu as sesmarias nas colónias, industrializou. Mas a 3ª está a consumir o nosso património cultural, material e empresarial. E os espertos amigos de piratas deixam-se encantar pela carochinha de IDE dos idos tempos em que o capital entrava para contribuir. Luís XV importou artesões de Veneza para fazer cristais em Versailles. Até hoje a França tem high-tech na St. Gobain. Há que discernir entre piratas, astutos parvos e os realmente produtivos. Porque é que os nossos melhores inovadores e produtores não têm oportunidades?

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