Opinião
Nobel para João da Silva
Em fins dos anos 80, o micro-empresário Alentejano, já então Lisboeta, João da Silva, dizia: ‘Como investir, com juro tão alto?’ e ‘Absurdo, emprestar para viajar’. Pois ele acaba de ganhar o Nobel de Economia, atribuído a E. Phelps.
Com grande sabedoria, décadas de economias para comprar uma carrinha, depois um mini-mercado, finalmente um super, sempre a tratar muito bem pessoal e clientes, a ler e estudar, ele aplicou o que o Nobel Allais, de 1988 e Phelps deste ano escreveram: ‘Um futuro crescimento depende de consumir menos hoje e investir mais’. Depende de uma expectativa de inflação baixa, que se baseia em juros baixos e estáveis.
A justificação da Royal Swedish Academy é que, ao contrário do teórico Friedman, Phelps olhou a interacção entre fluxos monetários e sociais. Quando os bancos centrais aumentam os juros e assim a expectativa de inflação, a banca aumenta-os ainda mais. Com medo do povo reduzir o consumo, ao pagar mais pelo empréstimo de casa e carro, aumenta-se a publicidade emocional na TV, que aumenta o consumo e reduz o investimento. O que, a médio e longo prazo confirma a inflação, que leva ao desemprego.
Pressão salarial acima do aumento de produtividade, p.ex. por sindicato do sector público, traz aumento nos custos, que gera inflação ilícita. O bom gestor sabe o quanto pode aumentar o salário, para ainda gerar o aumento de receita ou lucro que precisa re-investir, para garantir a produtividade que permite pagar aquele aumento salarial.
Deve haver equilíbrio entre investimentos hoje e dividendos e consumo hoje, para garantir o futuro crescimento económico. A cada ano há uma fracção ideal do PIB a ser investido. A Golden Rule do Nobel Phelps diz que ‘só devemos fazer aos outros o que gostávamos que fizessem a nós’. Assim, ao consumirmos mais que podemos hoje, roubamos dos nossos filhos e netos. Eles é que pagarão os juros altos.
Este desequilíbrio já provocou duas Guerras Mundiais. Todos leram sobre a incrível inflação na Alemanha, na Weimar Republik, que trouxe Hitler ao poder. A mega-inflação no Brasil nos anos 60 levou a um golpe militar. A bolha imobiliária e especulativa na década de 80 elevou os juros e provocou a crise económica dos anos 90, que só não foi pior em Portugal devido aos fundos comunitários.
João disse e Phelps escreveu: capital, só o meu. Posso consumir apenas o que antes produzi. Emprestado, só para em pouco tempo pagar. Com seu parco salário e muito suor comprou em 5 prestações a velha carrinha. Apertou a família toda no T1 do sótão e fez mini-mercado na sala e quartos do r/c na casa dos pais. Fez garagem no quintal, que logo ficou armazém e depois anexo do mini-mercado. ‘Vá, lê, nada de TV! Aproveita a biblioteca!’ Expandiu e cresceu; filhos doutores, ganham bem, investem. Mas está a morrer: um hiper estrangeiro anuncia na TV porco a preço de banana e o povo compra lá tudo o resto mais caro do que ele vende. Compra enlatado com conservantes perigosos, mas ninguém tem a coragem de alertar. Ele segue a Regra Dourada de Phelps, ‘só fazer a outros o que desejamos para nós’. E o hiper, e a TV? Não será a Golden Share do governo para garantir a Golden Rule?
O velho Sócrates tinha razão: não basta a educação. É reflectir, informar, inovar, actuar. Como Nobel com a nitroglicerina, há que explodir a rocha do mal "consumismo" para crescer o investimento, com inovação, sabedoria e boas práticas. O novo Sócrates tem razão: MIT em fusão!