Opinião
Os servos da gleba
Antigamente, os médicos, quando encontravam um doente debilitado, optavam pela sangria. Julgavam com isso extirpar o mal. Normalmente, com cada vez menos sangue, o paciente falecia.
Antigamente, os médicos, quando encontravam um doente debilitado, optavam pela sangria. Julgavam com isso extirpar o mal. Normalmente, com cada vez menos sangue, o paciente falecia. Não da doença, mas da cura. Os tempos mudaram. A tecnologia trouxe requinte. A troika julga-se um núcleo de cirurgiões que encontrou em Portugal mais um laboratório ideal para as experiências.
Na sua nova digressão pelo país deixou novas receitas. Especialmente uma: há pouca flexibilidade salarial. O que, em rigor, quer dizer: os salários devem baixar ainda mais. Presume-se que a troika não tenha a noção da depreciação real dos salários nos últimos anos. Acredita-se que a troika não vá aos supermercados para ver como, com a bênção do euro, comprar um frango ou um repolho é tão caro em Lisboa como em Berlim ou em Amesterdão. Com a diferença que um alemão ganha três ou quatro vezes mais do que um português. Mas para quem decide com o auxílio de Excels, isso parece ser irrelevante.
Para a troika Portugal seria competitivo se tivesse salários ao nível dos praticados no sul da China ou no Camboja. Não duvidamos da genialidade da ideia. Até acreditamos que se os portugueses fossem servos da gleba ou se tornassem escravos a flexibilidade salarial seria um êxito. A comodidade com que a troika diz estes disparates, revela que não entende a revolução industrial que está a acontecer (e que a "Economist" analisava há semanas), e que está a tornar os custos salariais cada vez mais irrelevantes. A diferença está entre quem tem emprego e quem não tem. Mas a troika ainda vive na Idade Média do pensamento. E tem bons alunos portugueses.
Na sua nova digressão pelo país deixou novas receitas. Especialmente uma: há pouca flexibilidade salarial. O que, em rigor, quer dizer: os salários devem baixar ainda mais. Presume-se que a troika não tenha a noção da depreciação real dos salários nos últimos anos. Acredita-se que a troika não vá aos supermercados para ver como, com a bênção do euro, comprar um frango ou um repolho é tão caro em Lisboa como em Berlim ou em Amesterdão. Com a diferença que um alemão ganha três ou quatro vezes mais do que um português. Mas para quem decide com o auxílio de Excels, isso parece ser irrelevante.
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