Opinião
Os limites do pânico
A China tirou mais de 680 milhões de pessoas da pobreza nas últimas três décadas, liderando uma queda na pobreza a nível mundial de quase mil milhões de pessoas. Isso provocou sólidas melhorias na saúde, na longevidade e na qualidade de vida
Ouvimos muitas vezes dizer que o mundo, tal como o conhecemos, um dia irá terminar, normalmente, através de um colapso ecológico. De facto, mais de 40 anos após o Clube de Roma ter divulgado a mãe de todas as previsões apocalípticas, "Os limites do crescimento", as suas ideias base continuam vigentes. Mas o tempo não tem sido amável.
"Os limites do crescimento" alertava a humanidade em 1972 que um colapso devastador estava prestes a ocorrer. Mas, apesar de termos assistido, desde aí, a pânicos financeiros, não se registou nem escassez nem colapsos produtivos reais. Na verdade, os recursos gerados pelo engenho humano continuam muito além do consumo humano.
No início dos anos 70, o optimismo tecnológico tinha terminado, a Guerra do Vietname era um desastre, as sociedades atravessavam um período de turbulência e as economias estavam estagnadas. Em 1962, o livro de Rachel Carson "Silent Spring" (Primavera Silenciosa) gerou receios sobre a poluição e lançou o movimento ambiental moderno. O livro de Paulo Ehrlich, "The Population Bomb" (A bomba demográfica), publicado em 1968, dizia tudo. O primeiro Dia da Terra, em 1970, foi profundamente pessimista.
A genialidade do "The Limits to Growth" ("Limites do Crescimento") foi fundir estas preocupações com os medos de ficarmos sem recursos. Estávamos condenados porque demasiadas pessoas consumiam muito. Mesmo que a nossa ingenuidade nos permitisse ganhar algum tempo, acabaríamos por matar o planeta e a nós próprios com a poluição. A única esperança era parar com o próprio crescimento económico, cortar o consumo, reciclar e forçar as pessoas a terem menos filhos, estabilizando a sociedade num nível significativamente mais pobre.
Esta mensagem continua a ecoar nos dias de hoje, apesar de ser totalmente errada. Por exemplo, os autores do "The Limits to Growth" previam que, antes de 2013, o mundo ficaria sem alumínio, cobre, ouro, chumbo, mercúrio, molibdénio, gás natural, petróleo, prata, estanho, tungsténio e zinco.
Em vez disso, e apesar das recentes subidas, os preços das matérias-primas caíram cerca de um terço face aos níveis registados há 150 anos. As inovações tecnológicas substituíram o mercúrio nas baterias e nos termómetros: o consumo de mercúrio caiu 98% e, em 2000, o preço estava 90% mais baixo. Em termos gerais, desde 1946, a oferta de cobre, alumínio, ferro e zinco superou o consumo devido à descoberta de reservas adicionais e de novas tecnologias que permitem extraí-las a um menor custo.
Da mesma forma, o petróleo e o gás natural deveriam ter acabado em 1990 e 1992, respectivamente; actualmente, as reservas de ambas as matérias-primas são maiores do que em 1970, apesar de o consumo ter aumentado de forma dramática. Nos últimos seis anos, só o gás de xisto duplicou as potenciais reservas de gás nos Estados Unidos e reduziu o preço em metade.
Quanto ao colapso económico, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas estima que o PIB per capita global vai crescer 14 vezes e que o PIB per capital dos países em desenvolvimento cai crescer 24 vezes durante este século.
"The Limits to Growth" errou tanto porque os seus autores não tiveram em consideração o maior recurso de todos: a nossa capacidade de iniciativa. O crescimento demográfico tem vindo a abrandar desde os finais dos anos 60. A oferta alimentar não entrou em colapso (1,5 mil milhões de hectares de terra arável estão a ser usados, mas há mais 2,7 mil milhões de hectares em reserva). A má-nutrição caiu em mais de metade, de 35% da população mundial para menos de 16%.
Muito menos estamos asfixiados pela poluição. Apesar de o Clube de Roma ter imaginado um passado idílico sem poluição e agricultores felizes e um futuro sufocado pelo fumo das chaminés, a realidade é totalmente diferente.
Em 1900, quando a população mundial era de 1,5 mil milhões, quase três milhões de pessoas – aproximadamente uma em cada 500 – morria todos os anos devido à poluição atmosférica – principalmente em consequência da péssima qualidade do ar em espaços fechados. Actualmente, este número diminuiu para uma em cada duas mil pessoas. Apesar de a poluição continuar a matar mais do que a malária, a taxa de mortalidade está a cair, e não a subir.
Ainda assim, as ideias do "The Limits to Growth" continuam a moldar o pensamento popular e das elites.
A reciclagem, por exemplo, é muitas vezes apenas um gesto que nos faz sentir bem com poucos benefícios ambientais e com custos elevados. O papel, por exemplo, vem de florestas sustentáveis e não de florestas tropicais. O processamento e os subsídios governamentais associados à reciclagem geram um papel de menor qualidade para alvar um recurso que não está ameaçado.
Da mesma forma, os receios de uma população mundial excessiva levaram a aplicação de medidas auto-destrutivas, como a política de um filho único na China e à esterilização forçada na Índia. E, apesar dos pesticidas e outros poluentes serem vistos como os responsáveis pela morte de metade da humanidade, os pesticidas bem regulados provocam cerca de 20 mortos por ano nos Estados Unidos, além de que têm vantagens importante na criação de alimentos mais económicos e abundantes.
De facto, a dependência exclusiva na agricultura orgânica – um movimento inspirado pelo medo dos pesticidas – custaria mais de 100 mil milhões de dólares todos os anos nos Estados Unidos. Com uma eficiência 16% inferior, a produção actual exigiria mais 27 milhões de hectares de terra arável – uma área superior a metade da Califórnia. A subida dos preços provocaria uma redução do consumo de frutas e vegetais, com efeitos negativos na saúde (incluindo, milhares de mortes adicionais por cancro todos os anos).
A obsessão por cenários catastróficos e pessimistas distrai-nos das ameaças reais. A pobreza é um dos maiores assassinos, enquanto doenças facilmente tratáveis continuam a provocar a morte de 15 milhões de pessoas todos os anos – 25% de todas as mortes.
A solução é o crescimento económico. Quando saem da pobreza, a maioria das pessoas consegue evitar doenças contagiosas. A China tirou mais de 680 milhões de pessoas da pobreza nas últimas três décadas, liderando uma queda na pobreza a nível mundial de quase mil milhões de pessoas. Isso provocou sólidas melhorias na saúde, na longevidade e na qualidade de vida.
As quatro décadas após o lançamento de "The Limits to Growth" mostraram-nos que precisamos de mais, e não de menos, crescimento. Uma expansão do comércio, com benefícios estimados que superam os 100 biliões de dólares por ano até ao final do século, seria mil vezes mais benéfica do que as tímidas políticas que nos fazem sentir bem e que resultam do alarmismo. Mas isso exige abandonar uma mentalidade anti-crescimento e usar o nosso enorme potencial para criar um futuro mais brilhante.
© Project Syndicate, 2013.
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Tradução: Ana Luísa Marques