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Os «boys» e os outros

Seria muito mais saudável para a sociedade portuguesa, tornar público e sujeito a escrutínio especializado o «curriculum vitae» de cada nomeado para altos cargos da administração pública administrativa e empresarial do que a sua declaração de IRS que só s

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Com a chegada de um novo partido político ao poder, ressurge o movimento de nomeação dos famosos «boys» para ocuparem os mais elevados cargos da Administração Central e das Empresas Públicas.

Do mesmo modo, ou seja, sem qualquer novidade surgem os protestos mais veementes dos partidos que deixaram de ter o poder. As vozes mais estridentes surgem, exactamente? dos «boys» desses partidos que perderam as mordomias que detinham e que consideravam merecer para toda a eternidade, esquecendo o seu próprio processo de nomeação.

Nesta opereta de baixo nível, surgem as tradicionais contabilizações de nomeações, misturando-se (propositadamente!) alhos com bugalhos e colocando ao mesmo nível, motoristas, secretárias, adjuntos, Directores-Gerais e Administra do res de Empresas Públicas, como se este fenómeno perverso da sociedade portuguesa tivesse a mesma importância e a mesma capacidade destruidora do país nos diferentes níveis profissionais atrás referidos.

Nesta gritaria colectiva, que a Comunicação Social amplia, ninguém cuida de colocar a única questão verdadeiramente relevante nestes processos de colocação. «Quais são as capacidades académicas e profissionais de cada um dos nomeados para o exercício das respectivas funções».

Existe, aliás, um «acid test» simples que consiste em verificar que tipo de funções estes gestores exerceram, nomeadamente em empresas privadas, onde a racionalidade é diferente, quando o partido a que pertencem não estava no poder.

Seria muito mais saudável para a sociedade portuguesa, tornar público e sujeito a escrutínio especializado o «curriculum vitae» de cada nomeado para altos cargos da administração pública administrativa e empresarial do que a sua declaração de IRS que só serve para acentuar as características mais negativas, de mesquinhez e inveja, que infelizmente vêm ao de cima, no nosso país, sobretudo em época de crise.

Esta publicitação dos respectivos CVs. permitiria ainda comparar a qualidade académica e profissional de quem entra em relação a quem sai, verificando-se em que casos é que existe uma diminuição de competência, que originarão no futuro um prejuízo claro para o País, e quais os casos inversos - que deveriam ser a maioria - que permitirão manter viva a esperança de construção de um país mais bem gerido e portanto mais próspero.

Os prejuízos que um mau gestor acarreta para a sua organização e para o país, são incalculáveis. De ordem quantitativa - degradação dos ratios económico-financeiros - e de ordem qualitativa - promovendo uma cultura que não respeita o mérito e a competência.

A separação dos «boys» dos outros, ou seja, dos gestores competentes que são filiados nos vários partidos, é pois essencial, para que estes últimos tenham direito à sua dignidade e sejam respeitados pelo país, pelo que fazem nas Empresas e Administração Pública e também na actividade política em representação dos partidos a que pertencem.

Considerar, por exemplo, como «boys» , o Dr. Francisco Murteira Nabo, actual Presidente da GALP, ou o Dr. Luís Nazaré, actual Pre si dente dos CTT, gestores que conheço bem pela sua ligação ao sector das telecomunicações, e que são, indiscutivelmente competentes, é um insulto gratuito que os visados não merecem e que, para além disso, não prestigia o país nem a democracia.

Esta confusão propositada em que se colocam no mesmo caldeirão «boys» e «não boys» tem o óbvio objectivo de proteger os verdadeiros «boys» dos vários partidos, justificando no futuro, todos os atropelos no processo sadio de nomeação dos mais competentes para a gestão das entidades públicas. E tem ainda um efeito perverso adicional que é o de afastar da actividade política todos os quadros com formação académica internacional de elevada qualidade, que não estão disponíveis para aceitar o desprestígio de virem a ser considerados «boys» no exercício da profissão para o qual estão especialmente preparados.

A rarefacção de quadros e gestores profissionais altamente qualificados com experiência política, que todos os países desenvolvidos acarinham, tem ainda uma consequência negativa adicional na dificuldade que o país sistematicamente revela, cada vez que pretende candidatar cidadãos nacionais a altos cargos internacionais e explica, por exemplo, a diminuição do numero de portugueses nas posições mais elevadas da hierarquia técnico-política da comissão europeia.

A Comunicação Social especializada pode representar aqui um papel pedagógico essencial, combatendo este processo premeditado de «ocultação de provas curriculares».

A democracia só se reforça com a transparência.

O processo transparente de separação dos «boys» dos «outros» produzirá efeitos poderosos e duradouros na melhoria da qualidade de gestão das nossas organizações públicas e consequentemente no processo de criação de riqueza nacional.

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