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O sr. Villas-Boas e os clones

Portugal é um admirador profundo do filme "Star Wars: O Ataque dos Clones".

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Quando alguém se destaca e parte, procura-se rapidamente um clone. Procura-se sempre um "novo qualquer coisa", porque se julga que no futebol a possibilidade de reprodução é um dado científico. No Benfica, por exemplo, procura-se o "novo sr. Di Maria" e no FC Porto busca-se urgentemente o "novo sr. Bruno Alves". A clonagem faz parte do imaginário futebolístico nacional, desejoso de referências porque tem sempre dificuldade em aceitar originais. O caso do sr. André Villas-Boas é exemplar. Aterrou em Portugal e quase antes de iniciar as suas funções de treinador (na Académica) já estava a ser apelidado de "novo sr. Mourinho". Antes de mostrar o seu talento à frente de uma equipa de futebol já era desejado em Alvalade. Acabou no FC Porto, depois de um par de meses no clube de Coimbra.

O drama não é a aposta num jovem treinador. Muitos clubes já o fizeram com sucesso. E outros com insucesso, claro. Mas a transformação imediata do sr. Villas-Boas em herdeiro do talento do sr. Mourinho, porque trabalhou com ele, é tão irracional como demonstradora do nível do futebol indígena. O sr. Villas-Boas, e bem, já tentou enxotar o estigma de ser um clone. O sr. Mourinho, claro, diz que não deu autorização para haver clones seus. Mas todos os que olham em Portugal para o sr. Villas-Boas, vêem o sr. Mourinho. A distracção é pior que a miopia.

É preciso recordar que o sr. Mourinho não foi uma obra do Espírito Santo. Trabalhou muito até ser quem é hoje. Foi intérprete do sr. Bobby Robson e aprendeu muito com ele. Depois foi adjunto do sr. Van Gaal, que lhe deu a licenciatura. Ainda hoje são irmãos gémeos, embora com variantes: o sr. Van Gaal vê no futebol de ataque um dever moral, o sr. Mourinho acha que o único objectivo é ganhar. O sr. Van Gaal foi um mestre para o sr. Mourinho, como o sr. Rinus Michels o foi para ele. Mas nenhum foi clone do outro. Aproveitaram a mestria dos outros para estudar e para se formarem como grandes treinadores. O que é curioso é a origem do sr. Van Gaal e do sr. Mourinho: ambos foram futebolistas sem grande expressão e ambos começaram por treinar pequenas equipas antes de explodirem como vencedores de competições europeias.


O sr. Bergkamp disse um dia que o sr. Van Gaal sabia tão bem o que queria ter em campo que poderia ter lá 11 robôs em vez de 11 jogadores. O que nos leva novamente à questão dos clones. Será na prática que se verá se o sr. Villas-Boas estudou a sério com o mestre sr. Mourinho para crescer e vencer com as suas próprias ideias. Como o sr. Mourinho fez depois de deixar o sr. Van Gaal.




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