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O que deve a Yahoo fazer?

Muitas pessoas pensam que a Yahoo morreu: os investidores afundaram as cotações em quase 20% desde o seu recente acordo com a Microsoft. Mas a minha opinião é que esta empresa está agora numa posição mais forte para desbravar novos territórios, em...

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Muitas pessoas pensam que a Yahoo morreu: os investidores afundaram as cotações em quase 20% desde o seu recente acordo com a Microsoft. Mas a minha opinião é que esta empresa está agora numa posição mais forte para desbravar novos territórios, em vez de competir com a Google por um terreno mais do que explorado. É melhor deixar isso para a Microsoft.

Agora que a Yahoo se libertou da luta com a Google, pode regressar às suas raízes como a empresa-guia que ajudou os utilizadores a entenderem o mundo que os rodeava. Com efeito, retrocedendo até 1994, a Yahoo começou com uma equipa de editores que compilava a escassa quantidade de informação que estava "online" e que gerava listas com os melhores conteúdos, completadas com "links". A Google surgiu com uma ferramenta automática de pesquisa de conteúdos - qualquer tipo de conteúdo - e a Yahoo utilizou esse serviço antes de desenvolver o seu próprio motor de busca.

Mas o mundo mudou. O problema agora não é encontrar informação; é filtrá-la e estruturá-la.

TMI - too much information - tornou-se um acrónimo reconhecido.

Já não pode depender de editores humanos para estruturar a informação; precisa de ferramentas automatizadas, melhoradas pelos conhecimentos periciais dos homens e pelo conhecimento de domínios específicos. Mas a procura, por si só, também não funciona: a pesquisa é como uma lanterna num quarto escuro; ilumina duas ou três coisas, mas deixa na obscuridade o espaço circundante. O que as pessoas querem verdadeiramente é um quarto iluminado, onde as coisas estejam acomodadas em estantes bem etiquetadas.

Foi o que a Microsoft fez com o Bing nalguns domínios com orientação comercial. Mas a oportunidade vai muito além do mundo das compras, estendendo-se a tudo aquilo que a Google o ajuda a encontrar (e isso, como proposta comercial, é muito tentador, mas é também bastante limitado).

A maior oportunidade da Yahoo reside nos próprios bens e hábitos do seu meio milhão de utilizadores registados, como as suas fotos, redes de amizades e dados electrónicos, que alcançam actualmente uma dimensão e um grau de complexidade tais que precisam de ser geridos.

Esta é a oportunidade da Yahoo - de fazer sentido para o mundo de cada pessoa. Várias empresas existentes estão a liderar o caminho, mas não são tão fidedignas como a Yahoo, nem dispõem da vasta base de utilizadores que permitirá à Yahoo estender a sua actividade de armazenamento e de gestão dos dados, entrando no domínio da partilha, de forma a que os utilizadores possam analisar os seus próprios dados no contexto dos dados dos outros.

Passamos bastante tempo a procurar material novo, mas em muitos casos gostaríamos de o relacionar com o material antigo - especificamente, com a nossa própria informação. Existe uma tendência difusa, mas que começa gradualmente a ganhar forma: a de as pessoas gerirem a sua própria informação "online" - não apenas as suas finanças, no Mint ou Wesabe, mas também as suas preferências literárias na Amazon, os registos dos seus telemóveis (Skydeck), desporto e actividades físicas (Nike, Garmin e afins), amizades e actividades dos amigos (Facebook/Friendfeed e outros), viagens (Dopplr e TripIt), saúde (Polka.com), música (iTunes, IheardItOn, etc.) e por aí em diante.

A pesquisa na Internet permite-nos aceder a "sites" onde podemos reservar viagens, comprar música, descobrir itinerários para caminhadas e negociar acções, mas em geral estes não são sítios onde é possível agregar, gerir e analisar os seus próprios conteúdos e dados. A Yahoo pode tornar-se nesse sítio.

O que é que isto significa do ponto de vista comercial? Liberta da distracção da guerra dos motores de busca, a empresa pode agora concentrar-se em fazer com que toda a experiência Yahoo seja mais consistente e integrada, nomeadamente no que diz respeito aos seus serviços.
A empresa já disponibiliza um único início de sessão para todos os seus serviços, incluindo o Yahoo Mail e as suas aquisições, como a Upcoming (eventos) e o Flickr (fotos e vídeo). A sua nova "homepage" permite ao utilizador reunir um conjunto de serviços num só lugar.

A Yahoo é suficientemente aberta para permitir que acedamos a fontes terceiras, como o "The New York Times" e o "The Wall Street Jornal", mas mesmo os seus próprios serviços geralmente só oferecem conteúdos genéricos, como os relativos à saúde e bolsa, em vez de serem capazes de gerir "online" dados próprios sobre a saúde ou a carteira de acções.

Isto levanta uma outra questão, a da transparência ou protecção dos dados privados. A Yahoo e muitas outras empresas - incluindo a Google - estão já a trabalhar numa norma relativa à informação sobre a publicidade que um utilizador vê. A vantagem da Yahoo é que pode mostrar esta informação sem incómodos. Mostra anúncios a terceiros, mas não vende a ninguém os dados dos seus utilizadores.

Num mundo onde os utilizadores se preocupam com o rastreio que é feito às suas actividades - os legisladores tomam medidas de protecção contra isso -, a Yahoo não se interessa pelas movimentações dos seus utilizadores na Internet. A empresa sabe o suficiente sobre eles, de forma transparente, a partir daquilo que eles fazem quando utilizam a Yahoo.

Os utilizadores podem especificar até que ponto pretendem tornar públicos os seus dados pessoais relativos a planos de viagens - todos os detalhes para as suas famílias e amigos, mas unicamente a lista dos locais onde estiveram para os outros, por exemplo. Eu ficaria contente por partilhar os meus planos de viagem, digamos, com a British Airways, se pudesse em troca obter uma proposta interessante.

Os utilizadores da Yahoo sabem o que a empresa sabe sobre eles: não um registo de todos os "sites" que visitaram, mas sim o seu comportamento na Yahoo e, potencialmente, os seus dados. Mas é o utilizador e não a Yahoo que decide aquilo que a British Airways vai saber, por exemplo. Alguns utilizadores usam esses dados em seu proveito, enquanto outros se contentam em saber que a Yahoo tem um bom registo em matéria de partilha de dados e de transparência.

Para manter esta ampla promessa, a Yahoo deveria agora comprar ou criar uma série de serviços que ajudassem os utilizadores a gerir os seus próprios dados. Os serviços acima descritos seriam um bom começo, mas existem muitos mais e a Yahoo dispõe das ferramentas e do público necessários para conceber alguns deles.

Nada disto será fácil. Poderá ser quase tão complexo como conceber um motor de busca. Mas valerá a pena. Afinal de contas, para muitas pessoas, a coisa mais fascinante do mundo é um espelho.


Esther Dyson, "chairman" da EDventure Holdings, investe activamente numa série de "start-ups" de todo o mundo. Entre os seus interesses contam-se as tecnologias da informação, cuidados de saúde, aviação privada e viagens ao espaço.


© Project Syndicate, 2009.
www.project-syndicate.org
Tradução: Carla Pedro


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