Opinião
O PSD e Molière
Molière, em pleno século XVIII, alertou divertidamente para um facto: a crescente hegemonia dos algarismos sobre o discurso político. Desde então esse facto, que servia para pôr as pessoas a rir nas peças de teatro, tornou-se uma realidade. Este OE perpetua o...
Molière, em pleno século XVIII, alertou divertidamente para um facto: a crescente hegemonia dos algarismos sobre o discurso político. Desde então esse facto, que servia para pôr as pessoas a rir nas peças de teatro, tornou-se uma realidade. Este OE perpetua o sonho de Molière e, por isso mesmo, na sua arquitectura em que os números fazem o papel de pessoas, só poderia ser aprovado por quem considera dispensável o discurso político. Um Orçamento assim pode ser uma inevitabilidade, mas desde o início que se sabia que ele só poderia ser aprovado à direita. A esquerda, que continua a viver num paraíso perdido, prefere ficar hipnotizada pela política e a esquecer que existem números. Sem um equilíbrio entre política e números não há bom senso. Hoje a política é, cada vez mais, a arte do possível. E é para isso que os partidos políticos devem estar preparados. No Parlamento percebeu-se o que queriam PS, PP, PCP e BE. Nunca se entendeu o que desejava o PSD. Talvez porque o próprio partido tenha comido demasiado queijo e não se consiga lembrar da razão para que foi criado. Nesta discussão do OE o PSD andou sempre a reboque do PS e do PP. Foi o seu carro-vassoura. Depois, nas suas piruetas, consegue tropeçar em si próprio. Pedir mais dinheiro para a Madeira (e aumentar o seu défice) é um contra-senso com o que pede para o Continente (corte na despesa). Depois deste triste espectáculo do PSD ainda se está para perceber porque é que Manuela Ferreira Leite se grudou à cadeira do poder para ficar a discutir o OE. Era para fazer rir como Molière?
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