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27 de Outubro de 2009 às 11:49

O Pecado Mora ao Lado

Quem quis fazer de Granadeiro uma Rainha de Inglaterra enganou-se na rainha. Não é Isabel II, é Isabel I: poderoso e soberano. Assim se lê a entrevista do "chairman" da PT sobre o caso Ongoing. Um caso que, para ele, é "muita parra, pouca uva". "Parra para isto", terão já pensado alguns dos accionistas...

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Quem quis fazer de Granadeiro uma Rainha de Inglaterra enganou-se na rainha. Não é Isabel II, é Isabel I: poderoso e soberano. Assim se lê a entrevista do "chairman" da PT sobre o caso Ongoing. Um caso que, para ele, é "muita parra, pouca uva". "Parra para isto", terão já pensado alguns dos accionistas...

Declaração de interesses: no epicentro desta polémica está a Ongoing, que agora controla o "Diário Económico", principal concorrente deste jornal. Não me pronuncio sobre orientações editoriais que não sejam as nossas e digo apenas que, felizmente, Negócios e "DE" são publicações muito diferentes, o que dá aos leitores a opção de escolha.

Mas o conflito escalou na última semana e deixou de colocar-se ao nível do divórcio litigioso entre Ongoing e Impresa: foram envolvidos, também, nada menos que a Caixa, o BPI, o BES, a própria PT, e até para o Governo está a sobrar.

O caso é conhecido: fundos da PT Prestações investiram 75 milhões em fundos da Ongoing International. A última tranche desse investimento não foi submetido ao Comité de Investimentos, o que, não sendo obrigatório, aconteceu pela primeira vez em cinco anos. Um membro desse comité (Jorge Tomé, representante da Caixa) já se demitiu e Granadeiro assumiu que a empresa errou: no soneto (não submeter previamente ao Comité) e na emenda (ao propor a ratificação posterior, sem sucesso). Soares Carneiro, o presidente da PT Prestações, autor do "erro" e transmissor da polémica, deve ter a estrutura de um invertebrado, pois continua calado e alapado.

A entrevista de Granadeiro ao "Expresso" coloca o assunto nos exactos termos: além de assumir o erro e detalhar os procedimentos subsequentes, fala de fugas de informação inadmissíveis entre administradores da PT, que minaram a confiança da equipa.

O presidente do Conselho de Administração fez o que lhe competia: repôs a ordem e resguardou a Comissão Executiva da tempestade. Zeinal Bava, como se compreende agora, está coordenado com Granadeiro e, ao seu estilo, já mudou de assunto: anunciou mais de 500 mil clientes no Meo e emitiu ontem dívida de 750 milhões.

Granadeiro tem razão: a PT não merece isto. A empresa cresce, quer liderar a TV em Portugal e ter 50 milhões de clientes no Brasil este ano, é a estrela europeia de comunicações em bolsa. E no entanto, as notícias são sobre negócios estranhos. Porquê? Porque os valores em causa são parra para a PT mas uva para os seus accionistas.

A estrutura accionista da PT sempre teve sunitas e xiitas: os "espanhóis" e os "portugueses". E sempre se duvidou que Granadeiro e Zeinal não minassem o terreno que o outro pisa.

Surpreendentemente, o conflito não nasce da nacionalidade e os dois presidentes estão coesos. O pecado mora ao lado: é o núcleo duro português (BES, Caixa, Ongoing, Visabeira e Controlinvest têm no total 27%) que afinal não é assim tão duro. É aí que "não será fácil restaurar a confiança", palavra de Granadeiro.

Este caso já mostrou que a PT tem accionistas que não estão para o deboche e chefes que mandam. Mostrou, também, que não é só a PT que tem fibra: têm-na também Ulrich e Jorge Tomé. E mostrou ainda que a PT precisa de tudo menos de tornar-se num BCP, com fracturas accionistas, agendas próprias de gestores e "management buy-ins" sub-reptícios.

Nos últimos anos, a PT foi sugada pelos accionistas em seis mil milhões de euros de dividendos, como recompensa para chumbar a OPA. Talvez essa sangria tenha criado o equívoco de que a empresa serve para se servirem dela. Estará o equívoco desfeito?
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