O Governo meteu tanto medo aos portugueses com o espantalho da troika que parece começar a mostrar-se incapaz de explicar com rigor porque é que o trigo continua a desaparecer da planície. Qual é a solução: comprar mais um espantalho ou fugir para o pátio das traseiras? As contas não mentem: os impostos estão a encolher e o desemprego a aumentar. A terapia de mais impostos, de mais austeridade e de salários ao nível do Bangladesh, que fascina um clube de amigos que discorre sobre a solução para a crise entre duas mariscadas, está a desintegrar o país.

Vítor Gaspar, cheio de certezas até agora, parece ter entrado numa câmara de eco com som distorcido dos Metallica. Os riscos parecem minas e a incerteza final o apocalipse. Vítor Gaspar queria ser um alquimista que transforma o chumbo em ouro. Mas não consegue. O modelo teórico não resiste à prática. É por isso que o PP já começa a deslocar, antes do PSD, da ideia de austeridade até ao eclipse total. Como disse Portas aos seus militantes: "o nível de impostos já atingiu o seu limite".

Os portugueses não perdoarão a quem os tornar pobres sem lhes acenar com alguma esperança. Carregar mais o IRS (o imposto que massacra sempre os mesmos) será a destruição do que resta da economia de consumo onde vivemos. Subir o IVA será o absurdo em forma de fábula. É certo que Passos Coelho já veio abrir a porta do pátio das traseiras. Faremos o que for possível para não renegociar a dívida, diz enquanto vai vendo se o ferrolho da porta da fuga não está enferrujado. Vai ter de haver renegociação. Se ainda houver futuro para o euro depois deste fim-de-semana.