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19 de Outubro de 2007 às 13:59

O fim do ciclo dos salvadores do futebol

O futebol é a trincheira que deveria separar os políticos da União Europeia dos grandes clubes. Tudo devido a um princípio simples: o da livre circulação de jogadores. E, claro, tudo o que à sua volta se move como se em nenhum outro mundo existissem tanta

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Em Portugal nada separa política e futebol: foram e são aliados, nos bons e nos melhores momentos. Da mesma forma que se olha para a classe política e ao seu cíclico “renascimento” com as mesmas faces de sempre, no futebol mudam-se algumas faces, mas a forma de actuação é a mesma.

Os clubes dizem modernizar-se, mas se há algo que não se vislumbra na generalidade deles é a capacidade de contratar verdadeiros profissionais. Olhe-se para o Benfica: o sr. Rui Costa pode ser um símbolo (e é-o), mas quais são as suas qualificações para gerir um clube? Algo para o qual está a ser empurrado pelo sr. Luís Filipe Vieira. Porquê? Porque no futuro quer continuar na sombra como um embaixador sem mácula capaz de o resguardar das suas actuações de difícil compreensão por quem tenha uma ervilha no cérebro em vez do emblema?

Seja como for, assiste-se, cada vez mais, ao fim de um ciclo. Há alguns anos foi o sr. Pimenta Machado, eterno presidente do Vitória de Guimarães, que abandonou a sua condição de líder do clube durante anos sem conta. Foi uma saída sofrida e silenciosa, sem pompa nem circunstância. Agora assiste-se, pelo menos aparentemente, ao encerrar de um outro ciclo de históricos do futebol português: a família Loureiro deixa o Boavista, depois de, durante anos, ter tido nas suas mãos, o leme da instituição. Deste grupo de históricos que, entre si, dividiram interesses e criaram cumplicidades no futebol português, só resta o mais sólido de todos eles: o sr. Pinto da Costa.

O presidente do FCP sobreviveu a tudo durante 25 anos: a quatro presidentes da República e a sete primeiros-ministros, para já não falar nos presidentes da FPF e da Liga de Futebol. E parece que não irá ficar por aqui. O sr. Pinto da Costa é o rei que regressará sempre, quando menos se esperar, numa manhã de nevoeiro. É o herdeiro de uma teia, que, na sua época mais epicurista, almoçava no Canal Caveira. Antes do nascimento da A1, é claro, porque o sr. Pinto da Costa também assistiu, como o sr. Valentim Loureiro e, mesmo, o sr. Pimenta Machado, à substituição das antigas estradas nacionais pelas modernas auto-estradas. Eles viram chegar a modernidade ao país, mas essa tendência simplex nunca contaminou o futebol.

Há quem gostaria de ter pertencido a esse mundo e que chegou tarde: o sr. Luís Filipe Vieira. Mas o tempo já é diferente e, depois do sr. Pinto da Costa, nunca mais existirão figuras que consigam gerir a esperança doas adeptos como ele. O “pintismo” não sobreviverá ao sr. Pinto da Costa, como o “loureirismo” não sobreviverá ao sr. Valentim Loureiro e ao seu filho.
 
O sr. Pinto da Costa, como o sr. Valentim Loureiro, não foram mal-entendidos do futebol português. Eles são o fruto da arte de ser português: o que busca um pastor que os salve, que lhes dê glórias, mesmo que efémeras. O ciclo vai fechar-se. E algum outro chegará no amorfo mundo do futebol indígena.

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