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10 de Fevereiro de 2009 às 12:00

O Factor X

Novembro foi o mês fatídico para as exportações portuguesas: por cada cinco euros facturados um ano antes, vendemos apenas quatro. É uma queda brutal, com repercussões violentas na micro e na macroeconomia: falências, encerramentos, desemprego e crescimento económico.

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Novembro foi o mês fatídico para as exportações portuguesas: por cada cinco euros facturados um ano antes, vendemos apenas quatro. É uma queda brutal, com repercussões violentas na micro e na macroeconomia: falências, encerramentos, desemprego e crescimento económico.

Em macroeconomia, as exportações são designadas pela letra xis. Era esse xis que, nos últimos anos, nos suportava o crescimento económico. Mas quando os nossos maiores clientes têm pior diagnóstico do que o nosso (Espanha e Alemanha à cabeça), não há safa nem há safra. Como sair disto? Parte da resposta já está dada nos mesmos números que mostram a queda: se querem vender, vendam a Angola.

Com a súbita queda das exportações em Novembro (até então, verifica-se um abrandamento), desmorona-se o "modelo" de crescimento professado por este Governo. O ministro da Economia foi um repetitivo porta-voz desse modelo: as exportações cresciam, diversificavam-se e melhoravam o seu perfil tecnológico (tinham mais valor acrescentado): entre 2003 e 2006, Portugal foi o terceiro país da União Europeia (depois do Chipre e da Estónia) que registou maiores alterações da estrutura de exportações e especialização. E apesar de os mercados europeus ainda comprarem três quartos das exportações portuguesas, os destinos fora da UE estavam a comprar mais produtos, com um pequeno brilharete nas vendas para os Estados Unidos.

Ora, os clientes estão agora em recessão económica, compram menos produtos e são, ainda por cima, invadidos por ondas de proteccionismo que hostilizam produtos estrangeiros.

Esta queda das exportações estraga as folhas de cálculo que prometiam prosperidade para Portugal. Até porque, por muito que o consumo interno possa arrebitar com o aumento de poder de compra dos empregados, Portugal não tem mercado que chegue sequer para atenuar o efeito de uma quebra das vendas para o exterior.

Mas não é só isso: a quebra das vendas apareceu cedo de mais. Como estudou Manuel Caldeira Cabral há dois anos, os benefícios do crescimento das exportações estavam a ser apropriados pelas empresas (remunerando o factor capital) mas não pelos trabalhadores, esperando-se que o aumento da produtividade viesse a promover o efeito de "spill over", o transvase, o que, dizia o estudo, aconteceria mas demoraria algum tempo. Tarde demais.

As exportações para os Estados Unidos também quebraram, valem tanto como as vendas para a Galiza. No país de Obama, há oportunidades, que a Soares da Costa e a EDP Renováveis estão a querer aproveitar, mas é agora para África que as vendas aumentam. Angola tornou-se o Plano A para as empresas portuguesas, que procuram clientes e capital. Assim se explica a obsessão empresarial com Angola, de que a Galp é bom exemplo.

Estes resultados mostram, não só a dimensão do problema que enfrentamos, mas também que o deslumbramento do Governo era precoce. Como ironizava ontem um leitor, citando uma regra dos mercados financeiros, a demissão de Scolari do Chelsea prova que "sucessos passados não asseguram rentabilidades futuras". Nem exportações.

PS: Será esta empresa chinesa interessada em comprar a Qimonda a mesma que quis lançar uma OPA ao Benfica? Não se brinca com coisas sérias...

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