Opinião
O erro do rei
Vai um chinfrim à volta da zanga de comadres na cimeira ibero-americana. Há quem esteja pelo rei, há quem alinhe com o ditador, numa controvérsia a preto e branco. Todos sabemos quem é e como age Hugo Chávez – só espanta o fascínio que a figura exerce sob
Mário Soares, por exemplo, um homem com uma vida vertical pela igualdade de direitos e oportunidades, embeiçou-se pela versão “chinoca” do modelo Fidel – precisamente aquele que Soares considera um dinossauro desqualificado. Há uma diferença: Fidel mantém refém uma ilha sem recursos, Chávez tem petróleo para dar e vender. Mas o tempero não os distingue e só pode ser rejeitado por uma pessoa de bem. Como Mário Soares é.
Não havendo explicação para a incoerência, resta-nos o recurso à adivinha: será que Soares não quer partir sem um mergulho voluntário no “outro lado”? E será que o faz sem se aperceber da cumplicidade que branqueia o invólucro do déspota? No fundo, talvez não seja muito diferente do impulso que leva os detractores de Fidel a correr à ilha enquanto o ditador está vivo. Conclusão da história: Chávez é um facínora que se deve combater mas a quem não se deve dar troco. É também disso que eles se alimentam. Foi esse o erro do rei.
P.S. O que espera o governador Constâncio para dizer alguma coisa, mesmo que seja para acomodar o interesse de uma corporação, sobre o caso do filho de Jardim Gonçalves? Há silêncios ensurdecedores.