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Opinião
08 de Julho de 2011 às 12:00

O Diogo morreu

Diogo Vasconcelos morreu esta noite em Londres. Tinha 43 anos.

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Os obituários dirão quão jovem era, quão promissor foi, quão certeza se fazia. Os obituários contarão uma carreira brilhante, cosmopolita, de quem foi empreendedor, jornalista, empresário, visionário, gestor, político, inquieto, voluntário, extraordinário.

Os obituários contarão que tinha uma visão universal da vida das empresas, uma atitude política, uma ética social não apenas rara – necessária.

Os obituários citarão os seus colegas, que dirão que ele apontava para cima se outros olhavam para baixo, que abria janelas se as paredes se fechavam, que trazia esperança se faltavam soluções, que era seu o primeiro grito sobre todo o último grito – e sempre com um entusiasmo tranquilo, lúcido, credível -, que trazia estudos, relatórios, apresentações, livros, entrevistas, revistas, o melhor deste mundo, ambições do outro lado do mundo, criações do outro mundo.

Os obituários citarão os seus amigos. Os seus amigos antigos, que são jovens, jovens como ele, falarão de um homem bom, bigger than life, apaixonado pela ciência, pela tecnologia, pelo universalismo do saber, maravilhado com a inovação, obcecado em utilizá-la, em vê-la ser força motriz de um mundo tolhido em rotinas.

Diogo Vasconcelos já tinha feito tudo. Estava a começar. Foi muitos anos Empreendedor do Ano, seria agora muitos mais vezes Qualquer Coisa do Ano, seria um homem central no desenvolvimento de Portugal. Portugal mal sabe isso, mal sabe quão importante lhe seria Diogo Vasconcelos. Sabem-no os seus amigos, os seus amigos antigos, que são jovens, jovens como ele e que hoje vão para casa mais cedo. Sabem-no porque os amigos têm o coração nítido.

Ainda bem que há obituários. Ainda bem que há um “Soneto Já Antigo”. Porque o Diogo morreu esta noite, lá em Londres, e eu não sei o que dizer.






Soneto Já Antigo

Olha, Daisy: quando eu morrer tu hás de
dizer aos meus amigos aí de Londres,
embora não o sintas, que tu escondes
a grande dor da minha morte. Irás de

Londres p'ra Iorque, onde nasceste (dizes...
que eu nada que tu digas acredito),
contar àquele pobre rapazito
que me deu tantas horas tão felizes,

Embora não o saibas, que morri...
mesmo ele, a quem eu tanto julguei amar,
nada se importará... Depois vai dar

a notícia a essa estranha Cecily
que acreditava que eu seria grande...
Raios partam a vida e quem lá ande!

Álvaro de Campos

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