Opinião
O desabafo
Um dos prazeres da política é que ela não é uma ciência como a matemática. Todos podem fazer política. É um jogo cheio de mistérios, poder e incertezas. A matemática não permite isso.
Mas será que ela poderá fazer com que um político possa cumprir melhor a sua missão? Ou poderá, simplesmente, transtorná-lo? Às vezes tudo é uma questão de números. Outras vezes tudo é um número de humor. Como no caso da taxa de alcoolémia, que transformou o caminho mais curto entre os ministérios da Agricultura e o da Administração Interna, não uma recta mas um percurso cheio de curvas. O ministro Jaime Silva acha que o secretário de Estado da Administração Interna teve um desabafo. Como se tivesse dito uma piada a que não se deve dar muita atenção. A acreditar no ministro da Agricultura o secretário de Estado é inimputável. O que quer efectivamente dizer é que, a partir de agora, tudo o que Ascenso Simões disser não é para se levar a sério. Portanto, politicamente, o secretário de Estado é zero. Este, se não calasse os desabafos que lhe devem ir neste momento na alma, demitia-se. Não o fazendo ele passa a ser o desabafo do Governo. Cada vez que alguém disser mais do que a conta, não se vai dizer: ele teve um desabafo. Vai dizer-se: ele teve um Ascenso Simões.
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