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O conto de fadas da inflação baixa

Ao longo dos últimos quatro anos, a inflação-base tem flutuado quase sempre abaixo de um por cento.

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"A inflação está morta!" Poder-se-ia chegar facilmente a esta conclusão ao acompanhar o desenvolvimento dos preços do consumidor na Zona Euro. Na verdade, a taxa-base da inflação harmonizada pelos preços ao consumidor (ajustada pelas componentes voláteis de energia, alimentos, álcool e tabaco) esteve acima da meta do Banco Central Europeu "abaixo, mas próximo de 2%" em apenas 15 meses desde que o euro foi introduzido há mais de dezanove anos. Ao longo dos últimos quatro anos, a inflação-base tem flutuado quase sempre abaixo de um por cento. Ao tentar explicar este mundo supostamente livre de inflação, frequentemente os economistas apontam as descontinuidades estruturais tecnologicamente induzidas, os efeitos de globalização e os factores demográficos. Mas o raciocínio não ressoa bem junto do consumidor médio, que sente um mundo de inflação diferente.

Além das questões sociodemográficas, existem vários outros factores que sugerem que a inflação dos preços no consumidor na Zona Euro é mais subestimada do que sobrestimada. Ainda que os proponentes da hipótese de desinflação estrutural muitas vezes apontem uma relevância insuficiente dos ajustes qualitativos para o amortecimento dos preços no cabaz de referência, esse argumento é pouco credível por várias razões. Além de problemas de medição específicos (por exemplo, os ajustes qualitativos hedónicos), o cálculo actual ignora a redução na vida útil média de muitos bens duráveis.

A principal razão pela qual a inflação oficial na Zona Euro subestima os aumentos reais de preços tem, no entanto, que ver com a falha em incorporar os custos de habitação ocupada pelos próprios proprietários. Ao contrário dos EUA, onde a ponderação é de quase 24% no cabaz global e de 30% na inflação-base, este factor decisivo continua a ser excluído pelo Eurostat, incluindo por questões metodológicas. Como estes custos, baseados na média ponderada dos Estados-membros do euro, aumentaram acima dos 3% mais recentemente, a sua inclusão - em linha com a abordagem dos EUA - teria aumentado significativamente a inflação oficial na Zona Euro.

Essas evidências levam à questão de saber se os participantes do mercado financeiro e os responsáveis de política monetária têm em conta, consciente ou inconscientemente, a precisão espúria da medição da inflação e o alegado ambiente de inflação baixa - apesar do maior conhecimento e um pouco como acontece no conto "O Rei vai Nu". Adicionalmente, ao terem em conta as mudanças metodológicas implementadas com o apoio dos bancos centrais e dos governos de muitos países industrializados desde o início da década de oitenta, acabaram por exercer um efeito geral de amortecimento sobre a inflação registada.

Uma subavaliação da inflação dos preços no consumidor poderia ter sérias consequências, muito além do impacto negativo imediato sobre os consumidores. Além de uma sobreavaliação do crescimento económico real, os gastos públicos e os benefícios sociais vinculados à inflação seriam muito baixos, com efeitos colaterais positivos nos deficits fiscais e na dívida pública. Além disso, as decisões das empresas e as negociações salariais assentariam em premissas de inflação muito baixas.

Haveria ainda implicações de alcance mais vasto sobre a orientação da política monetária do Banco Central Europeu. No caso de uma subvalorização da inflação, o rumo extremamente acomodatício do BCE pareceria ainda mais inadequado do que o já sugerido pela recuperação económica sustentada na Zona Euro e pelo aumento maciço nos preços dos activos nos últimos anos. A referência habitual de Mário Draghi à manutenção da estabilidade de preços, como a "única agulha na bússola", realça o dilema dos banqueiros centrais.

Ironicamente, parece que os responsáveis de política monetária do mundo desenvolvido se tornaram finalmente vítimas de seu próprio sucesso, devido aos esforços de longa data para reduzirem a inflação. Não menos importante, devido aos efeitos desinflacionários, que derivam das falhas metodológicas, têm lutado para trazer a inflação de volta à meta de forma sustentável, apesar das medidas excessivamente não convencionais e de "quantitative easing". Em contraste, esta política provocou uma série de efeitos colaterais prejudiciais e está a contribuir para a convicção generalizada de que os bancos centrais vão continuar a ser os "salvadores de último recurso" em crises futuras. Neste contexto, uma mudança no sentido de uma medida de inflação mais realista e inclusiva representaria um passo benéfico para o BCE.

Enquanto os devedores e os ministros das Finanças do euro continuam a desfrutar de taxas entre baixas e negativas nos empréstimo graças a uma política monetária demasiado expansiva, os aforradores continuam a enfrentar custos de oportunidade elevados face a rendimentos de juros perdidos. Essa repressão financeira é exacerbada pela distorção na inflação real, já que activos nominais como depósitos bancários ou títulos estão sujeitos a uma desvalorização escondida adicional. Os investidores devem estar cientes deste perigo: a verdadeira perda de poder de compra dos seus activos tende a ser subvalorizada pelas taxas oficiais de inflação.


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