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Notas soltas sobre o mundo

Em Portugal vivemos a campanha eleitoral rumo às eleições de 27 de Setembro. Como sempre, ouvimos que é a campanha mais dura, mais fútil, mais demagógica, mais vazia, também a mais cara desde sempre.

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(1) Em Portugal vivemos a campanha eleitoral rumo às eleições de 27 de Setembro. Como sempre, ouvimos que é a campanha mais dura, mais fútil, mais demagógica, mais vazia, também a mais cara desde sempre. Até às eleições seguintes. Pede-se o voto útil porque, na verdade, ou ganha o PS ou ganha o PSD. Mas tem sido assim desde sempre. E estamos onde estamos. Quanto ao "ou eu ou o caos", também já não é novidade. Andamos nessa conversa desde 1987. Fica a dúvida, depois de vários governos de maioria absoluta (1987-1995 e desde 2002) ou com uma sólida base parlamentar (1995-2002), sobre o que será esse famoso caos, que catástrofe será essa alegada incapacidade de governar que nos ameaça depois do dia 27, tendo em conta que já levamos pelo menos uma década perdida.

Na verdade, pouco importam os resultados do dia 27 de Setembro por mais que os comentadores e os ideólogos de serviço queiram convencer-nos. A estagnação da nossa economia e a ausência de reformas profundas está para durar. E ganhe quem ganhar no dia 27, evidentemente que vamos ter um bloco central. Como temos tido. Desta vez, o bloco central pode apresentar-se como uma coligação formal de governo entre o PS e o PSD, ou talvez numa outra fórmula com mais ou menos transparência. É evidente que na substância vai governar o bloco central dos interesses. Nem o PSD nem o CDS vão ter a maioria com um mandato claro para fazer reformas importantes. O PS não está em posição de tentar qualquer solução tipo "esquerda plural francesa". Por defeito, e obedecendo aos interesses corporativos que infelizmente dominam o nosso país, o PS e o PSD estão condenados a entender-se, seja qual for a fórmula mais conveniente encontrada para isso. Em nome do sereníssimo interesse nacional.

Claro que, sendo certo que na substância vamos ter continuidade, podem mudar as formas e a embalagem do produto. Parece que é isso mesmo que está em causa no dia 27. Nesse sentido, como dizem vários articulistas, pouco interessa a obra feita (ou não feita), as listas dos partidos, ou o programa eleitoral. O que interessa é votar contra o adversário. Não gosta do Sócrates, vota PSD. Gosta ainda menos da Manuela Ferreira Leite, vota PS. O voto pela negativa. Um sinal da qualidade da nossa democracia.

(2) Voto pela negativa é coisa que em Espanha se conhece desde sempre. Não se vota em Zapatero ou em Rajoy. Vota-se contra a direita (mais fascista do mundo) ou vota-se contra a esquerda (mais comunista do mundo). Juntos, o PSOE e o PP têm quase 85% dos votos. O terceiro partido a nível nacional não passa de 4% dos votos. A qualidade de semelhante sistema partidário espanhol está à vista.

A economia espanhola segue sem rumo. Quem o diz são os jornais da esquerda. O governo Zapatero passou de um orçamento equilibrado (coisa que os portugueses não sabem o que é) para um déficit nos 6-7%, tudo num ano. O desemprego regressa aos 20% em 2010. O crescimento económico em 2010 será ainda negativo. É obra. Fazer reformas profundas, nem falar. Resta a velha receita, subir impostos.

Começam a faltar os coelhos na cartola de Zapatero para manter a sua coligação antidireita, depois do aborto, do casamento homossexual, da educação para a cidadania, da memória histórica e da paridade de género. Evidentemente que lá virá a eutanásia, já rotulada de "morte digna". Tem que ser. A crise económica e o descontentamento dentro do partido a isso obrigam.

Do outro lado, afundada num mar de corrupção, sem uma única proposta de alternativa, segue a direita. Esperando que a esquerda deixe de votar e assim talvez possam ganhar as eleições. Sem respostas. Sem programa. Outro sinal da qualidade da democracia que vamos tendo.

(3) Em Maio fala-se em mudar a Constituição nos Estados Unidos para permitir um terceiro mandato para Barak Obama, o novo D. Sebastião dos tempos modernos. Agora, menos de quatro meses depois, fala-se do Partido Republicano voltar a controlar a Câmara dos Representantes já em 2010 e deixar Obama numa posição complicada no Senado. É o preço das políticas económicas intervencionistas, essas mesmo que são a receita redescoberta para os nossos males. Veremos como explicam isso os nossos comentadores. Ao cuidado do nosso bloco central.

Professor de Direito da University of Illinois
nuno.garoupa@gmail.com
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