Opinião
Nem crime nem castigo
Num dos seus derradeiros escritos, antes de falecer em 1952, Teixeira de Pascoaes, que há décadas buscava, sem o conseguir, a redenção de Portugal, dizia: "Creio bem que o chamado futurismo, o ateísmo, o tiro aos pombos, a reforma ortográfica, o futebol, etc., todas as forças dissolventes da nossa Alma, são de carácter transitório".
É certo que, passadas décadas, a nossa Alma continua sem se redimir e, exceptuando o futurismo, que foi destruído pelo materialismo "presencista", e o tiro aos pombos, em desuso, tudo o resto deixou de ser transitório. A entrada na União Europeia criou a ideia de que iríamos viver numa espécie de paraíso terrestre sem pobreza e sem o cobrador à porta. Portugal trancou-se no seu mundo onde a democracia de consumo iria durar para toda a vida.
Vamos pagar muito caro o desvario com que utilizámos o cabaz de dinheiro que veio da Europa e que permitiu sonhar que as dívidas nunca seriam pagas. Pior, no delírio consumista, nem sequer nos preocupámos em criar um modelo económico (cultural e social, acrescente-se) para Portugal. Passámos a viver ao ritmo dos solavancos da Europa. Destruímos alegremente indústria, agricultura e pescas em troca de fundos.
Colocámos com convicção própria a cabeça na forca. A solução não é indolor. Mas o que é dramático nesta comédia de enganos orquestrada pelas nossas elites nos últimos anos é que parece que ninguém ainda aprendeu, ou quer aprender, com a calamidade que criaram.
A forma como Alberto João Jardim encara os sucessivos buracos que vão sendo revelados nas contas da Madeira demonstra que em Portugal tudo se varre para debaixo da mesa, como lixo não desejável. A casa continua suja, mas ao menos está escondida. Em Portugal não há crime nem castigo. Porque ninguém fiscaliza nem ninguém julga.
Tudo se esquece. Porque se os holofotes estão virados para o líder do governo regional da Madeira o que é que poderemos dizer de tudo o resto que está ainda convenientemente tapado. Ou das bombas-relógio que vão agora começar a rebentar. Olhe-se só para os encargos que as Estradas de Portugal terão até 2030: um dilúvio de dívidas que são um dos maiores absurdos deste mundo. E, sobre isso, Paulo Campos (o secretário de Estado de José Sócrates) continua sólido como betão: acha que fez muito bem. Como todos acharam que fizeram um bem descomunal à Pátria.
Portugal dedicou-se militantemente a gastar dinheiro que não tinha, chutando para a frente os custos, em vez de se centrar na criação de um modelo económico com pés e cabeça. Pagámos principescas fortunas a Michael Porter e colocámos depois os seus estudos na gaveta, contentes com a nossa consciência. Este é, aliás, o país dos estudos e da falta de concretização deles. E o país dos inquéritos inacabados ou que desaparecem sem rasto, sem culpado e sem crime.
O que o caso da Madeira nos alerta é para a total incapacidade das gerações políticas que governaram o país depois do 25 de Abril (com nobres excepções, é claro) que encararam o Estado como propriedade privada e o país como um jogo do Lego. O que agora nos vai caindo na cabeça aos poucos, como pedras que doem. Como dores de um regime que não construiu um destino para Portugal. Construiu sim um destino para os seus partidos e para os seus dirigentes.
Vamos pagar muito caro o desvario com que utilizámos o cabaz de dinheiro que veio da Europa e que permitiu sonhar que as dívidas nunca seriam pagas. Pior, no delírio consumista, nem sequer nos preocupámos em criar um modelo económico (cultural e social, acrescente-se) para Portugal. Passámos a viver ao ritmo dos solavancos da Europa. Destruímos alegremente indústria, agricultura e pescas em troca de fundos.
A forma como Alberto João Jardim encara os sucessivos buracos que vão sendo revelados nas contas da Madeira demonstra que em Portugal tudo se varre para debaixo da mesa, como lixo não desejável. A casa continua suja, mas ao menos está escondida. Em Portugal não há crime nem castigo. Porque ninguém fiscaliza nem ninguém julga.
Tudo se esquece. Porque se os holofotes estão virados para o líder do governo regional da Madeira o que é que poderemos dizer de tudo o resto que está ainda convenientemente tapado. Ou das bombas-relógio que vão agora começar a rebentar. Olhe-se só para os encargos que as Estradas de Portugal terão até 2030: um dilúvio de dívidas que são um dos maiores absurdos deste mundo. E, sobre isso, Paulo Campos (o secretário de Estado de José Sócrates) continua sólido como betão: acha que fez muito bem. Como todos acharam que fizeram um bem descomunal à Pátria.
Portugal dedicou-se militantemente a gastar dinheiro que não tinha, chutando para a frente os custos, em vez de se centrar na criação de um modelo económico com pés e cabeça. Pagámos principescas fortunas a Michael Porter e colocámos depois os seus estudos na gaveta, contentes com a nossa consciência. Este é, aliás, o país dos estudos e da falta de concretização deles. E o país dos inquéritos inacabados ou que desaparecem sem rasto, sem culpado e sem crime.
O que o caso da Madeira nos alerta é para a total incapacidade das gerações políticas que governaram o país depois do 25 de Abril (com nobres excepções, é claro) que encararam o Estado como propriedade privada e o país como um jogo do Lego. O que agora nos vai caindo na cabeça aos poucos, como pedras que doem. Como dores de um regime que não construiu um destino para Portugal. Construiu sim um destino para os seus partidos e para os seus dirigentes.
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