Opinião
Mulheres à beira de um avanço económico
Em 2010, duas mulheres quenianas, Jamila Abbas e Susan Oguya, revoltaram-se ao ler reportagens dos jornais sobre intermediários que exploram os pequenos agricultores.
Em 2010, duas mulheres quenianas, Jamila Abbas e Susan Oguya, revoltaram-se ao ler reportagens dos jornais sobre intermediários que exploram os pequenos agricultores. Em resposta, as duas profissionais de tecnologias da informação fundaram a M-Farm, uma empresa que envia, em tempo real, para os agricultores, os preços dos produtos hortícolas e outras informações de mercado, através de SMS, conectando-os directamente a exportadores de alimentos, e eliminando os intermediários. Agora, menos de dois anos depois, a M-Farm chega a mais de 2 mil agricultores no Quénia, incluindo muitas mulheres que cultivam pequenas propriedades, e ganhou vários prémios internacionais.
Abbas e Oguya representam uma nova classe de mulheres inovadoras. Construíram um negócio lucrativo que dá poder às mulheres, e que contribui para uma sociedade mais aberta e inclusive. São mulheres como elas – empreendedoras que fundam empresas, criam empregos e abrem caminho em direcção à igualdade de géneros no mundo em desenvolvimento – que iremos celebrar no 101º Dia Internacional da Mulher, a 8 de Março.
De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2012, do Banco Mundial, que incide sobre a igualdade de género, os 3,5 mil milhões de mulheres e raparigas do mundo ainda enfrentam desigualdade nos campos da educação, emprego, salário e poder de decisão.
O relatório mostra que a desigualdade entre géneros tem um custo, enquanto a igualdade para com as mulheres pode criar oportunidades económicas e aumentar a eficiência e a produtividade. Por exemplo, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla inglesa) estima que, se as mulheres das áreas rurais tivessem o mesmo acesso à terra, tecnologia, serviços financeiros, educação e mercados que os homens, a produção agrícola poderia aumentar e o número de pessoas famintas reduzido em 100 a 150 milhões.
Há sinais animadores no horizonte. A lista publicada pela revista Forbes – "100 Mulheres Mais Poderosas" – listou, no ano passado, a sua tradicional colecção de governantes, activistas e líderes empresariais, mas incluiu também um novo quadro de mulheres do universo da tecnologia: capitalistas de risco, administradoras de jovens empresas, e engenheiras na dianteira das inovações tecnológicas.
Mulheres empreendedoras, nos países em desenvolvimento, enfrentam dificuldades particulares em criar empresas expandi-las para negócios com potencial de crescimento. O relatório do Banco Mundial "Mulheres, Negócios e Direito", de 2011, observou que as mulheres de 103 das 141 economias analisadas ainda enfrentam discriminação legal, com base no género. O facto de a M-Farm ter sido fundada no Quénia não é uma coincidência: de acordo com o mesmo relatório, o Quénia liderou o mundo em termos de reformas promotoras da igualdade entre géneros nos últimos dois anos.
As novas tecnologias da comunicação também ajudam, não só como um meio de fazer negócios, mas também na diminuição das barreiras sociais. Abbas e Oguya conceberam a M-Farm como membro da AkiraChix, uma organização sediada em Nairobi, de mulheres empresárias e do universo da tecnologia, determinada a "mudar o futuro de África".
Programas de desenvolvimento inteligentes desempenharam, igualmente, um papel. O programa "Criação de Negócios Sustentáveis", um esforço colaborativo por parte do governo finlandês, da Nokia e da infoDev – uma parceria global do Banco Mundial - apoiou a AkiraChix com verbas, no sentido de consolidar este modelo para outras incubadoras empresariais e centros sociais geridos por mulheres.
As novas tecnologias também podem gerar empregos para os mil milhões de mulheres mais pobres do mundo. Pessoas com um nível de escolaridade limitado podem conseguir um rendimento através da realização de micro-tarefas, como a inserção de dados. Muitas vezes isso requer acesso a um computador, mas há um número crescente de aplicações a distribuir micro-trabalho em telemóveis. Estando 80% dos actuais 6 mil milhões de telemóveis localizado nos países em desenvolvimento, o micro-trabalho pode resultar na criação substancial de emprego e oportunidades para jovens, mulheres e pessoas com deficiência.
Com uma população mundial de 7 mil milhões de pessoas, precisamos de mulheres e de homens para responder aos desafios do nosso tempo, como as alterações climáticas, a segurança alimentar e o crescimento sustentável da economia. A história de Abbas e Oguya no Quénia pode ser uma inspiração para as mulheres em todo o mundo. O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade para homenagear mulheres como elas – e lembrar que, uma vez que as mulheres representam metade das soluções do mundo, a tecnologia e a inovação também devem ser da sua conta.
Heidi Hautala é ministra da Finlândia para o Desenvolvimento Internacional e foi membro do Parlamento Europeu de 1995 a 2003 e de 2009 a 2011. Janamitra Devan é vice-presidente do Banco Mundial para o Desenvolvimento do Sector Financeiro e Privado.
© Project Syndicate, 2012.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
Abbas e Oguya representam uma nova classe de mulheres inovadoras. Construíram um negócio lucrativo que dá poder às mulheres, e que contribui para uma sociedade mais aberta e inclusive. São mulheres como elas – empreendedoras que fundam empresas, criam empregos e abrem caminho em direcção à igualdade de géneros no mundo em desenvolvimento – que iremos celebrar no 101º Dia Internacional da Mulher, a 8 de Março.
O relatório mostra que a desigualdade entre géneros tem um custo, enquanto a igualdade para com as mulheres pode criar oportunidades económicas e aumentar a eficiência e a produtividade. Por exemplo, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla inglesa) estima que, se as mulheres das áreas rurais tivessem o mesmo acesso à terra, tecnologia, serviços financeiros, educação e mercados que os homens, a produção agrícola poderia aumentar e o número de pessoas famintas reduzido em 100 a 150 milhões.
Há sinais animadores no horizonte. A lista publicada pela revista Forbes – "100 Mulheres Mais Poderosas" – listou, no ano passado, a sua tradicional colecção de governantes, activistas e líderes empresariais, mas incluiu também um novo quadro de mulheres do universo da tecnologia: capitalistas de risco, administradoras de jovens empresas, e engenheiras na dianteira das inovações tecnológicas.
Mulheres empreendedoras, nos países em desenvolvimento, enfrentam dificuldades particulares em criar empresas expandi-las para negócios com potencial de crescimento. O relatório do Banco Mundial "Mulheres, Negócios e Direito", de 2011, observou que as mulheres de 103 das 141 economias analisadas ainda enfrentam discriminação legal, com base no género. O facto de a M-Farm ter sido fundada no Quénia não é uma coincidência: de acordo com o mesmo relatório, o Quénia liderou o mundo em termos de reformas promotoras da igualdade entre géneros nos últimos dois anos.
As novas tecnologias da comunicação também ajudam, não só como um meio de fazer negócios, mas também na diminuição das barreiras sociais. Abbas e Oguya conceberam a M-Farm como membro da AkiraChix, uma organização sediada em Nairobi, de mulheres empresárias e do universo da tecnologia, determinada a "mudar o futuro de África".
Programas de desenvolvimento inteligentes desempenharam, igualmente, um papel. O programa "Criação de Negócios Sustentáveis", um esforço colaborativo por parte do governo finlandês, da Nokia e da infoDev – uma parceria global do Banco Mundial - apoiou a AkiraChix com verbas, no sentido de consolidar este modelo para outras incubadoras empresariais e centros sociais geridos por mulheres.
As novas tecnologias também podem gerar empregos para os mil milhões de mulheres mais pobres do mundo. Pessoas com um nível de escolaridade limitado podem conseguir um rendimento através da realização de micro-tarefas, como a inserção de dados. Muitas vezes isso requer acesso a um computador, mas há um número crescente de aplicações a distribuir micro-trabalho em telemóveis. Estando 80% dos actuais 6 mil milhões de telemóveis localizado nos países em desenvolvimento, o micro-trabalho pode resultar na criação substancial de emprego e oportunidades para jovens, mulheres e pessoas com deficiência.
Com uma população mundial de 7 mil milhões de pessoas, precisamos de mulheres e de homens para responder aos desafios do nosso tempo, como as alterações climáticas, a segurança alimentar e o crescimento sustentável da economia. A história de Abbas e Oguya no Quénia pode ser uma inspiração para as mulheres em todo o mundo. O Dia Internacional da Mulher é uma oportunidade para homenagear mulheres como elas – e lembrar que, uma vez que as mulheres representam metade das soluções do mundo, a tecnologia e a inovação também devem ser da sua conta.
Heidi Hautala é ministra da Finlândia para o Desenvolvimento Internacional e foi membro do Parlamento Europeu de 1995 a 2003 e de 2009 a 2011. Janamitra Devan é vice-presidente do Banco Mundial para o Desenvolvimento do Sector Financeiro e Privado.
© Project Syndicate, 2012.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria