Opinião
Mudar de vida
Por muitas dúvidas cartesianas que o Orçamento do Estado permita a cabeças tecnicamente formatadas, há no texto uma virtude inquestionável: é politicamente corajoso. No fundo porque chama as pessoas à realidade, contando, sem subterfúgios, a verdade.
É bom que se interiorize o desígnio que emerge do que se tem construído como uma tragédia nacional: Portugal tem de começar a viver com a riqueza que produz. O caminho faz-se prosseguindo e perseguindo o fim de privilégios corporativos enxertados em bolsas de egoísmo ao longo de 30 anos de democracia – o cidadão intuiu a sua segurança como um bem inexpugnável, apagando o contributo fundamental para a segurança do outro. É bom que haja contestação pela diminuição de contrapartidas nas reformas antecipadas, é normal e saudável que os autarcas e os líderes regionais estrebuchem por terem de contribuir para o país onde existem. Há exemplos que mostram a compreensão dos eleitores: Rui Rio e Fernando Seara ganharam eleições sem promessas. O primeiro Orçamento de José Sócrates oferece pouco e exige muito. É esse pormenor que o transforma num contributo para o verdadeiro choque que o país precisa: aprender a viver dentro das suas possibilidades. O que não significa perda de ambição. Pelo contrário.
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