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Fernando Braga de Matos 28 de Agosto de 2009 às 11:46

Mercados financeiros e ventania (parte IV)

Onde, finalizando, se aplica mais uma vez aos pacientes leitores a receita do Mercado Coerente, sendo a girândola uma conclusão, esbelta e sintética na forma, e possivelmente interessante na substância . Entretanto quanto ao tempo atmosférico...

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(Onde, finalizando, se aplica mais uma vez aos pacientes leitores a receita do Mercado Coerente, sendo a girândola uma conclusão, esbelta e sintética na forma, e possivelmente interessante na substância . Entretanto…quanto ao tempo atmosférico, a ventania deu lugar à chuva e marés vivas, cá pelos lados de Moledo, havendo esperança que ainda chegue a nevar).


Então como se comportam os mercados de activos financeiros (principalmente as nossas queridas bolsas de acções), se as cotações não são números aleatórios em sistema perfeitamente eficiente (1)?

Movem-se em ciclos de subida e descida, como a economia em geral, embora com diferimento temporal de antecipação. Na ascensão, vão sair do baixio onde se encontravam , na previsão da viragem para a subida, de forma quase eficiente com motivação racional. Depois, enquanto a tendência perdura, irá acontecer um tempo em que a eficiência e racionalidade vão sendo substituídas pela predominância do sentimento, uma exuberância irracional, segundo o baptismo de Greenspan. Acabou a quase eficiência, por conseguinte. O ciclo muda e as coisas prosseguem, "mutatis mutandi", agora com os valores a deflacionar. No final, provavelmente ocorre um "clímax" de negativismo excessivo, voltando a predominância do sentimento, agora de medo.

As octanas do combustível resultam do crédito fácil ou difícil, isto é, da abundância ou escassez de meios de pagamento que municiam a procura. Vê-se, pois, como os Bancos Centrais podem "alisar" os excessos do ciclo (2).

Então, os mercados podem não ser perfeitamente eficientes, mas são coerentes (3), correndo na maior parte do tempo com predominância de eficiência e racionalidade e, intervalarmente, com as qualidades contrárias.

Tentando agora resumir e encaixilhar o longo percurso desta "tetracrónica":
1- Os mercados de bens e serviços, devidamente arquitectados nos seus pressupostos, assegurando a concorrência, adequada informação e atomismo, são (quase sempre) eficientes.
2- Os mercados financeiros, com as mesmas premissas, são quase-eficientes a maior parte do tempo, mas, por vezes, comportam-se com total ineficiência, ao ponto de a própria lei da oferta e da procura sair afectada (4). Mergulhados na Grande Crise do Crédito, tal evidência é mesmo "evidente".
3- Não pode ser esquecida profunda influência do comportamento dos intervenientes, funcionando em psicologia de grupo, o que se revela na "memória do mercado" e na predominância do "sentimento" em finais de curva do ciclo económico-financeiro.
4- Tudo visto, parece ser possível afirmar que o ciclo de desenvolve nos seguintes modos de mercados: coerente de subida, excessivo de subida, coerente de descida, excessivo de descida. 5-Pragmaticamente recusando dogmatismos teóricos, parece razoável aproveitar ambos os campos, o da Teoria dos Mercados Eficientes (TME) e a de Keynes/Minski, ou melhor, das suas receitas, nos tempos oportunos. No fundo, recorrendo às conclusões do método experimental, suportado nos dados empíricos.
6- O papel de regulador da moeda e crédito e último defensor da estabilidade do sistema vai ser do Banco Central (e do Tesouro), como pretendia Keynes, com o paradoxal apoio dos da TME, eles também claramente activistas quando banqueiros centrais.
7- Se nos lembrarmos que o padrão-ouro só foi abolido há menos de quarenta anos, a moeda fiduciária vem desse momento e as inovações financeiras não cessam de aparecer, só podemos concluir que ainda há muita margem para experimentar e errar - e também definitivamente para aprender lições, tanto as do extraordinário sucesso dos mercados livres, como as da disfuncionalidade provocada pelas crises, provavelmente mais endémicas que extrínsecas.
8- Logo: quando os mercados financeiros ameaçam deixar de se comportar eficientemente, teremos de confiar no intervencionismo do Homem do Leme (5), o tal que ainda tem muito que estudar, por muito que tenha já aprendido, como o brilhante Bernanke.


(1)A Teoria dos Mercados Eficientes foi desenvolvida e apresentada por um françiu, Bachelier, que Poincaré tramou, no início do sec. XX. Os amerloques da Universidade de Chicago apenas o redescobriram e ampliaram 50 anos mais tarde. Todas as referências que fui lendo, aludem à elegância e subtileza das equações - diga-se.
(2)Por ser muito recente e importante, exemplifico com a subida da taxa de juro do Banco da China, preocupado com a possível bolha especulativa da Bolsa de Xangai, que este ano subiu 100% em média. A expectativa negativa já provocou uma queda de 20%.
(3)A Teoria do Mercado Coerente de Tonis Vaga tem mais cambiantes que agora omito.
(4)E não por veto presidencial.
(5)E do Governo, em modo Keynesiano - mas para sair logo que possível.



Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote) e "Bolsa para Iniciados" (ed. Presença) fbmatos1943@gmail.com
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