Opinião
Liderança Heróica
É hoje lançado em Lisboa, numa iniciativa da ACEGE e da Editorial Verbo, um livro de Chris Lowney, quadro de topo da J.P. Morgan durante 17 anos, intitulado «Liderança Heróica».
Trata-se de um livro em que o autor lança um apelo profundo a um estilo de liderança que englobe toda a vida da pessoa e esteja baseado na capacidade individual de ser fiel a convicções e objectivos de vida.
Uma obra surpreendente que sublinha uma das causas mais profundas que impede tantos portugueses de se assumirem como líderes: a incapacidade de gerirem a normalidade da sua vida, a incapacidade, em suma, de perceberem o sentido da sua acção e do seu trabalho.
Creio que, infelizmente, muitos portugueses não fizeram ainda uma reflexão sobre o sentido da sua vida, nem sobre os objectivos que gostariam de atingir no seu trabalho e na sua família. Acredito que, de forma involuntária e inconsciente, muitos portugueses aceitaram perder o controlo do rumo da sua existência, limitando-se a viver a vida que outros lhe propõem.
É por isso que a mensagem de «Liderança Heróica» é tão importante, ao ajudar a desmistificar a ideia de liderança como algo ao alcance de uns iluminados e contrapondo, claramente, que todos e cada um de nós, é um líder, e, bem ou mal, estamos sempre a liderar.
Para se ser líder não é preciso possuir um conjunto de características ou adoptar determinados procedimentos mas, acima de tudo, importa que a liderança venha de dentro. Porque a verdadeira liderança tem tanto a ver com quem eu sou como com aquilo que faço.
Neste sentido, liderança não implica, necessariamente, êxito, status ou poder, até porque muitos líderes falharam, foram derrotados e humilhados, mas implica, obrigatoriamente, ter algo em que se acredita e ser-se heróico na honrada defesa dessas convicções.
Defende Chris Lowney, neste seu livro, que o líder não se evidencia através de práticas de comando espalhafatosas, destinadas ao espectáculo e reconhecimento público. E acrescenta que são quatro os pilares essenciais em que assenta a construção e a manutenção da liderança:
– Autoconhecimento – que implica a capacidade de cada um compreender, através de uma avaliação diária, os seus pontos fortes, as suas fraquezas, os seus valores e a sua visão do mundo;
– Engenho – que representa a coragem de inova e de adaptação a um mundo em constante mudança;
– Amor – que significa ter sempre uma atitude positiva, cheia de Amor, no relacionamento com os outros;
– Heroísmo – que reclama a capacidade de uma constante automotivação assente em ambições heróicas.
Eis, pois, um conjunto de princípios que tanta falta nos tem feito e que urge assimilar. Chega de fórmulas mágicas para atingir a liderança. Consciencializemo-nos, de uma vez por todas, que cada um de nós tem uma esfera de influência muito maior do que imagina. Que cada um de nós é um líder e que a nossa acção determina não só o nosso futuro individual, mas também o futuro colectivo da sociedade em que estamos inseridos.
É tempo de pôr termo à busca de salvadores e iluminados que nos guiem. É essencial começarmos por nos encontrarmos a nós próprios, percebermos o nosso lugar no mundo e o caminho que queremos trilhar com a nossa vida.
É essencial fugirmos a lideranças estereotipadas, consensuais e ocas.
É tempo de voltarmos a cultivar lideranças baseadas em convicções profundas, lideranças confirmadas pela Vida vivida, lideranças que valham pelo que são e não pelo que ostentam ou aparentam.
No fundo, é preciso voltarmos a cultivar lideranças heróicas, ou melhor, vidas heróicas.