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21 de Fevereiro de 2011 às 11:42

Integrar o Magrebe

A "revolução de Jasmim" na Tunísia chamou a atenção para as consequências da estagnação económica e do desemprego endémico entre os jovens para os governos árabes autoritários da região.

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Algo pouco noticiado é um factor chave deste mal-estar: a incapacidade dos países do Magrebe - Argélia, Líbia, Mauritânia, Marrocos e Tunísia - para aumentar a cooperação económica.

De facto, a União Árabe estima que a falta de integração regional custe a cada país dois pontos percentuais do crescimento anual do produto interno bruto (PIB), enquanto a Comissão Económica Africana calcula que se existisse uma União do Magrebe, cada um dos cinco países ganharia 5% do PIB. O Banco Mundial estima que uma integração mais profunda, que incluísse uma liberalização dos serviços e a reforma das regras de investimento, pudesse ter aumentando o rendimento real per capital, entre 2005 e 2015, em 34% na Argélia, 27% em Marrocos e 24% na Tunísia. Estes países não se podem dar ao luxo de continuar à espera. Se mantiverem as taxas de crescimento económico registadas nos últimos cinco anos, vão demorar mais de duas décadas a alcançar o actual rendimento per capita dos países menos ricos da OCDE, México e Turquia.

Um mercado único dinâmico poderia criar oportunidades de investimento para as empresas da região. Mas, actualmente, apenas entre 1,2% e 2% do comércio externo dos cinco países do Magrebe ocorre na região. A questão principal é se os problemas estruturais ou os factores institucionais e políticos estão a impedir o desenvolvimento do comércio intra-regional.

Em termos económicos, o baixo nível de comércio entre países do Magrebe pode ser explicados por factores como a pequena dimensão dos mercados e a baixa complementaridade do comércio - por outra palavras, a fraca ligação entre exportações e importações. O potencial do comércio intra-Magrebe parece, em parte, ser limitado pelas semelhanças das economias de alguns países, em especial Marrocos e Tunísia. Tendo em conta as exportações dos dois países para a União Europeia, o índice de Finger-Kreinin, que mede as semelhanças comerciais, é superior a 70%.

A integração regional poderia contribuir para um maior crescimento de duas formas. Em primeiro lugar, a integração do Magrebe poderia criar economias de escala e aumentar a concorrência, estabelecendo um mercado de mais de 75 milhões de consumidores - semelhante em dimensão a algumas das mais dinâmica potências comerciais do mundo e, certamente, suficientemente grande para aumentar a atractividade da região para os investidores estrangeiros. Em segundo lugar, a integração regional poderia reduzir os efeitos "centro e periferia" entre a União Europeia e o Magrebe - efeitos que ocorrem quando um grande país ou região assina acordos comerciais bilaterais com vários países pequenos.

A globalização dos mercados está a funcionar como um poderoso regulador das economias, mas está também a desestabilizar as zonas mais fracas do globo. Se os países do Magrebe se fragmentarem ainda mais em entidades hostis e proteccionistas, o único resultado possível é um crescimento económico demasiado fraco para satisfazer as necessidades das populações - já evidentes pelos crescentes contrastes nos padrões de vida a Norte e a Sul do Mediterrâneo.

Perante os crescentes desafios da globalização, a única força suficientemente forte para aproveitar o enorme potencial económico do Magrebe é a vontade política partilhada. De outra forma, a região parece destinada a tornar-se num espaço económico e político permeável, castigado pela incerteza e pela instabilidade. Num mundo instável, um Magrebe integrado é uma necessidade e uma oportunidade.

Ainda assim, muitos decisores políticos - e opinião pública - do Magrebe continuam a ter uma opinião ambivalente em relação à integração da região. Assim, é urgente desenvolver um projecto político que capte a imaginação das pessoas e dos líderes da região.

Nada realça tão bem os benefícios da integração regional como os grandes projectos de infra-estruturas que são do interesse comum para diversos países. Parcerias na área dos transportes, por exemplo, teriam, não só, um forte impacto político e uma grande visibilidade, como aproximariam os cidadãos do Magrebe, tanto física como psicologicamente.

Os projectos energéticos poderiam também ser reforçados, já que as necessidades de energia deverão crescer mais rapidamente a Sul do Mediterrâneo do que na Europa. Estes projectos aumentariam imenso a integração do Magrebe se fossem acompanhados por projectos industriais dependentes do gás como matéria-prima ou como fonte de energia e desenvolvidos em parceria com a União Europeia. Os abundantes recursos de gás da região poderiam ainda ser usados em fábricas de dessalinização destinadas a responder às enormes necessidades de água do Magrebe.

De facto, a explosão demográfica da região e a rápida urbanização, juntamente com o ritmo acelerado do desenvolvimento turístico, já significa que a escassez de água está a abrandar o crescimento. O desenvolvimento de infra-estruturas hídricas é vital para o Magrebe. Assim, se há uma questão que deveria unir a região é a gestão e afectação dos recursos hídricos.

No entanto, a primeira meta a atingir deve ser a resolução dos conflitos inter-estados, como a disputa entre a Argélia e Marrocos em torno do Saara Ocidental, que impedem a criação de um Magrebe unificado. De outra forma, vai ser difícil discernir o perfil de um futuro comum. E, sem esse futuro, é muito pouco provável que o desespero económico que levou à revolução na Tunísia desapareça.



Larabi Jaidi é professor de Economia na Universidade Mohammed V em Marrocos.


© Project Syndicate, 2010.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques
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