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05 de Março de 2004 às 15:20

Informações do país cabisbaixo

Parece que já ninguém tem dúvidas: somos administrados por uma classe dirigente inepta, falsamente jovem e acentuadamente decrépita, incapaz de conduzir o País (em termos capitalistas que seja)...

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Parece que já ninguém tem dúvidas: somos administrados por uma classe dirigente inepta, falsamente jovem e acentuadamente decrépita, incapaz de conduzir o País (em termos capitalistas que seja) para o que eles chamam o “desenvolvimento sustentado.”

Portugal é um local triste de alma, indigente de espírito, deprimido porque sem horizontes, onde a melancolia mais acabrunhante alterna com a violência mais sórdida.

O estupor nacional suscitado pela revelação do escândalo da pedofilia associou-se à nossa congénita misantropia e à desorientação causada por vários Governos que não governam – mas que autocelebram, constantemente, as suas invisíveis virtudes.

As “élites” expõem a sua pitoresca representação num programa televisivo tão bizarro quanto absurdo, a que a SIC deu o extraordinário título de A Quadratura do Círculo. Apresentado como a flor dos deuses, a curiosa reunião semanal, em Carnaxide, é a grande metáfora do nada.

Os “novos empresários” e alguns pensadores adjacentes, enfeitados de erudição, reuniram-se no austero Convento do Beato e realizaram uma pândega chamada Compromisso Portugal. Ninguém medianamente alfabetizado tomou aquilo a sério.

Os políticos atingiram o grau zero da credibilidade. O inquérito europeu, cujos resultados o “Jornal de Negócios” publicou, na edição de terça-feira última, é mortal para aqueles cavalheiros, cujos jogos de dissimulação e de mentira se tornaram num lascivo artifício.

O CDS-PP, de módica representação eleitoral, desempenha o papel principal num Governo obtuso, que nos odeia, e parece empenhado em totalitarizar a sociedade portuguesa.

Sei de perseguições a jornalistas, de contemporizações ignóbeis de directores de jornais, de cercos e compulsões a cronistas e comentadores livres, de ameaças veladas e declaradas a jovens repórteres ainda não punidos pela corrupção moral.

Conheço casos de nomes omitidos em órgãos de comunicação social, e de tráfico de influências; de censura a notícias; de tops de livros falseados. A rede de conivências chega a ser ultrajante. Nos “concursos” literários fica-se a saber, de antemão, quem vai ser o vencedor, consoante os membros do júri.

O cosmopolitismo provinciano, que tem como exemplo típico a Clara Ferreira Alves, leva as suas liturgias a excessos hilariantes: hosanas a autores estrangeiros menores, exclusão de autores (escritores, jornalistas, pintores, escultores, cineastas, actores) nacionais significativos.

A questão ideológica tornou-se num desporto particularmente requintado: um ex-director de jornal, hoje rendido às delícias da política, recusou contratar um redactor cuja competência, idoneidade ética e rigor profissional são conhecidos – porque este era “simpatizante de Fidel Castro”!

Uma criatura inqualificável, que saltou aos pontapés para o relvado de um campo de futebol, berrando ameaças e impropérios, não é imediatamente detido pela GNR, e o seu comportamento de energúmeno é benevolentemente caucionado por componentes do partido a que pertence.

O senhorito ocupa as primeiras página, os principais noticiários, profere intimações gravíssimas – mas não há memória de, nos mesmos horários nobres, ter sido dito que, diariamente, quatrocentos portugueses vão para o desemprego.

Francisco Louçã revela as contradições de Paulo Portas sobre a criminilização ou a descriminilização do aborto. Paulo Portas, mistura de tola vaidade com insegurança gesticulante, não destrói as evidências argumentativas e responde com um insulto: Louçã é um cobarde, diz.

A maneira com que se concebe a política influi no modo com que se assimila a História, e incide no processo com que se compreende os homens. Portugal – é isto.

APOSTILA – aconselho veementemente os meus Dilectos a adquirir o penúltimo número de “Le Nouvel Observateur”, cuja capa (atribuído a revista, diz-se “capa”; referido a jornal, “primeira página”) – “Les évangéliques – La secte qui veut conquerir le monde” – nos intruduz para um importante dossiê sobre os Estados Unidos e os perigos que a Administração Bush constituem para o planeta. Um extraordinário documento jornalístico.

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