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11 de Setembro de 2006 às 13:59

Há cinco Setembros

Cinco anos e muitos milhares de mortos depois, que herança nos deixou o 11 de Setembro? A dúvida que ficará para sempre na História é o que poderia ter acontecido (ou não), caso Al Gore fosse presidente americano em 11 de Setembro de 2001.

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A reacção americana teria sido idêntica? A aventura iraquiana ter-se-ia processado da mesma maneira?

Em perspectiva, tenho a sensação de que algumas coisas poderiam ter corrido de maneira diferente mas que, no essencial, os dados centrais da equação seriam basicamente os mesmos.

O 11 de Setembro foi a expressão trágica de uma divisão ideológica (é preciso não ter medo às palavras) que vinha a acentuar-se, há anos, sem que o mundo lhe atribuísse grande importância. Tendo a questão israelo-palestiniana como causa mais evidente, ela partia de um sentimento de humilhação civilizacional que afectava crescentes sectores do mundo islâmico, colocados à margem do desenvolvimento global.

Quando as televisões nos traziam imagens de ladrões a quem eram decepadas as mãos ou de decapitações dos amores desgraçados de princesas sauditas, o nosso repúdio era moderado antropologicamente, como se tivéssemos por inevitável a coexistência com esses mundos bizarros. Fomos, assim, incapazes de perceber que, ao nosso lado, estavam a desenvolver-se civilizações com lógicas muito diversas, apoiadas em mundividências que estavam longe de convergir com os nossos valores.

A cegueira ocidental tinha a sua mais patética expressão na prioridade dada às relações com os feudalismos contemporâneos no Golfo, tidos por convenientes petro-aliados. Todos fingiam não perceber que esses nababos representavam, nas suas próprias concessões internas aos ritos fundamentalistas, uma esforçada tentativa de sobrevivência. E que pouco de comum existe entre os «sheiks» que passeiam Rolls-Royces em Belgravia e os frequentadores das madrassas de subúrbio em Karachi.

O 11 de Setembro, na sua espectacularidade e trágico sucesso, mudou o mundo. Mudou-nos a nós, tornando-nos menos tolerantes e mais cínicos, aculturando-nos a relativizar conceitos e princípios. E deu aos que se vingaram a vaidade do seu inegável êxito, ao terem conseguido disturbar para sempre o nosso quotidiano.

Porém, a dimensão mais impressionante do mundo pós-11 de Setembro é a importância da sua vertente suicidária. Quem está preparado para morrer, em massa, por uma causa cria sempre perigosas tentações de sinal oposto. E, nesse cenário, seria essencial que o nosso mundo tivesse hoje outras lideranças.

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