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Gato no sofá (20-03-2008)

A política portuguesa gostaria de ser como a Ópera de Pequim, mas é feita com actores secundários e de série B. As recentes reportagens da SIC sobre o que “não conhecemos” de José Sócrates e de Luís Filipe Menezes foi elucidativa sobre o que podemos esper

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A política da encenação

A política portuguesa gostaria de ser como a Ópera de Pequim, mas é feita com actores secundários e de série B. As recentes reportagens da SIC sobre o que “não conhecemos” de José Sócrates e de Luís Filipe Menezes foi elucidativa sobre o que podemos esperar dos líderes do “bloco central”. O que mostrou o menos não se diferencia do que mostrou o mais. Ambos fazem parte da célebre “sociedade do espectáculo” que Guy Debord tão bem definiu de uma forma que se poderia aplicar ao que vimos: “de modo que ninguém pode dizer que não é enganado ou manipulado, mas é só em raros instantes que o próprio manipulador pode saber se foi vencedor”. Na SIC houve, aparentemente, um vencedor: quem manipulou o que mostrou (Sócrates); e um perdedor: quem foi manipulado pelo que revelou (Menezes). No meio ficou o vazio de ideias. O que deveria ser fundamental num político. E depois queixem-se, como os actores da nova vida de celebridades, que estão a entrar a sua vida privada?

A via liofilizada para o socialismo

Portugal caminha, a passos largos, para se tornar a maior sucursal de uma multinacional que quer liofilizar o mundo. Deseja que sejamos todos “clean” e Sócrates é o seu apóstolo no sítio. Já não bastava o cerco da ASAE ao que comemos (um amigo que costumava viajar pelo país e que ia comer a todas as tascas onde existia os melhores pitéus nacionais, diz que tem agora um problema: muitas delas foram fechadas pela ASAE por questões de “limpeza” – e eu respondi: estamos a ser encaminhados para a “fast food”, sob o manto de quererem a nossa saúde), à militância das corridas saudáveis do primeiro-ministro, e das múltiplas políticas “light” do Governo (só na Arrábida é que se pode continuar a fazer poluição, mas como é um local único, não há problema?). Agora uma luminária do PS decidiu que é preciso erradicar os piercings e as tatuagens do corpo dos jovens. É a via liofilizada para o socialismo no seu esplendor. Quem pensou nesse projecto de lei nunca deve ter sido jovem, nunca fez parte de uma tribo urbana e deve ter passado rapidamente dos bancos da escola primária para uma Jota e daí para o hemiciclo parlamentar.

Maioria ruidosa

A propósito dos piercings e das tatuagens bastou ver que a palermice legal que o PS quer impor vai ter, em Portugal, uma manifestação de uma maioria ruidosa muito superior à que esteve na manifestação dos professores. Bastava ter olhado, como eu fiz, para os milhares de jovens, com piercings e tatuagens, que foram para o concerto dos Tokio Hotel. Que não houve, lamentavelmente.

Nuvem passageira

Luís Filipe Menezes está a candidatar-se ao papel de nuvem passageira do PSD. Depois dos pagamentos das quotas e da ridícula mudança do símbolo do PSD (a despropósito: o que é que o herdeiro político de Sá Carneiro, o jovem que sempre falou do PPD/PSD, Santana Lopes, tem a dizer sobre o assunto? Concorda?) Menezes referiu que o mais importante, para ele, são as massas e não os barões. Aceita-se. Mas também é verdade que nem todos têm perfil para Nero, o que atirava os senadores para os leões para gáudio das massas que aplaudiam no Coliseu. O problema é se os senadores um dia fogem e vão fundar um Coliseu ao lado.

E Ângelo Correia?

No “grande jogo” que se tornou a luta de bastidores no PSD, Ângelo Correio pede diálogo. Mas será que é isso que a pedra mais influente da actual equipa dirigente do PSD quer? Agir no segredo é a melhor das tácticas políticas. Isso explicava John Le Carré. E Maquiavel.

Naifa novamente

Por estes dias tenho escutado o novo disco dos A Naifa, “Uma Inocente Inclinação Para o Mal”, que deve sair um dia destes. Letras de Maria João Rodrigues para o grupo de João Aguardela e Luís Varatojo, e para a bonita voz de Maria Antónia Mendes. Há aqui pop e fado, mas há muito mais influências, num rigoroso jogo de influências da aldeia global onde os sons se cruzam à velocidade da luz. E ela ilumina, de forma brilhante, este novo disco. Comecem, por exemplo, por “Filha de Duas Mães”. Comovente.

Terrorismo e cultura

Michael Burleigh escreveu um dos livros mais interessantes que tenho conhecimento sobre o terrorismo: “Blood and Rage: the Cultural History of Terrorism”. A obra acompanha os niilistas, os revolucionários do século XIX de todas as tendências, os elementos das Brigadas Vermelhas, ETA, Grupo Baader-Meinhof, OAS, todas as facções da OLP, Al-Qaeda, IRA ou lealistas irlandeses. Que têm eles em comum? A utilização do terror como trunfo de diferentes motivações (da luta política ao puro roubo). A tecnologia sempre foi fascinante para todos eles, diz Burleigh: não é por acaso que passaram rapidamente da pólvora para a dinamite, ou das dicas que os jornais do século XIX davam para se construir bombas e que hoje se encontram facilmente na Internet. E, claro, fala-se de como os diferentes movimentos culturais olhavam para o terrorismo (“que importam as vítimas desde que o gesto seja belo?”, interrogava-se o poeta francês Tailharde) Um livro delicioso para curiosos e profissionais.

Pasmados renovado

Na bela serra da Arrábida situa-se a Quinta de Pasmados, de onde vêm as uvas de que se faz um dos mais emblemáticos e estimulantes vinhos da José Maria da Fonseca: o Pasmados. O Tinto e o Branco da colheita de 2006 estão agora aí, à venda. Experimentem, quanto mais não seja seduzidos pela nova imagem das garrafas. O vinho, de qualidade, é o mesmo. O aroma do tinto (Touriga Nacional, Syrah e Castelão) cruza-se com a frescura do branco (Arinto, Viozinho, Esnaga e Viogner). Uma redescoberta.

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