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Espiões da República das Bananas

John Le Carré transformou o mundo da espionagem. Nos livros de Smiley, as técnicas, enganos e falhanços foram transformados numa metáfora onde se combinava a decadência nacional com a desintegração das certezas, da confiança e da lealdade.

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John Le Carré transformou o mundo da espionagem. Nos livros de Smiley, as técnicas, enganos e falhanços foram transformados numa metáfora onde se combinava a decadência nacional com a desintegração das certezas, da confiança e da lealdade.

Os serviços de inteligência de um Estado dizem muito sobre a saúde democrática do País. Por isso o que se passou no SIED, um dos epicentros dos serviços de informação nacionais, torna Portugal numa República das Bananas.

Locais onde os serviços secretos são um clube de amigos que se entretêm a defender os seus interesses em vez dos do país. Onde a espionagem é um bananal e as informações confidenciais deixam de estar ao serviço do Estado para estarem nas mãos de particulares.

Não era por acaso que Le Carré chamava ao MI6, o "circus", no sentido de ser um circo mas também de ser uma praça circular. Ou seja um local onde circulavam interesses e se praticava o "trade-off". O que é deprimente é que a forma como se recolhiam informações revela que em Portugal parte do sector de inteligência é uma agência de "clipping" da Internet, com uns pós sobre os pecados mortais de alguns indígenas.

Um país com espiões assim não é uma nação. Nada de estranho. A espionagem não é uma santa casa em busca da bondade dos seus humanos. Procura a escuridão e os pecados. Para os usar como trunfos. Por isso é tão importante na guerra, na economia ou na política. Mesmo pelos maus motivos.

Mas quando tudo isso é usado, num sistema democrático, em benefício de um clube de amigos, é porque os valores estão errados. E o sistema criado deve ser implodido. Para renascer mais são.

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