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Encontrar valor na China

Em forte contraste com o abrandamento da economia está a rápida subida verificada no mercado chinês de ações A, que gerou um retorno superior a 100% nos últimos 10 meses.

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O "bull market" que dura há um ano nas ações A da China teve por base o sentimento e o ímpeto, com dezenas de milhões de investidores a optarem por investir pela primeira vez nos mercados bolsistas. Embora o retorno de mais de 100% das ações A nos últimos meses não reflita a realidade económica mais geral da China, o mercado encontra-se na altura certa para os stock pickers que estão prontos para descobrirem oportunidades que possam ter passado despercebidas.

Uma subida com a duração de um ano
As autoridades chinesas reduziram as taxas de depósito e de cedência de liquidez, o terceiro corte efetuado em seis meses. Este corte ocorreu no seguimento da divulgação de um fraco volume de transações e de dados relativos ao IPC dececionantes. Foram já anunciadas este ano outras medidas de menor restritividade, tais como cortes na taxa de reservas obrigatórias das instituições de crédito e prevê-se que estas medidas sejam seguidas por outras à medida que os reguladores chineses vão reagindo ao abrandamento do dinamismo económico do país.

Em forte contraste com este abrandamento está a rápida subida verificada no mercado chinês de ações A, que gerou um retorno superior a 100% nos últimos 10 meses. A subida das ações A foi muitas vezes marcada por grandes oscilações diárias, com dezenas de milhões de investidores a irem pela primeira vez atrás da maioria e a investirem nos setores e nos títulos mais populares na altura. Na corrida às ações, pouco teve a ver com os fundamentais das empresas ou económicos e deveu-se, em larga medida, à liquidez, ao sentimento e ao ímpeto.

Em parte, por detrás disto estão as próprias autoridades chinesas, por anunciarem novas iniciativas tais como o plano "One Belt, one Road" que fez com que os títulos de infraestruturas atingissem avaliações caras ainda que os benefícios do plano possam estar a anos ou até décadas da sua concretização. Os media estatais também contribuíram para aumentar o ímpeto e a volatilidade, pelo facto de um dia dizerem à população que o "bull market" se iria manter, para no dia seguinte dizerem que os investidores deveriam estar atentos a potenciais correções.

Mais de 80% do volume diário de transações provém dos investidores privados, muitos dos quais estão a investir pela primeira vez. Como é que os investidores profissionais podem encontrar valor num mercado impulsionado pelo sentimento e pelo ímpeto?

Não investindo no ímpeto
O primeiro lugar para procurar é talvez aquele onde não estão os outros milhões de investidores, descobrindo aqueles setores e títulos que podem não ser neste momento o centro das atenções, mas que representam oportunidades reais de valor e crescimento.

Quando Xi Jinping começou a sua luta contra a corrupção em 2013, o setor de bens de consumo discricionário foi afetado, sobretudo o de produtos de luxo. Mas são os consumidores da China que constituem uma das maiores oportunidades do país e podem continuar a sê-lo nas próximas décadas.

As marcas de luxo locais deverão beneficiar com este crescimento do consumo da classe média. Talvez o melhor valor possa ser encontrado nos títulos de grande capitalização, uma vez que a recente subida foi liderada pelas empresas de pequena capitalização.

Note-se, por exemplo, a Kweichow Moutai (com uma capitalização bolsista de 46 mil milhões de dólares), uma marca pouco conhecida fora da Grande China, mas que tem grande força no país. É uma empresa provincial detida pelo Estado e a marca mais conhecida de baiju (uma bebida espirituosa tradicional chinesa). Geralmente é reservada para ocasiões especiais. As vendas registaram um aumento substancial antes do combate à corrupção, tendo diminuído ligeiramente desde 2013. A classe média chinesa cada vez mais rica está a regressar à marca, especialmente a algumas das suas variedades que visam os mais abastados.

A marca, tal como outras empresas de bens de consumo, está a beneficiar de fatores favoráveis. Estes incluem não só o crescimento exponencial da classe média chinesa como também as políticas destinadas a impulsionar a atividade de F&A relacionadas com as atuais reformas das empresas estatais. As empresas líderes da indústria como a Kweichow Moutai estão a ser cada vez mais encorajadas a consolidarem-se dentro do seu setor.

A Gree (com uma capitalização bolsista de 27 mil milhões de dólares), um dos maiores fabricantes de ar condicionado da China, é outro exemplo de outra empresa que irá beneficiar com o crescimento da classe média chinesa. As vendas da Gree estão em parte ligadas ao ciclo imobiliário e os investidores têm mostrado tendência para olhar para a Gree como uma empresa industrial em vez de reconhecer o seu valor como marca de consumo. Caso haja uma viragem no ciclo imobiliário, esta será uma empresa em que os investidores estarão cada vez mais focados.

Estes são apenas dois exemplos de como o mercado chinês de ações A oferece oportunidades para os investidores encontrarem títulos que representem valor na China. Apesar do atual abrandamento económico, a história da China continua forte, com o seu número crescente de consumidores mais ricos a representarem uma fonte de significativo crescimento. Com o MSCI a desenvolver planos para a eventual inclusão de ações A e a política monetária a suportar o crescimento dos consumidores chineses, as perspetivas de longo prazo para o mercado são muito positivas. Neste momento, o mercado está na altura propícia para a seleção de títulos por parte dos investidores que compreendam o perigo de investir no ímpeto e saibam identificar os títulos e setores que continuam subvalorizados.


Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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