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30 de Agosto de 2011 às 12:00

Crise na Zona Euro: últimos desenvolvimentos

A cimeira da Zona Euro que decorreu no final de Julho tinha como objectivo pôr fim à crise da dívida periférica e evitar o contágio a Espanha e a Itália.

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A cimeira da Zona Euro que decorreu no final de Julho tinha como objectivo pôr fim à crise da dívida periférica e evitar o contágio a Espanha e a Itália. O pacote de medidas anunciadas durante a cimeira, que incluía uma ajuda adicional de 140 mil milhões de euros à Grécia e um reforço da capacidade de resposta do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (fundo europeu de resgate), foi inicialmente bem recebido pelos investidores. No entanto, em inícios de Agosto, o mercado voltou a apresentar sinais de instabilidade, o que reflecte uma certa preocupação sobre a insuficiência do pacote. Porque é que a cimeira não conseguiu acalmar os mercados, e que medidas podem ser tomadas para estancar a crise?

Acordo da Cimeira: abrangente, mas com lacunas
À primeira vista, a cimeira da Zona Euro parecia ir de encontro às expectativas. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) ficou habilitado a proceder à compra de títulos de dívida soberana no mercado, e a taxa de juro dos pacotes de resgate foi reduzida, tornando o respectivo custo menos oneroso. No entanto, cedo se tornou evidente a existência de graves lacunas, que tiveram a ver essencialmente com o facto de o EFSF não ter sido reforçado e de não terem ocorrido conversações sobre a adopção de um regime de seguro de depósito bancário da Zona Euro, apesar de se saber que a elaboração do mecanismo de alteração do âmbito de actuação do EFSF irá demorar pelo menos alguns meses.

A meio de Agosto, os investidores voltaram a ficar desiludidos, desta feita na sequência da cimeira extraordinária entre o presidente francês Nicolas Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel, pelo facto de, mais uma vez, não ter sido emitido qualquer comunicado sobre o reforço do EFSF, e por não ter sido tomada uma posição clara sobre os Eurobonds, que muitos consideram oferecer uma possível solução para a crise.

E a Grécia?
Um cenário que indubitavelmente está a ser ponderado nos bastidores do Grupo do Euro é condicionar a continuidade da ajuda financeira à Grécia ao rigoroso cumprimento, por parte deste país, do programa de modernização da sua economia. Afinal de contas, a Zona Euro não está a pedir nada que seja impossível: aumento da idade de reforma para a média da Zona Euro; pagar aos funcionários públicos 12 meses de ordenado por ano, em vez de 13; angariar impostos; vender activos públicos que não sejam essenciais.

Se a Grécia não estiver disposta a cumprir este programa, então a Zona Euro poderá retirar o apoio. No entanto, só faria sentido tomar tais medidas se houvesse fundos suficientes para proteger os restantes países periféricos endividados, mas esses fundos não estão disponíveis.

Qual a probabilidade de uma união fiscal?
As soluções a curto prazo estão nas mãos do Banco Central Europeu, que já anunciou um regresso a acordos de recompra a seis meses e já começou a comprar dívida italiana e espanhola. O BCE poderia anunciar igualmente um aumento de liquidez e possivelmente também um regime de seguro de depósitos na Zona Euro, o que aliviaria a pressão sobre os depósitos nos países periféricos. Todas estas medidas representam uma clara aproximação a uma união fiscal.

No entanto, as soluções propostas até ao momento não irão resolver o problema do endividamento excessivo: é preciso tomar mais medidas, e esta é a altura em que a Europa, como um todo, terá de decidir se está disposta a promover a transição para a união fiscal. Se a união fiscal não for para a frente, é muito provável que seja devido à oposição dos eleitores, dado o recente avanço do eurocepticismo nalguns países. Para convencer os cépticos da necessidade de caminharmos para uma união fiscal, poderá ser preciso aumentar a percepção da crise. Se assim for, é de esperar que continue a volatilidade dos preços dos activos.

Qual é o efeito da recente debilidade da economia?
O principal problema para os europeus endividados é a falta de crescimento. A expansão e retracção do crédito geraram uma dívida gigantesca, que tem de ser resolvida de alguma forma. Existem apenas três maneiras de encarar uma dívida: reduzi-la através da poupança, reduzi-la através da inflação ou deixar de a pagar. Para ajudar os governos a reduzir a sua dívida através da poupança, é preciso crescimento, mas no segundo trimestre essa perspectiva ficou seriamente comprometida.

Na União Europeia, o crescimento do PIB geralmente depende muito mais das exportações do que do consumo, pelo que o abrandamento global no segundo trimestre teve um impacto extremamente negativo na economia dos estados membros. O Índice Citigroup Economic Surprise ilustra a extensão desse impacto nos últimos meses.

O crescimento tem sido fraco, porque o aumento dos preços das mercadorias e da inflação têm restringido o consumo e conduzido a um agravamento da política monetária. De acordo com muitos analistas, a política de austeridade tem enfraquecido o crescimento interno, mas a melhor fonte de crescimento para a Europa é constituída pelas exportações para os mercados emergentes. O aumento dos preços das mercadorias no início do ano, que teve o efeito de um imposto sobre os rendimentos reais, originando igualmente aumentos de inflação em mercados emergentes, funcionou, por conseguinte, como um importante catalisador na redução da procura de bens de consumo europeus. No entanto, há um raio de esperança: com os preços das mercadorias em queda, diminuiu a pressão exercida pela inflação e pelos rendimentos, o que significa que poderemos assistir a uma recuperação do crescimento no segundo semestre.

Quais as repercussões no mercado accionista europeu?
O sector empresarial europeu, de modo geral, está de excelente saúde. As empresas apresentam balancetes consistentes e fluxos de caixa positivos, e os resultados têm melhorado à medida que o ano avança, encontrando-se a actual taxa de execução aproximadamente em linha com o valor de consenso. O prémio de risco está a níveis elevados, sobretudo devido à recente recuperação de títulos, embora este facto suscite a questão de saber se o valor das acções nos pode levar a concluir que os títulos a níveis actuais estão sobrevalorizados. A confiança do mercado sofreu um sério recuo, o que significa que ainda está extremamente dependente do factor preço. Uma injecção de liquidez, feita de forma realista pelo BCE, e uma retoma do crescimento poderiam contribuir para aumentar a confiança dos investidores.






*"Head of sales" da JP Morgan para Portugal e Espanha




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