Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
07 de Abril de 2008 às 13:59

Carlos Barral (1924-2008)

A modéstia do Professor Carlos Barral foi sempre uma das suas características pessoais, de tal modo marcadas que quando nos deixou fê-lo de modo que quase passou despercebido. Mas o seu papel e a sua influência não podem passar sem uma referência especial

  • ...

Conhecemo-nos bem e encontrámo-nos muitas vezes e em várias circunstâncias da vida. Foi amigo e próximo de um grande amigo já desaparecido há alguns anos, o Professor Alfredo de Sousa, referência cívica e um dos mais influentes renovadores da ciência económica e do ensino da economia em Portugal no último quartel do século passado. E foi na renovação e abertura das ciências da economia e da gestão que o Professor Carlos Barral se singularizou.

Graças aos seus conhecimentos e à sua experiência lançou o curso de MBA na Universidade Nova de Lisboa em meados dos anos setenta e pode dizer-se que essa iniciativa contribuiu para uma alteração significativa do ensino e dos métodos nas melhores escolas portuguesas.

Com horizontes amplos e perspectivas sempre de futuro, Carlos Barral sabia que a chave para a renovação das ciências económicas e empresariais exigia a internacionalização e a mobilidade. E assim soube ligar o rigor científico e a investigação teórica aos conhecimentos práticos – e à sua experiência, na administração da Shell Portuguesa.

Aliás o que Alfredo de Sousa pediu a Carlos Barral foi que ligasse o rigor metodológico à experiência e ao sentido prático – considerando que a formação em gestão empresarial devia ser sempre aplicada, de natureza pós-graduada, partindo de uma área concreta de actividade ou de desenvolvimento social e económico.

Encontrávamo-nos todos os anos em longas caminhadas à beira-mar nos areais algarvios e era proverbial o seu entusiasmo e a sua vontade de viver e de corresponder a novos desafios e a novas dificuldades. Sendo um homem do conhecimento e da ciência, do ensino e da formação, era também um mestre do senso comum, o que lhe permitiu ser um dos melhores cultores da ciência a que se dedicou.

Gerir bem é coordenar pessoas, é mobilizar vontades, é saber ligar meios e objectivos, e não há adequação de instrumentos e fins se não houver gosto de viver, curiosidade, espírito de risco ou de aventura. Empreender e inovar, saber apostar, compreender a contingência e a incerteza – eis a chave da boa resposta aos mais diversos desafios económicos e sociais.

A “destruição criadora” de Schumpeter, que Carlos Barral bem conhecia, obrigará sempre a viver a empresa como um lugar onde se ligam a incerteza e a determinação. Já no fim da vida, exerceu as funções cívicas de Governador Civil do Porto, com inteligência e modéstia. E quando víamos a sua postura discreta e serena quase nos esquecíamos do seu currículo excepcional e do seu saber inquestionável.

Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio