Opinião
Bailinho da Madeira
Em certos países Alberto João Jardim estaria hoje em grandes apuros, destituído, processado, eventualmente preso. Por cá não lhe vai acontecer nada. O mesmo não se pode dizer dos restantes 10 milhões de portugueses que vão receber a conta de um bailinho que dura há três décadas.
Conceda-se, Jardim tem estilo. Um estilo trauliteiro, burlesco, depreciador das regras mínimas de convivência civilizada. Eleito democraticamente age como um ditador. Humilha os adversários, censura, persegue quem ousa criticá-lo. É um homem de outro tempo e de outra cultura. Para ser um Kadhafi só lhe falta a tenda, e já agora o petróleo. Como não o tem vai saqueando o país inteiro. Hábil nas ameaças, quantas vezes já acenou com o separatismo, ainda é mais habilidoso a conseguir o que pretende. E todos, sem exceção se têm vergado à sua vontade. Governos socialistas, sociais-democratas, sucessivos presidentes, todos cederam. Ninguém sai incólume desta história.
Agora foi apanhado em flagrante. O buraco da Madeira finalmente abriu-se à vista de todos. E tal como em tanta farsa que abunda nos dias que correm, a súbita indignação dos agentes políticos e dos responsáveis institucionais é patética, hipócrita, indigna mesmo. Toda a gente sabia.
As irregularidades são evidentes, confirmadas até pelo próprio naquilo que Jardim designou, com a habitual displicência, por um "lapsus linguae".
O esquema é simples de explicar. Combina-se a obra, faz-se e inaugura-se, mas sem emissão de faturas que são atiradas para uma data posterior. A despesa não é contabilizada e não aparece nas contas públicas. Mais tarde emerge como dívida.
O esquema é simples mas ilegal. Mesmo para um leigo ficam no ar algumas questões. Existiram cadernos de encargos, concursos, adjudicações, contratos, registos administrativos? Se não existiram é um caso de polícia. Mas se existiram como foi possível não detetar a inexistência de faturação? Que entidades deviam fiscalizar e não o fizeram? Com o túnel ou a estrada inaugurados ninguém reparou que não havia conta para pagar?
O mundo está cheio de engenharias financeiras. No setor privado elas são corriqueiras, mas na Administração Pública, porque estão em causa dinheiros dos contribuintes, é suposto existirem mecanismos de controlo que as impedem e vão desde os serviços da entidade adjudicante ao Tribunal de Contas e chegam mesmo aos organismos europeus. Aparentemente para a Madeira tudo isto falhou. E das duas uma, ou houve incompetência ou conivência.
É por isso que reduzir este "caso" ao arquipélago e à figura truculenta de Alberto João Jardim, esconde a realidade dos factos. O buraco da Madeira puxa Portugal para mais perto da Grécia. Os mecanismos de fiscalização não são fiáveis, a justiça não funciona, a irresponsabilidade prolífera na administração pública.
Ninguém escapa. O Presidente da República mostra mais uma vez falta de isenção e postura suprapartidária. Basta comparar a solene e extemporânea declaração ao país em 2008 por causa do académico Estatuto dos Açores e a presente complacência para com as tropelias de Jardim.
O PS nunca conseguiu realmente enfrentar Jardim e, não poucas vezes, lhe aparou os maiores golpes. Isto para não falar da incapacidade de se apresentar como alternativa democrática e apresentar candidatos decentes.
PC e Bloco também não podem falar de alto porque, excetuando a asfixia democrática, a Madeira representa aquilo que defendem. Ou seja, funcionalismo da maioria da população, intenso investimento público. E até, uma vez apanhado em flagrante, Jardim, tal como Louçã e Jerónimo, também quer a renegociação e mesmo o perdão da dívida. O PP é o único que apresenta um discurso coerente sobre o assunto.
Mas é claramente o PSD que fica pior na fotografia. Seguindo o exemplo da China, vive em regime de um partido dois sistemas. O do Continente onde se mostra muito moralista, defensor do rigor financeiro, adverso ao investimento público e o da Madeira onde reina a imoralidade, a trafulhice e o esbanjamento do dinheiro público. Afinal, sabemos agora, a grande gordura que caberia mesmo cortar encontra-se na barriga de Jardim.
Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
Agora foi apanhado em flagrante. O buraco da Madeira finalmente abriu-se à vista de todos. E tal como em tanta farsa que abunda nos dias que correm, a súbita indignação dos agentes políticos e dos responsáveis institucionais é patética, hipócrita, indigna mesmo. Toda a gente sabia.
O esquema é simples de explicar. Combina-se a obra, faz-se e inaugura-se, mas sem emissão de faturas que são atiradas para uma data posterior. A despesa não é contabilizada e não aparece nas contas públicas. Mais tarde emerge como dívida.
O esquema é simples mas ilegal. Mesmo para um leigo ficam no ar algumas questões. Existiram cadernos de encargos, concursos, adjudicações, contratos, registos administrativos? Se não existiram é um caso de polícia. Mas se existiram como foi possível não detetar a inexistência de faturação? Que entidades deviam fiscalizar e não o fizeram? Com o túnel ou a estrada inaugurados ninguém reparou que não havia conta para pagar?
O mundo está cheio de engenharias financeiras. No setor privado elas são corriqueiras, mas na Administração Pública, porque estão em causa dinheiros dos contribuintes, é suposto existirem mecanismos de controlo que as impedem e vão desde os serviços da entidade adjudicante ao Tribunal de Contas e chegam mesmo aos organismos europeus. Aparentemente para a Madeira tudo isto falhou. E das duas uma, ou houve incompetência ou conivência.
É por isso que reduzir este "caso" ao arquipélago e à figura truculenta de Alberto João Jardim, esconde a realidade dos factos. O buraco da Madeira puxa Portugal para mais perto da Grécia. Os mecanismos de fiscalização não são fiáveis, a justiça não funciona, a irresponsabilidade prolífera na administração pública.
Ninguém escapa. O Presidente da República mostra mais uma vez falta de isenção e postura suprapartidária. Basta comparar a solene e extemporânea declaração ao país em 2008 por causa do académico Estatuto dos Açores e a presente complacência para com as tropelias de Jardim.
O PS nunca conseguiu realmente enfrentar Jardim e, não poucas vezes, lhe aparou os maiores golpes. Isto para não falar da incapacidade de se apresentar como alternativa democrática e apresentar candidatos decentes.
PC e Bloco também não podem falar de alto porque, excetuando a asfixia democrática, a Madeira representa aquilo que defendem. Ou seja, funcionalismo da maioria da população, intenso investimento público. E até, uma vez apanhado em flagrante, Jardim, tal como Louçã e Jerónimo, também quer a renegociação e mesmo o perdão da dívida. O PP é o único que apresenta um discurso coerente sobre o assunto.
Mas é claramente o PSD que fica pior na fotografia. Seguindo o exemplo da China, vive em regime de um partido dois sistemas. O do Continente onde se mostra muito moralista, defensor do rigor financeiro, adverso ao investimento público e o da Madeira onde reina a imoralidade, a trafulhice e o esbanjamento do dinheiro público. Afinal, sabemos agora, a grande gordura que caberia mesmo cortar encontra-se na barriga de Jardim.
Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
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