Opinião
Bjørn Lomborg - Especialista na área do ambiente
© Project Syndicate, 2008 www.project-syndicate.org
21 de Maio de 2012 às 23:30
As soluções mais inteligentes para salvar o mundo
Apenas 300 milhões de dólares evitariam a morte de 300 mil crianças, se este dinheiro fosse usado para reforçar o mecanismo de financiamento da malária que oferece terapias combinadas mais baratas para os países em desenvolvimento.
Se tivesse 75 mil milhões de dólares para gastar durante os próximos quatro anos e o seu objectivo fosse melhorar o bem-estar da humanidade, em especial no mundo em desenvolvimento, como gastaria o seu dinheiro?
Esta foi a questão que eu fiz a um painel de cinco destacados economistas, incluindo quatro prémios Nobel, no projecto Consenso de Copenhaga 2012. Os membros deste painel foram escolhidos pelos seus conhecimentos especializados na definição de prioridades e pelas suas capacidades de usar os princípios económicos para comparar escolhas políticas.
Durante o último ano, mais de 50 economistas realizaram pesquisas em cerca de 40 propostas de investimento em áreas tão variadas como conflitos armados e desastres naturais, até à fome, educação e aquecimento global. As equipas que prepararam cada relatório identificaram os custos e os benefícios das formas mais inteligentes de gastar o dinheiro em cada uma das áreas. No início de Maio, muitos deles viajaram até à Dinamarca para convencer o painel de especialistas do potencial das suas propostas de investimento.
Os resultados das investigações do painel mostram que, se forem gastos de forma inteligente, os 75 mil milhões de dólares – apenas 15% dos gastos actuais em ajuda – podem ajudar a resolver muitos dos problemas mundiais.
O investimento individual mais importante, de acordo com o painel, fortaleceria a luta contra a má-nutrição. Uma nova investigação para este projecto realizada por John Hoddinott, do International Food Policy Research Institute, e Peter Orazem, da Universidade do Iowa, centrou-se num investimento anual de 3 mil milhões de dólares. Este dinheiro daria para comprar abastecimentos de micronutrientes, suplementos alimentares, tratamentos para diarreia e parasitas e programas de mudança de comportamento, que permitiriam reduzir a subnutrição crónica em 36% nos países em desenvolvimento.
No total, este investimento ajudaria mais de 100 milhões de crianças a iniciar as suas vidas sem atrasos de crescimento ou má-nutrição. Além disso, as investigações mostram que estas intervenções são permanentes: os seus corpos e músculos cresceriam mais rápido, as capacidades cognitivas melhorariam e estariam mais atentos na escola (e ficariam durante mais tempo). Estudos mostram que em algumas décadas estas crianças seriam mais produtivas, ganhariam mais dinheiro, teriam menos filhos e começariam um círculo virtuoso de desenvolvimento espectacular.
Oportunidades como esta surgem em destaque quando pedimos a algumas das mentes mais brilhantes do mundo para encontrarem projectos que gerem o máximo de benefícios. O abastecimento de micronutrientes é raramente celebrado, mas faz toda a diferença.
Da mesma forma, apenas 300 milhões de dólares evitariam a morte de 300 mil crianças, se este dinheiro fosse usado para reforçar o mecanismo de financiamento da malária - Global Fund’s Affordable Medicines Facility – que oferece terapias combinadas mais baratas para os países em desenvolvimento.
Em termos económicos, os benefícios são 35 vezes mais elevados do que os custos – sem ter em conta que evitaria uma futura resistência ao medicamente mais eficaz contra a malária. No final deste ano, os doadores vão decidir se renovam este programa. As conclusões do painel deveriam persuadi-los a renovar.
Pelo mesmo montante, é possível desparasitar 300 milhões de crianças em idade escolar. Sem parasitas intestinais estas crianças ficam mais atentas, permanecem mais tempo na escola e tornam-se adultos mais produtivos – uma questão que necessita de mais atenção pública.
Outros dois investimentos em saúde defendidos pelo painel de especialistas foi o tratamento para a tuberculose e a cobertura para a imunização infantil. Da mesma forma, um aumento de 100 milhões de dólares anuais no desenvolvimento de uma vacina contra o VIH/ SIDA poderia gerar imensos benefícios no futuro.
À medida que as pessoas nos países em desenvolvimento vivem mais, enfrentam, cada vez mais, doenças crónicas. De facto, prevê-se que metade de todas as mortes de 2012 nos países do Terceiro Mundo se deva a doenças crónicas. Neste caso, o painel concluiu que gastar apenas 122 milhões de dólares permitiria uma cobertura completa da vacina da hepatite B e evitaria 150 mil mortes anuais devido a esta doença. Oferecer medicamentos de baixo custo para ataques cardíacos agudos custaria apenas 200 milhões de dólares e evitaria 300 mil mortes.
Os resultados do painel de especialistas destacam ainda a necessidade urgente de investir cerca de 2 mil milhões de dólares por ano em pesquisa e desenvolvimento para aumentar a produção agrícola. Esta medida não só diminuiria a fome, ao aumentar a produção de alimentos e reduzir os preços, mas também protegeria a biodiversidade, já que uma maior produtividade das colheitas significa menos desflorestação. Isso, por sua vez, ajudaria a combater o aquecimento global porque as florestas armazenam carbono.
Quando falamos de alterações climáticas os especialistas recomendam gastar um pequeno montante – cerca de mil milhões de dólares – para investigar a viabilidade de arrefecer o planeta através de opções de eco-engenharia. Poderíamos assim perceber melhor os riscos, custos e benefícios desta tecnologia. Além disso, a pesquisa poderia oferecer-nos um seguro eficaz e barato contra o aquecimento global.
Outra prioridade de investimento é a criação de um sistema eficaz de alerta de desastres naturais nos países em desenvolvimento. Por menos de mil milhões de dólares por ano, poderíamos diminuir os danos económicos directos e de longo prazo, conseguindo, talvez, 35 mil milhões de dólares de benefícios.
O orçamento de 75 mil milhões de dólares escolhido pelo projecto Consenso de Copenhaga é mais do que suficiente para fazer uma diferença real, mas devemos escolher os projectos que permitem alcançar os maiores benefícios. A lista do painel de especialistas mostra-nos que há muitas soluções inteligentes à espera de serem implementadas.
Project Syndicate, 2012.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques
Esta foi a questão que eu fiz a um painel de cinco destacados economistas, incluindo quatro prémios Nobel, no projecto Consenso de Copenhaga 2012. Os membros deste painel foram escolhidos pelos seus conhecimentos especializados na definição de prioridades e pelas suas capacidades de usar os princípios económicos para comparar escolhas políticas.
Os resultados das investigações do painel mostram que, se forem gastos de forma inteligente, os 75 mil milhões de dólares – apenas 15% dos gastos actuais em ajuda – podem ajudar a resolver muitos dos problemas mundiais.
O investimento individual mais importante, de acordo com o painel, fortaleceria a luta contra a má-nutrição. Uma nova investigação para este projecto realizada por John Hoddinott, do International Food Policy Research Institute, e Peter Orazem, da Universidade do Iowa, centrou-se num investimento anual de 3 mil milhões de dólares. Este dinheiro daria para comprar abastecimentos de micronutrientes, suplementos alimentares, tratamentos para diarreia e parasitas e programas de mudança de comportamento, que permitiriam reduzir a subnutrição crónica em 36% nos países em desenvolvimento.
No total, este investimento ajudaria mais de 100 milhões de crianças a iniciar as suas vidas sem atrasos de crescimento ou má-nutrição. Além disso, as investigações mostram que estas intervenções são permanentes: os seus corpos e músculos cresceriam mais rápido, as capacidades cognitivas melhorariam e estariam mais atentos na escola (e ficariam durante mais tempo). Estudos mostram que em algumas décadas estas crianças seriam mais produtivas, ganhariam mais dinheiro, teriam menos filhos e começariam um círculo virtuoso de desenvolvimento espectacular.
Oportunidades como esta surgem em destaque quando pedimos a algumas das mentes mais brilhantes do mundo para encontrarem projectos que gerem o máximo de benefícios. O abastecimento de micronutrientes é raramente celebrado, mas faz toda a diferença.
Da mesma forma, apenas 300 milhões de dólares evitariam a morte de 300 mil crianças, se este dinheiro fosse usado para reforçar o mecanismo de financiamento da malária - Global Fund’s Affordable Medicines Facility – que oferece terapias combinadas mais baratas para os países em desenvolvimento.
Em termos económicos, os benefícios são 35 vezes mais elevados do que os custos – sem ter em conta que evitaria uma futura resistência ao medicamente mais eficaz contra a malária. No final deste ano, os doadores vão decidir se renovam este programa. As conclusões do painel deveriam persuadi-los a renovar.
Pelo mesmo montante, é possível desparasitar 300 milhões de crianças em idade escolar. Sem parasitas intestinais estas crianças ficam mais atentas, permanecem mais tempo na escola e tornam-se adultos mais produtivos – uma questão que necessita de mais atenção pública.
Outros dois investimentos em saúde defendidos pelo painel de especialistas foi o tratamento para a tuberculose e a cobertura para a imunização infantil. Da mesma forma, um aumento de 100 milhões de dólares anuais no desenvolvimento de uma vacina contra o VIH/ SIDA poderia gerar imensos benefícios no futuro.
À medida que as pessoas nos países em desenvolvimento vivem mais, enfrentam, cada vez mais, doenças crónicas. De facto, prevê-se que metade de todas as mortes de 2012 nos países do Terceiro Mundo se deva a doenças crónicas. Neste caso, o painel concluiu que gastar apenas 122 milhões de dólares permitiria uma cobertura completa da vacina da hepatite B e evitaria 150 mil mortes anuais devido a esta doença. Oferecer medicamentos de baixo custo para ataques cardíacos agudos custaria apenas 200 milhões de dólares e evitaria 300 mil mortes.
Os resultados do painel de especialistas destacam ainda a necessidade urgente de investir cerca de 2 mil milhões de dólares por ano em pesquisa e desenvolvimento para aumentar a produção agrícola. Esta medida não só diminuiria a fome, ao aumentar a produção de alimentos e reduzir os preços, mas também protegeria a biodiversidade, já que uma maior produtividade das colheitas significa menos desflorestação. Isso, por sua vez, ajudaria a combater o aquecimento global porque as florestas armazenam carbono.
Quando falamos de alterações climáticas os especialistas recomendam gastar um pequeno montante – cerca de mil milhões de dólares – para investigar a viabilidade de arrefecer o planeta através de opções de eco-engenharia. Poderíamos assim perceber melhor os riscos, custos e benefícios desta tecnologia. Além disso, a pesquisa poderia oferecer-nos um seguro eficaz e barato contra o aquecimento global.
Outra prioridade de investimento é a criação de um sistema eficaz de alerta de desastres naturais nos países em desenvolvimento. Por menos de mil milhões de dólares por ano, poderíamos diminuir os danos económicos directos e de longo prazo, conseguindo, talvez, 35 mil milhões de dólares de benefícios.
O orçamento de 75 mil milhões de dólares escolhido pelo projecto Consenso de Copenhaga é mais do que suficiente para fazer uma diferença real, mas devemos escolher os projectos que permitem alcançar os maiores benefícios. A lista do painel de especialistas mostra-nos que há muitas soluções inteligentes à espera de serem implementadas.
Project Syndicate, 2012.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Luísa Marques
Mais artigos do Autor
Gestos vazios para as alterações climáticas
07.01.2020
Os humanos sobrevivem debaixo de água
08.12.2019
O perigo dos profetas do desastre climático
22.09.2019
O desafio da nutrição
08.08.2019