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As grandes empresas portuguesas e o PIB nacional: crescer é preciso

Em inícios de Setembro de 2007, escrevi neste jornal sobre a relação entre o desempenho das grandes empresas de um País e o crescimento do seu PIB. Na altura, discutia-se em Portugal quando chegaria a tão anunciada e adiada...

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Em inícios de Setembro de 2007, escrevi neste jornal sobre a relação entre o desempenho das grandes empresas de um País e o crescimento do seu PIB. Na altura, discutia-se em Portugal quando chegaria a tão anunciada e adiada retoma económica.

Em termos sumários, o artigo demonstrava que o crescimento das 20 maiores empresas tinha uma forte correlação com o crescimento da riqueza produzida por um país (levando à questão da galinha ou do ovo, paradoxo que se pode quebrar recordando que na maior parte dos casos, as 20 maiores empresas são multinacionais que não estão maioritariamente dependentes das economias da matriz). Recomendava-se, então, que as grandes empresas Portuguesas recorressem agressivamente a crescimento fora de portas, a par de repensarem a inovação e as estruturas de Governance, olhando para o seu negócio com uma lente global.

Entretanto, passou um ano espantoso, em que a palavra mais empregue na imprensa salmão anglo-saxónica foi "crise", com a falência da Lehman Brothers a 15 de Setembro; o afundar da Islândia, a 4.ª economia do mundo em GDP per capita em 2007; e a economia mundial a travar abruptamente, com o Baltic Dry Index a cair 94% em seis meses face ao seu pico de Maio de 2008 (trata-se de um indicador global do tráfego marítimo de matérias-primas, a que a revista "Slate" chamou "O melhor indicador económico de que nunca ouviu falar" e que foi alvo de editorial sobre a crise no "The Economist", a 16 de Outubro p.p., ao cair 50% numa semana).

Olhemos para Portugal. A Euromonitor estimou que o nosso país terá tido, em 2008, um PIB per capita de cerca de 16 mil euros. Em 2001, o valor era de 12,5 mil euros. Para ver melhor o impacto relativo, a Grécia (lembram-se da Grécia, com quem Portugal gostava de se comparar?) passou de um PIB per capita, em 2001, de cerca de 12 mil euros para cerca de 22 mil euros estimados para 2008. Em 2001, os gregos eram 5% mais pobres do que os Portugueses, são agora quase 40% mais ricos (independentemente do que se possa passar com o estado das finanças públicas). Passaram sete anos. Quando se faz a análise do crescimento das 20 maiores empresas de cada país da Europa (2002-2006), as maiores 20 empresas gregas tiveram o maior crescimento da Europa, e o PIB cresceu também acima da média europeia (maior detalhe revela a debilidade de concentração sectorial em comércio internacional). As grandes empresas de Portugal, para o mesmo período, tiveram um dos piores desempenhos.

Sendo factual, trata-se, no entanto, do desempenho passado - que deixa uma herança e, mais importante, lições para o futuro.

Nos últimos meses, tem sido sugerido que as empresas Portuguesas deveriam poupar o seu dinheiro; e, caso exista dinheiro que se possa gastar, que se aplique na defesa das PMEs nacionais e na manutenção do Emprego. Atrever-me-ia a ir buscar uma referência de infância. No jogo de sociedade "Monopólio", a estratégia de amealhar o dinheiro com que se começa é uma estratégia apenas aparentemente vencedora: nas primeiras voltas, o jogador hesitante em comprar terá mais liquidez do que um jogador que adquire mais propriedades e nelas investe.

Se o jogo acabasse logo, este último teria mais dinheiro; mas o jogo, como a vida real, continua, e à medida que progride, o jogador que poupou o dinheiro tem que pagar cada vez mais para existir, e quem investiu vai ganhando cada vez mais dinheiro.

Com as devidas ressalvas, estamos a assistir a algo semelhante a um "Monopólio das Empresas" global: as empresas estrangeiras avançam (veja-se na banca o Banco Santander ou o BNP Paribas, ambos na Europa; a CenturyTel/Embarq em telecomunicações, nos Estados Unidos; o ataque à NRG Energy), enquanto as grandes empresas Portuguesas não anunciam nenhum novo passo de aquisição para crescer. Dadas as limitações do mercado nacional (desde logo, escala e limitações de concorrência), esse investimento será mais produtivo comprando activos estrangeiros. As dimensões não têm que ser os 68 mil milhões de dólares que a Pfizer acordou pela Wyeth; podem ser os 17 milhões de dólares que a SmithKline Beecham anunciou para adquirir 5% da Idenix, ou a compra pela retalhista Walgreen de sete lojas à Rite-Aid, ambos em 2009. A chave está na claridade do caminho: onde se quer estar amanhã, qual o valor dos activos que se podem comprar e como se financiam.

Os cuidados a ter são enormes: existe uma janela de avaliação curta, a informação é assimétrica, e a criação de valor assenta fundamentalmente no sucesso da integração (prática em que as empresas portuguesas não se têm destacado). Com este contexto, existem várias boas notícias para as grandes empresas Portuguesas.

A primeira boa notícia é que estes cuidados hoje em dia se controlam com fórmulas já razoavelmente comprovadas, que permitem uma redução significativa dos níveis de risco em que se incorre (na prática, os fundos de Private Equity foram os pioneiros nestes procedimentos de Due Diligence Comercial, a que hoje em dia as empresas recorrem cada vez mais).

A segunda boa notícia é que com o desaparecimento de praticamente metade do valor do mercado de capitais (o Índice MSCI está em Abril de 2009 com um desconto de 40% face a Abril de 2008), as empresas estão muito mais baratas do que há um ano.

A terceira boa notícia é que existe, neste momento, muito dinheiro no mercado - está é em locais inesperados e exige formas criativas (se bem que não novas, em termos puros) para se poder aproveitar. Os fundos de Private Equity possuíam, em finais de 2007, reservas para investir ("capital overhang" acumulado) de 700 mil milhões de dólares, as quais não terão diminuído significativamente em 2008, pelo contrário. Neste momento, o acesso à dívida para completar os negócios é limitado, mas é possível entrar em parcerias de empresas com os fundos, fazendo carve-outs posteriores de activos e dívida para benefício de ambos os parceiros.

A quarta boa notícia é que, à semelhança do "Monopólio", o jogo ainda não acabou. Para a economia ganhar, as empresas portuguesas podem ir às c ompras e bater as suas congéneres, sabendo avaliar os riscos com as melhores ferramentas disponíveis e conseguindo integrar com êxito e rapidamente os activos que adquirirem.

Por fim, o Baltic Dry Index começou a subir em finais de Janeiro - em meados de Fevereiro, tinha aumentado mais de 300%, tendo, desde então, estado estagnado.

Para os autores de pacotes de estímulos, de "bail-outs" e afins, a mensagem é clara: apostem no crescimento das grandes empresas nacionais e estas elevarão consigo a economia.

Partner da Bain & Company
joao.soares@bain.com
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