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16 de Maio de 2008 às 13:59

Apitos

Nada como uma declaração de interesses para deixar as águas límpidas, quando, ainda por cima, o tema é o chamado “Apito Final”, em particular o de tons azuis e brancos. Ora, eu sou portuense, portista e admirador de Pinto da Costa e o que disser está assi

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À partida, devo dizer que a designação “apito final” me soou do pior gosto, até porque a apitadela tem recurso, logo não é final e as coisas assim designadas têm sabor definitivo e às vezes grandiloquente, como a pena de morte ou a solução final. Mas pronto, o que é isso comparado com o “aerotorto” da Ota?

Ora, infelizmente o que vi foi um pavão autoconvencido a proclamar, no que é papel das agências de imprensa e publicidade, que o trabalho produzido foi fenomenal, ou qualquer coisa assim em “al”, como piramidal.

Como tenho dezenas de anos a observar a administração de justiça, às vezes, obviamente, de má ou muito má qualidade, mas também de excelência, estranhei o tom de faena e capa vermelha do presidente do Conselho de Justiça da Liga, quando o que sempre observei foi discrição e sobriedade do julgador que emite decisão. Era estilo Brad Pitt, no papel de Salomão (pobre Brad, desculpa lá, ó pá).

Aqui o homem parecia que tinha cortado a orelha do Loureiro e aplicado a espada no Costa, touros da ganadaria “Liga Portuguesa de Clubes, SARL”. Se o Conselho de Justiça, órgão superior, decidir em contrário, como pensarão as pessoas: “Afinal o pavão era um garnizé”; ou “os gajos de cima estão todos comprados”?

Assim, este atleta começou por dar um golpe na administração da justiça desportiva quando, felizmente, ela estava a despontar.

A segunda reflexão vai para a bandalheira existente no futebol português com dezenas de anos e que só é referida a sério quando o nosso clube se sente prejudicado. Mas como há sempre alguém nesta situação, o estado de alma “abandalhamento” é permanente.

Como eu sou azul, lembro-me do único título do Benfica em 15 anos, arrancado com uma ida do Estoril, “dirigido” por benfiquistas, ao estádio do Algarve e do penálti sacado por Simão Sabrosa, atirando-se para cima de três defesas do Estoril (as imagens andam a passar na Internet e costumam vir acompanhadas com os necessários XXX); ou a falta continuada de 90 minutos da defesa do Campomaiorense, agarrando-se (literalmente) ao Jardel, num ano em que ganhou o Sporting, por isso.

Os meus adversários verdes ou encarnados lembram-se seguramente de outros escândalos, que a minha memória, tão misericordiosa como a deles nos momentos cruciais, não viu, não valorizou ou não recordou, agora a favor dos meus azuis.

Isto vem muito de trás – eu sou arqueológico e lembro-me do Nobel da Roubalheira, Inocêncio Calabote, ou, como recordava Octávio Ribeiro, agora director do “Correio da Manhã”, quando os foras-de-jogo na Luz eram o Humberto Coelho quem os tirava, levantando o braço (ele dizia que no tempo dos “violinos” não era nascido e não sabia como era e eu também não) (1).

Resumindo, o “status quo” era sacar vantagens ilícitas. Sendo assim, como não procurá-las?

Veio daqui a famosa frase, que eu proponha que seja ostentada nos palácios de Justiça: “Ou roubam todos ou haja moralidade.”

Não sei se o meu bem-amado presidente Pinto da Costa é culpado ou inocente. Cá para mim, devido àquela “estória” da motivação, do tempo da Agatha Christie, o homem está alvo. Se, nesse ano, o FC Porto foi campeão da Europa e do Mundo precisava de surripiar para vencer os de cá, quando ficou com uma caterva de pontos de vantagem? Não sei, só sei que a Justiça deve ser feita – e isso desejo, doa a quem doer, a bem de todos e para todos.

Só mais uma reflexão, a mais importante:

O estado de coisas, tem de mudar, no domínio do favorecimento, da coacção, da corrupção e figuras parentes no futebol e no País. Uma activa administração de Justiça, por si só, começa por dissuadir, mesmo que, infeliz e eventualmente, seja contra inocentes (depois se verá) (2).

É preciso bastante mais, claramente diferente e muito melhor, mas é um começo.

(1) O saudoso José Maria Pedroto, um dos grandes senhores do futebol português, dizia que o FC Porto, quando passava a ponte da Arrábida, já ia a perder por 1-0.
(2) Num famoso “gag” de Jô Soares, quando ele ia adentro já não sei porquê, exclamava, surpreendido: “E cadê os outros?!!”

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