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06 de Outubro de 2003 às 12:17

Abriu a caça aos votos

“Para terem hipóteses todos os candidatos a presidente do Benfica têm de aparecer numa foto com o sr. Rui Costa. Porque é que nãose juntam todos e o candidatam a presidente do Benfica?”

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Afesta mais aguardada da “rentrée” é, indiscutivelmente, a de apresentação à sociedade dos candidatos a “mister” Benfica. Todos eles já estão a fazer “lifting”, a aprender “Feng Shui” e a ter aulas de decoração de interiores, para que, quando for o grande momento, possam garantir um lugar no coração enorme dos benfiquistas.

Para breve iniciar-se-á a segunda fase da campanha: cada candidato terá de escolher uma revista cor-de-rosa para surgir numa pose descontraída, à sr. Pinto da Costa, junto da lareira, do cão e da piscina, mostrando assim as ideias que norteiam a sua campanha. As eleições para “mister” Benfica são muito mais estimulantes do que para Presidente da República. E, afinal, se o sr. Schwarzenegger pode vir a ser, com muitos músculos, governador da Califórnia, porque é que pessoas de físico normal não podem ser “mister” Benfica?

Ser presidente do Benfica é, em Portugal, poder ser-se “famoso” sem ter de se falar da vida íntima. É uma vantagem. Basta falar-se de futebol. É a eleição mais democrática de Portugal. Qualquer pessoa pode ser presidente do Benfica depois do sr. Manuel Vilarinho ter conseguido esse feito. O sr. Vilarinho não ficará na história do Benfica pelo que fez (e, esforçando-nos, lembramos ter conseguido ganhar ao sr. Vale e Azevedo e ter escorregado quando apoiou o sr. Durão Barroso), mas sim pelos largos períodos em que abdicou de ser presidente. Nos últimos meses, o sr. Vilarinho foi injustamente acusado de ser presidente do Benfica.

Todos sabem, no entanto, que exceptuando quando chamou “burros” aos jogadores, preferindo essa palavra a outras mais simpáticas como “jumentos” ou “asnos”, ele foi o homem invisível do Benfica. Na galeria de presidentes da história do Benfica o sr. Vilarinho passará à história como um holograma.

Desfeita a magia, vários candidatos já começaram a mostrar as suas habilidades para se candidatarem ao lugar mais desejado do país. De acordo com o manual de candidatura têm de prometer injectar vários milhões de euros, contratar vários jogadores de nível mundial e voltar a tornar o clube um porta-aviões do futebol europeu. Todos os candidatos a presidente do Benfica têm, obrigatoriamente, de aparecer numa fotografia ao lado do sr. Rui Costa ou de prometerem contratá-lo. Sem a referência ao sr. Rui Costa ninguém acredita na sua candidatura. Isso só levanta uma questão: porque é que não se juntam todos e candidatam o sr. Rui Costa a presidente do Benfica?

Algum dos candidatos vai ganhar as eleições e aquele que está mais próximo da vitória é, obviamente, o sr. Luís Filipe Vieira. Não tanto pelo que faz, mas sobretudo pela incapacidade dos seus opositores conseguirem um nome que faça a ponte entre tantas sensibilidades que se chocam na oposição. A oposição no Benfica esquece-se de uma coisa: sem a galinha atraente não há votos de ouro.

O Benfica parece um gigantesco Labirinto do Minotauro: todos os que lá entram perdem-se. É por isso que, nos últimos anos, tantos presidentes do Benfica têm saído, sem honra nem glória, para acabarem no Estoril ou mesmo na prisão. O sr. Vilarinho é apenas o último moicano desta incapacidade de os benfiquistas descortinarem um homem que tenha um espírito de missão e que não seja apenas um porta-voz de empresários de jogadores. É obvio que a actual direcção do Benfica é uma espécie de Checoslováquia, igual ao país que foi criado em 1918 a partir das ruínas do Império Austro-Húngaro. E que foi definida brilhantemente pelo então Primeiro-ministro britânico sr. Lloyd George: “A Checoslováquia não é um país, é uma salsicha”. Pior: a actual direcção encarnada é uma espécie de grupo excursionista que, em vez de andar de helicóptero, visita um estádio ao fim-de-semana.

O país vai delirar com a eleição para presidente do Benfica. Vai ser um bom momento de humor continuado, como se pode já ver pelas primeiras declarações dos candidatos à nobre missão. Todos os dias irão saltar da cartola nomes de jogadores e apoios inconfessados aos candidatos. Brevemente os telejornais, à falta de crimes e acidentes na A1 e no IC19, também ajudarão à festa. O arraial benfiquista vai ser o verdadeiro arranque para o Euro’2004. Todos querem salvar o Benfica. Resta saber se o Benfica se salvará com qualquer um deles.

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