Opinião
A via terrorista da ETA
Os comandos da ETA, liderados por Mikel Azpiazum, Txeroki, brandem o machado de guerra e, ante o cerco político no país Basco, apostaram tudo por tudo numa escalada terrorista. A ala militar etarra, o machado do símbolo oficial do movimento, assumiu a ini
A ala militar etarra, o machado do símbolo oficial do movimento, assumiu a iniciativa e impôs-se decisivamente às tácticas doutros dirigentes, como Josu Ternera, que admitiram explorar a via da mobilização política pelo menos até a ETA ter anunciado em Junho de 2006 o termo de 14 meses de trégua terrorista.
Bietan Jarrai, o velho lema etarra de “seguir as duas vias” em que o machado da luta armada surge enlaçado pela serpente do combate político, deu agora lugar a uma estratégia de concentração terrorista que para muitos militantes surge como a única maneira de forçar os partidos nacionalistas bascos a pressionarem o governo de Madrid para retomar negociações com a ETA.
A aposta desesperada de Txeroki
A última vaga terrorista é um recurso desesperado que aproveita as redes clandestinas ainda operacionais, mas cada vez mais debilitadas pelas acções policiais em Espanha e em França. Mais de centena e meia de detenções de operacionais etarras desde 2004 e o desmantelamento de apoios logísticos no sul de França abalaram significativamente a ETA.
É neste contexto que surgem as tentativas de utilizar Portugal para estabelecer eventualmente células de apoio logístico, desencadear acções terroristas pontuais ou mesmo procurar refúgio momentâneo como ocorreu no passado com membros do comando Argala responsáveis por atentados no sul de Espanha no Verão de 2002.
Txeroki, que desde o final de 2003 dirige a estrutura militar, ainda conta com dezenas de militantes capazes de serem infiltrados em Espanha, sobretudo a partir de França, para atentados pontuais em paralelo com acções autónomas desenvolvidas pelos comandos que subsistem na clandestinidade.
A maior parte do dispositivo terrorista parece ser, no entanto, bastante jovem, tal como Txeroki que tem apenas 34 anos, e a nova vaga etarra apesar de se mostrar muito motivada e rendida à acção terrorista carece de experiência clandestina.
É sintomático que dos quatro homens e duas mulheres procurados desde o mês passado pelas autoridades espanholas por suspeita de participação na última onda de atentados três deles não tenham participado anteriormente em ataques bombistas.
À concretização do rompimento da trégua em Dezembro do ano passado com o atentado no Aeroporto de Barajas deveria seguir-se agora uma série de ataques terroristas à imagem do ocorrido no Verão de 2000, mas até ao momento, com excepção da explosão junto ao quartel da Guardia Civil em Durango, no país basco, circunstâncias diversas e erros de operacionais frustraram a escalada da ETA.
As autoridades espanholas afirmam ter impedido cinco atentados terroristas etarras desde Junho do ano passado.
O isolamento político Etarra
Após esta campanha terrorista será mais difícil ao Partido Nacionalista Basco e ao lendakari Juan José Ibarretxe admitirem a possibilidade de diálogo político com apoiantes da ETA.
O objectivo do chefe do governo basco passava por promover líderes alegadamente moderados e isolar a ala militar etarra. Evitar o corte com os radicais próximos da ETA era fundamental para Ibarretxe obter o maior apoio possível para a concretização do almejado processo de “consulta popular” sobre o estatuto da comunidade autónoma.
Um sinal desse possível repúdio de contactos com apoiantes da ETA tem sido dado pelo presidente do partido de Ibarretxe, Josu Jon Imaz, que defende “acordos transversais com forças não-nacionalistas” para evitar um confronto com Madrid, obstar à hostilização das demais comunidades e promover o autogoverno.
A ilegalização do Batasuna, Euskal Herritarrok e Herri Batasuna, confirmada em 2003, e a possível abertura de um processo para ilegalizar a Eusko Abertzale Ekintza, a Acção Nacionalista Basca, que colheu o apoio de 95 mil votantes nas eleições municipais e autonómicas de Maio, limitam a liberdade de acção da esquerda abertzale.
A falta de consenso entre os nacionalistas bascos, a clivagem entre direita e esquerda quanto ao modelo de estado e o desacordo sobre a estratégica de combate ao terrorismo, não facilitam, contudo, uma discussão política que possa vir a isolar a ETA e desmotivar os quase 10 por cento da população basca que sustenta a rede de associações e agrupamentos próximos da organização.
Se as autoridades espanholas conseguirem conter a tentativa de ofensiva da ETA e obrigarem os terroristas bascos a novo período de inactividade terrorista e de reorganização será ainda necessário pôr cobro à chamada “violência de baixa intensidade” e aos confrontos de rua, a Kalea Borroka, todos elementos fulcrais da estratégia dita de “Assédio” (Oldartzen), adoptada em 1995, para apoio aos ataques contra alvos militares, policiais e civis.
A violência de baixa intensidade foi, aliás, o recurso adoptado para manter viva a chama da organização quando toda a direcção da ETA foi capturada em Bidart, no sul da França, em Março de 1992.
Simultaneamente, enquanto tentava reorganizar a rede clandestina, a nova liderança, onde imperava, Iñaki de Rentería, tentou então negociar uma trégua com o governo de Felipe González.
É provável que em caso de impotência dos comandos terroristas o estratagema venha a repetir-se. É uma possibilidade que dá ainda maior importância às acções repressivas que o estado espanhol tem de desencadear contra os sequestros, as cobranças de imposto revolucionário e as redes de financiamento e lavagem de dinheiro que são outras actividades vitais para o funcionamento da ETA.
A ofensiva de Txeroki é, no entanto, sinal claro de que a ETA está prestes a esgotar mais uma fase de aposta terrorista.
Novas cisões entre os etarras ou o agravamento do isolamento político da ETA poderão vir a revelar-se algumas das alternativas possíveis após esta fuga para a frente.
A acrimónia que rodeia as eleições legislativas do próximo ano deixa, contudo, muitas dúvidas sobre a consistência de uma estratégia para isolar a ETA que agregue os socialistas, o Partido Popular e os nacionalistas bascos.
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3 de Janeiro de 2007