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05 de Junho de 2009 às 12:00

A unidade de salvados

Sim, votar é importante, sim, a UE é importante, sim, a campanha foi pouco importante. Mas, mesmo sem os ideais democrático ou europeísta, vá às urnas pela economia. A sua: pelos impostos cada vez mais altos, pelos preços que...

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Sim, votar é importante, sim, a UE é importante, sim, a campanha foi pouco importante. Mas, mesmo sem os ideais democrático ou europeísta, vá às urnas pela economia. A sua: pelos impostos cada vez mais altos, pelos preços que lhe cobram. Só a Europa pode travar este intervencionismo selectivo do Estado, as negociatas de favor, o despesismo e os impostos que ele gera, a hipoteca contínua de Portugal.

A União Europeia pode não ter grande poder mas é o único contrapoder às políticas económicas nacionalistas. O capitalismo de mercado teve uma crise grave mas o intervencionismo não é a solução, é a autodefesa dos medrosos. Em eleições, pior: os políticos decidem o que aparece com medo do que parece. Salvam, protegem, intervêm, nacionalizam. É como o caracol que se enfia na casca ou a criança debaixo dos lençóis: não está a enfrentar, está a esconder-se.

Repare nas notícias desta semana, a dias de eleições. Veja quantas vezes o verbo "salvar" foi conjugado com o sujeito "Governo". Como a salvação da Qimonda pela EDP. A da Camac pelo Estado. A PSA de Mangualde. O próprio BPP, que o Estado "tenta" mas os bancos "não querem".

A taça vai para a fábrica da Peugeot-Citröen, que, a confirmar-se, receberá um novo modelo. Isso é encomenda, é produção, é procura. Mas o Estado acode à Camac em nome de quê, se a empresa não tem vendas? Por que não acode a outras camacs? E a Qimonda (já agora: Qimonda Solar, pequena parte do todo), por que se torna subitamente interessante para a EDP (com financiamento do BES e do BCP), quando nenhuma outra empresa a quis? E quando a própria EDP não tem como vocação produzir, antes comprar, equipamento para centrais? Se não é, parece: frete político em véspera de eleições.

O problema dos fretes é que custam dinheiro aos outros, e pode não ser através de subsídios: a entrega de concessões, de concursos, a "luz verde" num negócio ou num financiamento são formas de fragilizar a concorrência.

A Martifer "salvou" as minas da Somincor; a Visabeira "salvou" a Vista Alegre e a Bordallo Pinheiro; a EDP "salva" a Qimonda... Todas estas empresas são bem geridas de mais para que percam nestes negócios mais do que ganharão noutros.

Todos os governos andam aflitos, todos estão a "salvar" uma economia sobreendividada ainda com mais dívida (disparam os défices, subirão os impostos), todos estão em pânico com o desemprego. A única boa razão para admitir (admitir) salvar uma empresa é ela ser (por si) economicamente viável mas (pela crise) estar financeiramente insolvente. Só faz sentido nacionalizar a General Motors se houver procura para os seus automóveis, se não é economia planificada a socializar prejuízos.

Em vez de se subsidiar desemprego, está-se a financiar o emprego. Mas salvar empregos não é salvar as empresas, e muito menos a economia. É proteger os ineficientes e impedir a entrada de concorrentes melhores. Não é construir nada, é tapar o buraco de uma barragem com o dedo. Vai rebentar na mesma mas mais tarde e com mais poder destruidor.

Por isso vote. Dê poder à Europa. É melhor obedecer a Pactos que pactuar com aquilo que, parecendo bom (ninguém está contra o emprego...), será mau. De boas intenções está o inferno cheio.


PS: Não parece, mas, sobre o imposto europeu, Vital Moreira e Paulo Rangel estão muito próximos. O primeiro defende e o segundo admite que não se quer mais carga fiscal mas sim (diz o PS), ou talvez (o PSD), a substituição de um imposto nacional por um europeu. Foi isso que ambos disseram em entrevista ao Negócios. Foi a isso que Rangel "não fechou a porta", o que inexplicavelmente depois desmentiu. Na dúvida, ouça o áudio em www.negocios.pt. Porque o imposto você já paga.

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