Opinião
A questão emocional
O sr. Arsène Wenger não tem muitas dúvidas quando diz: "os clubes são o mundo moderno e as selecções são o mundo antigo". A sua experiência ao serviço do Arsenal, onde tem construído equipas de sucesso com uma lógica de criação da Legião Estrangeira...
O sr. Arsène Wenger não tem muitas dúvidas quando diz: "os clubes são o mundo moderno e as selecções são o mundo antigo". A sua experiência ao serviço do Arsenal, onde tem construído equipas de sucesso com uma lógica de criação da Legião Estrangeira futebolística, explica muito da evolução que o futebol teve no mundo nos últimos anos. Não surpreende por isso que muitas das selecções, que antigamente tinham uma espinha dorsal assente nos jogadores de uma ou duas equipas que dominavam nesse ano o campeonato interno, sejam hoje aglomerações de estrangeirados. A selecção portuguesa do sr. Queiroz é o exemplo perfeito disso. Não só é já difícil encontrar numa equipa que actue na Liga portuguesa uma estrutura central de jogadores a que se juntem grandes valores de outras equipas (olhe-se para o Benfica, Sporting ou FC Porto, cheios de craques estrangeiros), como parece que jogar no estrangeiro é um sinónimo de qualidade que jogar no país de origem não confere. Essa parece ter sido a convicção do sr. Queiroz quando juntou este conjunto de jogadores. Até prova em contrário, qualquer jogador que alinhe meia dúzia de jogos numa equipa grega é melhor do que quem é titular toda a temporada pelo Benfica.
Mas o sr. Queiroz, como se sabe, é ainda um fruto do mundo antigo. Apesar da passagem pelo Manchester United não se tornou um treinador cosmopolita, que destile cultura e propicie o diálogo. Parece não conhecer mundo e não perceber que é preciso criar uma emoção colectiva no país para que a selecção seja o povo em festa. Ao contrário do sr. Scolari, que poderia não ser um treinador genial, mas conseguiu colocar o povo português atrás da selecção com bandeiras e carinho, o sr. Queiroz não emocionou os portugueses. Se os jogos de qualificação foram um sofrimento, a apresentação dos jogadores escolhidos foi uma festa pobre e institucional sem emoção.
É por isso que, como diz o sr. Wenger, no mundo moderno os grandes clubes acabam por mexer mais com as multidões do que as selecções. Todo o futebol moderno, global, passa por eles e não pela selecções, onde chegam jogadores cansados e pouco entrosados. Mas por isso mesmo a principal missão de um treinador nacional é motivar o país, e não um sistemático balde de água fria em todo o tipo de emoção. O sr. Queiroz, está provado, não se dá bem com a pressão psicológica. É compreensível que prefira os bastidores, como mostra o trabalho que fez no Manchester United. Mas, depois do sr. Scolari, a fasquia emocional não deveria ter descido tanto. E é a selecção que mais sofre com isso.
Mas o sr. Queiroz, como se sabe, é ainda um fruto do mundo antigo. Apesar da passagem pelo Manchester United não se tornou um treinador cosmopolita, que destile cultura e propicie o diálogo. Parece não conhecer mundo e não perceber que é preciso criar uma emoção colectiva no país para que a selecção seja o povo em festa. Ao contrário do sr. Scolari, que poderia não ser um treinador genial, mas conseguiu colocar o povo português atrás da selecção com bandeiras e carinho, o sr. Queiroz não emocionou os portugueses. Se os jogos de qualificação foram um sofrimento, a apresentação dos jogadores escolhidos foi uma festa pobre e institucional sem emoção.
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